segunda-feira, 7 de julho de 2014

Acabou a cobrança. Chega de pressão. Torcida e imprensa dão folga para Felipão e para a Seleção. O que vier agora na Copa será aceito, aplaudido. Sem a genialidade de Neymar, o Brasil é um time comum...

Acabou a cobrança. Chega de pressão. Torcida e imprensa dão folga para Felipão e para a Seleção. O que vier agora na Copa será aceito, aplaudido. Sem a genialidade de Neymar, o Brasil é um time comum...


Teresópolis...

Neymar tem crises de choro no Guarujá ao lembrar que a Copa acabou para ele. Os jogadores estão tensos, inseguros. Sabem que perderam a maior arma técnica, o grande talento para a partida pela semifinal da Copa contra a Alemanha. A psicóloga Regina Brandão estará hoje na granja Comary para tentar dar confiança ao grupo.

Mas o paradoxo é Luiz Felipe Scolari está mais calmo. Lógico que lamenta a covardia de Zúñiga e também quer uma longa punição para o colombiano. Só que o treinador brasileiro sabe. Toda a pressão, a obrigação de vencer a Copa do Mundo não existe mais.

Pelo contrário. A torcida e a mídia brasileiras estão pela primeira vez caminhando juntas. Estão solidárias ao time. Mesmo se vierem duas derrotas nas últimas partidas da Copa. Se a equipe for a quarta entre os quatro países que decidem o Mundial.

Há um silencioso reconhecimento que não há como substituir Neymar. É um desfalque grande demais. A equipe era completamente dependente do atacante. A cobrança praticamente inexiste. É como se todos estivessem amortecidos pela joelhada de Zúñiga. Há a sensação do que vier é lucro. Ninguém se sente mais no direito de reclamar.

Mesmo com Felipão agindo a Copa toda como se ele fosse indestrutível. Houvesse feito um pacto celestial para que ele não se machucasse ou fosse suspenso. A realidade atropelou, tirou o ânimo até de protestar contra o otimismo absurdo do treinador.

Todos estão chocados. A classificação para a semifinal de uma Copa deveria empolgar o país. Mas até os jovens torcedores que atormentam os treinamentos aqui na Granja Comary perderam o entusiasmo, a alegria.

Já viram em seus computadores a despedida sofrida de que, aos 22 anos, teve o seu sonho de ser campeão do mundo em campo interrompido. Por uma pancada covarde que fraturou um osso, uma vértebra do seu corpo.

Felipão ganhou salvo conduto. Faça o que fizer é vivido o suficiente. Sabe que Belo Horizonte se prepara para tentar empurrar o time. Até os quase 700 jornalistas que não são seus amigos em Teresópolis estão compreensivos. A sério, seu trabalho foi julgado e cobrado até aqui foi vitorioso.

Aos trancos e barrancos, levou a Seleção até a semifinal da Copa. Com Neymar havia como cobrar um futebol mais organizado, as variações táticas poderiam ser mais importantes, as surpresas estratégicas sempre teriam o camisa 10 como referência. Sem ele, o restante do elenco é comum. Não há ninguém que se aproxime do repertório do garoto de 22 anos. Todos sabem disso. Até o treinador e seus companheiros. Só não falam em voz alta.

Felipão nunca teve tanta tranquilidade para trabalhar na Copa. Poderá fazer o que quiser em relação ao substituto de Neymar. Colocar Willian ou Bernard e manter o mesmo esquema 4-2-3-1. Ou decidir por um terceiro volante: Fernandinho, Luiz Gustavo e Paulinho juntos. Oscar mais adiantado. Fred e Hulk na frente. Adotar o 4-4-2.

Ou ainda colocar Henrique ao lado de Dante e David Luiz. Com Maicon, Luiz Gustavo, Fernandinho, Oscar e Marcelo; Fred (Willian) e Hulk. Surpreender com o 3-5-2.

Tanto faz. Será sempre a tentativa de remediar o irremediável. O enfraquecimento involuntário e inevitável do Brasil. Não há mais o toque da genialidade.

Felipão nunca treinou para valer o Brasil sem Neymar. Nunca houve um plano B. Se o camisa 10 tivesse sido afastado do time por cartão ou por um simples entorse de tornozelo, o treinador brasileiro seria execrado. Mereceria todos os tipos de questionamentos, críticas.

Mas a dramaticidade da joelhada violenta, traiçoeira, por trás, proibida até no MMA, isenta Felipão. Como por magia, todos ficam mais compreensivos. E precisam ser. Foi traumático tudo o que aconteceu. Até a sua saída da concentração daqui de helicóptero.

Vários jogadores também não param de chorar pela ausência do jogador mais querido do grupo. Eles não param de se comunicar com Neymar pelo grupo íntimo de whatsapp que criaram entre os jogadores da Seleção. Sua ausência virou mesmo um transtorno psicológico.

É incrível. Mas a cobrança externa e interna pelo título acabou. O presidente José Maria Marin da CBF veio na concentração para tentar animar os jogadores. Ouviu as promessas que de que o grupo ganhará o título por Neymar. Mas até ele que sonhava com este como sua última vitória como dirigente, perdeu grande parte do entusiasmo.

"Ele era uma das nossas referências. Fez com que nosso grupo ficasse numa situação de ‘perdemos algo que não queríamos perder’. Já começou o trabalho de conscientização de que em qualquer catástrofe surge a oportunidade de fazer alguma coisa diferente. É isso que vamos fazer."

Em mais uma exclusiva ao Jornal Nacional, Felipão resumiu o que significa para o Brasil perder Neymar: catástrofe. E ele está certo. Tão correto que é bom ele perceber. As cobranças efetivas da Seleção Brasileira acabaram aos 41 minutos do segundo tempo em Fortaleza. Quando a vértebra de Neymar foi rompida.

A situação triste, terrível, teve efeito colateral inesperado. Para Marin e Marco Polo, qualquer indecisão acabou. Mesmo se o Brasil for quarto colocado, Felipão terá convite para continuar na Seleção e preparar o time para 2018. Ambos consideram seu trabalho vitorioso.

Conseguiu levar esse grupo imaturo, com 17 atletas que nunca disputaram a Copa, até a semifinal. Agora sem Neymar, o que viver de verdade é lucro. O objetivo foi atingido. A campanha do Brasil na Copa foi um sucesso.

Se algo ruim acontecer nos dois próximos jogos já existe a desculpa perfeita: o Brasil não tem mais o seu camisa 10. A dependência é até maior que a Argentina tem Messi, da Holanda de Robben, da Alemanha de Thomas Müller.

O que o Brasil fizer sem Neymar estará ótimo. Será aplaudido de pé...


creator: cosmermoli
Publicado em: Sun, 06 Jul 2014 07:04:05 -0300
Ler mais aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário