Fortaleza...
O cronômetro apontava 41 minutos do segundo tempo. Neymar chegou antes da bola que seu marcador Juan Zúniga. Como quase em toda a partida. Driblou, tabelou, se aproveitou do setor esquerdo, direito da Colômbia. Irritou, desgastou demais o lateral que atua no Napoli. Não tanto quanto poderia.
Neymar já estava atuando com dor. As pancadas contra o Chile ainda atrapalhavam. Mas ele não reclamava. Nunca iria supor pela vingança maldosa do colombiano.
O lateral sabia que não poderia roubar a bola. Aproveitou que estava no embalo e resolveu dar uma pancada no camisa 10. Dobrou a perna e acertou com toda a força seu joelho nas costas de Neymar. E a Copa do Mundo mudava para o Brasil.
"A pancada foi fortíssima. Fraturou a terceira vértebra lombar do Neymar. Não se rompe um osso facilmente. O trauma foi pesado. A recuperação infelizmente levará de quatro a seis semanas. Acabou a Copa do Mundo para ele. Não há a menor possibilidade de um milagre. Nenhuma..."
A voz desolada do médico Rodrigo Lasmar dava o tom no vestiário brasileiro. Como por encanto o Brasil ter chegado à semifinal da Copa do Mundo ficou para o segundo plano. Os jogadores se revoltaram ao saber que teriam de seguir sozinhos. Perderam o melhor do grupo por um golpe covarde, violento do colombiano.
"Pois é...O jogador deu uma pancada enorme por trás nas costas do Neymar. O tirou da Copa do Mundo e não recebeu nem uma advertência, um cartão amarelo. Nada. E aí muita gente vem e fala que o Brasil está sendo favorecido pela arbitragem. Taí a resposta."
O desabafo é do capitão do time, Thiago Silva.
"Nos nossos jogadores se pode bater, machucar e nada acontece. Tudo por causa daquele pênalti no Fred. Aquele que a imprensa disse que inventaram para o Brasil. Agora tiram o Neymar da Copa. E aí?, perguntava, irritado Hulk.
Mal a notícia se espalhava pela zona mista, os jogadores iam fechando seus semblantes. Preocupados, tensos. Todos já estavam traumatizados com a saída do jogador do campo. Ele deixou o gramado carregado pela maca. E foi direto para a clínica São Carlos, a melhor em traumatologia daqui de Fortaleza.
"Ele chorava muito. Estava desesperado. Suas dores era enormes. Esse tipo de fratura dói demais. Nós tratamos de acalmá-lo. Fizemos os exames e vimos que a terceira vértebra no processo transverso estava rompida. Mesmo depois do exame e já com a dor sob controle, ele continuou a chorar", disse o médico Rodrigo.
O motivo era óbvio. Neymar sabia que a sua Copa do Mundo havia acabado.
A princípio não haverá a necessidade de operação. O osso se regenera sozinho. Mas ele terá de ficar imobilizado por uma cinta. A princípio, o atacante quer seguirir com o grupo. Mas não há a confirmação de que poderá. Ele viajou com o time logo depois do jogo para o Rio de Janeiro. Lá ele submeterá a novos e mais detalhados exames.
Dez minutos antes da confirmação da fratura de Neymar, Zúñiga passava pelos jornalistas. Já desconfiava que tinha machucado o brasileiro. Mas não tinha noção de quanto. E tentava se inocentar.
A diferença entre os dois fisicamente é a mesma de um lutador de MMA com um jóquei.
"Foi uma jogada normal, nunca tive a intenção de fazer mal ao jogador. Quando estou em campo, faço de tudo para defender meu país, é a camisa que eu visto, mas sem a intenção de lesionar qualquer jogador. Era uma partida em que ambos queriam ganhar, e estava tudo um pouco quente, todos entrando forte, mas eles (brasileiros) também estavam fazendo o mesmo. Isso é normal. Não fui para a jogada esperando que ele fraturasse a coluna, estava defendo minha camisa, meu país. É uma coisa muito triste para um jogador, mas espero que, com a ajuda de Deus, não seja nada mais grave e que ele melhore, pois todos sabem que é um grande talento para o Brasil."
Zúñinga já estava longe quando foi confirmado o fim da Copa do Mundo para Neymar.
O choque pode ser comparado ao que aconteceu com o Brasil em 1962 com Pelé. A Seleção perdeu o melhor jogador do mundo no Chile. Logo na segunda partida. O time caminhou até o título, ao bicampeonato. A equipe era fantástica. Tinha Garrincha, Zito, Didi. Amarildo entrou no seu lugar e surpreendeu com um desempenho excelente.
O repertório da atual Seleção não é tão grande. Felipão pode colocar três volantes. Entrar contra a Alemanha com Luiz Gustavo, Fernandinho e Paulinho. Oscar seria adiantado, jogando com Fred e Hulk.
Ou então colocar simplesmente Willian na vaga de Neymar. E o esquema seria mantido em Belo Horizonte.
Luiz Felipe conseguiu que o time não chorasse de emoção. Mas não contava com as lágrimas de Neymar. Eles foram as mais primárias de um ser humano: de dor. Agora quem chora é o Brasil. Em uma partida que entrará para a história.
Marcará o jogo no qual o Brasil se classificou para a semifinal da Copa. E não houve festa. O clima na Seleção e no país era de luto. A Seleção perdia a sua maior esperança de fazer o time hexacampeão do Mundo.
O semifinalista Brasil chora por Neymar. Exatamente como chorou por Pelé em 1962. A sensação de desamparo é a mesma. Só que sem Garrincha. Ou mesmo um Amarildo para colocar contra a Alemanha...
creator: cosmermoli
Publicado em: Fri, 04 Jul 2014 22:34:10 -0300
Ler mais aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário