segunda-feira, 7 de julho de 2014

Dinheiro de narcotráfico, Liga Pirata, empresários levando garotos para a Europa. Como o futebol da Colômbia chegou à sua melhor campanha em Copas do Mundo. Exclusiva com Gabriel Meluk...

Dinheiro de narcotráfico, Liga Pirata, empresários levando garotos para a Europa. Como o futebol da Colômbia chegou à sua melhor campanha em Copas do Mundo. Exclusiva com Gabriel Meluk...


Fortaleza...

Gabriel Meluk é um dos principais jornalistas colombianos. Chefe de Esportes do El Tiempo de Bogotá. De estilo poético, bebeu na mesma fonte de Gabriel Garcia Marques. Firme nas suas convicções. Não se furta a falar o que pensa, o que os mais de vinte anos de cobertura de Seleção Colombiana.

"Nós temos time para ganhar do Brasil. Mas não é o interesse da Fifa, da competição que o time de Scolari saia no meio da Copa. Não sejamos ingênuos. Futebol não é decidido apenas no campo.

Mas confio no melhor time que montamos na história do nosso país. Uma equipe talentosa, com um excelente técnico e com a experiência europeia. Não se assuste se acabarmos com a festa brasileira hoje."

A confiança colombiana que algo fora do comum acontecerá daqui a pouco no Castelão não tem limites. 15 mil exemplares do jornal foram impressos em espanhol no Rio de Janeiro. E estão sendo distribuídos gratuitamente aos colombianos que chegam para o jogo.

É algo histórico, inédito no jornalismo colombiano. "Viemos para o Brasil deixar nossa marca", provoca Gabriel.

Como a Colômbia pode vencer hoje?

Sendo a Colômbia. Não se intimidando com a pressão da torcida em relação do Brasil. Tendo a coragem de se assumir como grande. Esquecer da história maravilhosa da Seleção Brasileira. Esquecer da camisa. E acreditar no que está saltando aos olhos: temos no mínimo o mesmo potencial do time brasileira. Nossa equipe está até jogando bem melhor. É a melhor geração que surgiu a Colômbia já mandou para a disputa de uma Copa. Um grupo talentoso, com experiência europeia. Pela primeira vez temos três atletas que atuam no nosso país. Quatro na Argentina. E os 16 restantes na Europa.

Qual a importância do Pékerman?

Total. Temos um treinador que é muito trabalhador. Não é tricampeão do mundo sub-20 por acaso. É estudioso taticamente. Meticuloso. Poucas pessoas se recordam. Ele está invicto na Copa do Mundo. Foi eliminado nos pênaltis quando dirigiu a Argentina. E agora fez a melhor campanha da história da Colômbia. Nos trouxe para as quartas de final. Com toda a chance de derrotar o Brasil. Não falo por falar, não. Nós acreditamos que somos, no mínimo igual, ao time de Felipão.

O que há de errado no Brasil?

São duas coisas. A primeira é que o time tem apenas um craque, Neymar, que é um menino. O Brasil campeão de 2002 tinha quatro e vividos: Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo e Roberto Carlos. Isso desequilibra. Não só um jogador. Neymar é muito pouco. Todos sabemos da dependência incrível do time de Scolari dele. Além disso, o Brasil continua jogando igual, da mesma forma da Copa das Confederações. Não há variação tática. Não foi por acaso que México e Chile conseguiram travar o Brasil. Dentro de campo, sinceramente, não me preocupo. Fora o Brasil é muito mais.

Como assim?

A escalação do juiz espanhol (Carlos Velasco), por exemplo. Não gostei. Ninguém da Colômbia pode reclamar da sua escalação. Mas não tenho dúvidas que a Fifa não quer que a festa acabe pela metade. Há muita coisa em jogo. Não acredito em manipulação. Nada disso. Mas a pressão que um trio de arbitragem sofre em partidas de Copa do Mundo é absurda. Basta ver a história. Mas apesar disso estou confiante. Um árbitro pode se equivocar em um ou dois lances. Não o jogo todo.

A história do futebol colombiano daria livros maravilhosos de Gabriel Garcia Marques. Desde a década de 50 foram revoluções, como a liga pirata, o envolvimento do narcotráfico, até a fase atual com os empresários bancando o investimento nos garotos...

Realmente a história do nosso futebol é incrível. Nós não tínhamos dinheiro e nosso futebol era muito fraco em 50. Quando os jogadores argentinos resolveram fazer uma greve. Nossos dirigentes trouxeram os melhores, assim como os melhores uruguaios. Vavá e Garrincha do Brasil. A liga não era pirata. A Fifa queria que fosse porque nossos dirigentes conseguiram pagar os melhores salários. Foi um período chamado de El Dorado. Houve partidas que ficaram para a história. O Millonario de Bogotá um dos melhores do mundo, tinha Di Stéfano. Ganhou do Real Madrid, em Madrid. Fez partidas brilhantes. Até que a greve na Argentina acabou, assim como o dinheiro. E entramos em decadência.

Tudo só voltou em 1990 com o narcotráfico?

Houve alguns times e jogadores que ficaram fortes de maneiras espontânea. Mas só houve o boom na Colômbia com o dinheiro dos traficantes de cocaína. Era uma maneira de lavar o dinheiro. Os dirigentes da época ficaram surpresos com esse aporte de dinheiro. Trataram de aproveitar. Pablo Escobar e todos os grandes traficantes decidiram colocar milhões e milhões de dólares nos time. O grande beneficiado foi o América, com o cartel de Cali. Esteve entre os quatro primeiros nos anos 90 e 2000. Isso era impensável para o futebol colombiano. O Deportivo também teve sua parcela. Foi assim vice da Libertadores de 1999. Sem falar também do Cartel de Medellin. O dinheiro do narcotráfico mudou até o biotipo da mulher colombiana.

Espere um pouco, Gabriel. Biotipo da mulher colombiana?

Sim. Porque os traficantes adoravam seios grandes. E a onda se espalhou pelo país até hoje. Há um livro excelente que resume a situação. Sin Tetas Non Hay Paraiso de Jorge Franco Ramos. Sim, é isso mesmo. Sem seios não há paraíso. Hoje as meninas quando fazem 15 anos pedem de presente para os pais seios de silicone. A beleza da mulher colombiana ganhou esse aditivo que veio para ficar.

Esse período coincide com o time de Rincón, Valderrama, Higuita...

Sim, é verdade. Um timaço comandado pelo Maturana. Poderiam ter ido além. Mas faltou experiência europeia. Foram poucos que conseguiram ir para lá. E tarde. A legislação era diferente. Havia maiores restrições. Esses ídolos eram adorados pelos traficantes. Tratados com toda admiração. Ganhavam muitos presentes. E todos se vestiam como cantores de hip hop. Com cordões gigantes de ouro. Várias vezes dados pelos traficantes.

Como tudo acabou?

A influência no futebol acabou. Vários traficantes importantes foram presos, mortos. Mas na sociedade do mundo todo a força do narcotráfico continua. O carnaval do Rio de Janeiro também tem a participação dos traficantes daqui. Infelizmente é um drama da vida moderna.

Como está o futebol colombiano atualmente?

A organização e a modernidade chegaram. A Federação Colombiana acaba de inaugurar sua sede. Finalmente, depois de décadas. Há um trabalho enorme e bem feito nas categorias de base com os garotos. Vários empresários tratam de buscar meninos com talento. Um deles é o português Jorge Mendes. Empresário do Cristiano Ronaldo, do Mourinho, do Scolari. O James Rodrígues é dele, por exemplo. Por isso essa geração que disputa a Copa é europeia.

Como foi a chegada de Pékerman?

Foi incrível. Ele só está la graças a um escândalo absurdo. Hernán Darío "El Bolillo" Gómez foi para uma discoteca e acabou discutindo com uma mulher que havia levado. Acabou batendo nela, dando socos. Foi um caos. A sociedade pressionou e ele teve de ir embora. Essa surra ficou na nossa história. Não fosse por ela, Hernán estaria aqui. Leonel Alvarez passou rapidamente mas entrou em conflito com a Federação. E finalmente contrataram o Pékerman. Um treinador excelente e caríssimo. Ganha muito bem pelo que está fazendo.

Você acha que ele mudou o que em dois anos de Colômbia?

Muita coisa. Sabe por quê? Ele jogou anos e anos na Colômbia. Tem filha colombiana. Sabe como somos, temos a nossa alegria em jogar. Ele é muito racional. Trouxe a marcação, a organização. Sem tirar o prazer da essência do futebol. Não estamos fazendo a melhor campanha da nossa história na Copa à toa. Por isso estou tão confiante. Vamos enfrentar o Brasil no mínimo de igual para igual. No mínimo...

Qual é a influência da ausência de Falcão Garcia? E quem é James Rodrígues?

Foi uma tragédia no nosso país o Falcão Garcia estar fora da Copa. Mas taticamente o time conseguiu se superar. Se encaixou de outra maneira. O forte da equipe é o conjunto. Pode perceber que há variação tática no time. A falta de uma estrela obrigou a isso. O James é um garoto novo, com excelente potencial. E que desabrochou no Brasil. É tímido por ser gago, foge das entrevistas. Tem apenas 22 anos, terá um futuro brilhante. Assim como o da nossa seleção. Nossa caminhada não vai acabar hoje, não...


creator: cosmermoli
Publicado em: Fri, 04 Jul 2014 14:10:32 -0300
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