sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A redução da pena de Petros, do Corinthians, desmoraliza a justiça, o STJD. Retrato do Brasil. Cadeia e punições são reservadas para os pobres, que não podem pagar advogados competentes...

A redução da pena de Petros, do Corinthians, desmoraliza a justiça, o STJD. Retrato do Brasil. Cadeia e punições são reservadas para os pobres, que não podem pagar advogados competentes...




"Só eu e a minha família sabemos o que nós sofremos. Eu tenho uma boa índole, tive ótima educação, com princípios. Graças a Deus tudo isso acabou e a minha carreira vai seguir..." Petros, ontem no Itaquerão. Ele foi o autor do gol na importantíssima vitória do Corinthians contra o Atlético Mineiro no Itaquerão. Sim, ontem de manhã o volante estava suspenso por seis meses. Os auditores do STJD haviam considerado que o corintiano havia agredido o árbitro Raphael Claus no clássico contra o Santos. E de forma unânime. À tarde, o tribunal pleno do próprio STJD reduziu a pena para apenas três partidas. A agressão virou ato contrário à disciplina. Houve auditor inclusive que acreditava na sua total inocência. Como a pena só ficou para ser publicada hoje, ele pode jogar e marcar o gol corintiano ontem. As situações precisam ser separadas. Que o Petros tem uma boa índola, ótima educação, família ilibada é uma coisa. Agora que em um momento de irritação, ele deu um empurrão por trás no árbitro Raphael Klaus é outra. A situação é clara, transparente. A legislação esportiva brasileira, não. Se desmoraliza a cada dia. O advogado corintiano João Zanforlin não confessará nem sob tortura, mas ele já se consideraria o mais inteligente dos homens se conseguisse reduzir a sentença para "ato hostil". E Petros ser suspenso por 60 dias. Mas, não. Os auditores do pleno do STJD estavam bonzinhos demais. Zanforlin fez sua função e garantiu que a trombada por trás não passou de um "desrespeito". A tese foi comprada com entusiasmo. E na sua maioria, os auditores reduziram drasticamente a pena. Os seis meses passaram a apenas três jogos. Como o Corinthians havia entrado com o "efeito suspensivo", que impedia que a primeira punição fosse cumprida enquanto o julgamento final não acontecesse, Petros pôde jogar ontem e marcar o gol que garantiu importantíssimos três pontos aos corintianos.

Cada vez mais fica claro que o clube mais importante, que tem dinheiro para manter os melhores advogados é privilegiado no Brasil. A impressão que passa para quem acompanha futebol é que a justiça esportiva vale para os pequenos. Nos julgamentos onde não há pressão da mídia. Nem equipes milionárias estão envolvidas. O que acontece na justiça esportiva é o retrato da justiça comum no Brasil. Já virou costume os brasileiros responderem sem pensar "cadeia é para os pobres". "O preso no Brasil é pobre, com baixa escolaridade, predominantemente negro. Ou seja, o preso brasileiro faz parte de uma minoria política, sem voz, sem vez na sociedade. Quem tem melhores condições sócio-econômicas e, principalmente, pode pagar um bom advogado, ou ainda, tem recursos para corromper a polícia, não vai preso, exceto em casos muito excepcionais. Aqueles casos que acabam por fazer crer que o sistema funciona pra rico e pra pobre. Mas, sabemos que não é assim. O sistema de justiça criminal está aí pra criminalizar a pobreza. Apenas isto. Não nos enganemos." A análise é da cientista política Julita Lemgruber. Ela falou para o consultor Morris Kachani, no blog que mantém na Folha de São Paulo. Petros e o Corinthians não podem ser acusados de ser os únicos beneficiados. Os jogadores importantes de clubes grandes quando precisam enfrentar os tribunais esportivos neste país vão tranquilos. A legislação esportiva dá margem há inúmeras interpretações. Vai depender da competência do advogado contratado encaixar a que interessar ao seu cliente. João Zanforlin é um dos mestres do direito esportivo no país. Já conseguiu reverter várias situações terríveis na história do Corinthians. Mas sentiu na pele o que é defender uma equipe com menos prestígio nos tribunais. No ano passado, quando tentou salvar a Portuguesa do rebaixamento. Do outro lado, os interessados eram o Fluminense e o Flamengo. O clube do Canindé que foi melhor em campo do que o das Laranjeiras está na Segunda Divisão... O que se lamenta nesta manhã de sexta-feira não é pela redução drástica da pena de Petros. Os três pontos que ele garantiu ontem, mesmo teoricamente suspenso, para o Corinthians. Mas a derrota evidente do sistema judiciário esportivo do país. O espelho que ele se tornou da sociedade brasileira. É que consolida a cada julgamento a sensação de que a lei é diferente para os poderosos, para os ricos. O mesmo STJD transformar seis meses em apenas três jogos para o corintiano foi uma piada sem graça. O próprio tribunal se desmoralizou mais uma vez perante a opinião pública. O descrédito só aumenta. O choro de alívio de Petros com a redução drástica de sua sentença só aconteceu porque ele joga no Corinthians. Se estivesse no Democrata, Fluminense de Feira de Santana, no Boa Esporte, no Penapolense por onde passou, já saberia. Ficaria seis meses sem entrar em campo. Mas como está em um clube grande, rico, capaz de pagar um advogado excelente e caro como João Zanforlin, terá apenas três jogos de punição. Ao marcar o gol que definiu a partida fundamental na caminhada do Corinthians, Petros se ajoelhou e apontou para o céu, agradecendo a Deus por estar em campo. Pela "justiça divina". Ele estava enganado. Não teve nada de "divina" a sua liberação. Ela foi apenas o retrato do Brasil. Onde a legislação trata muito melhor os ricos, os poderosos. E encarcera os pobres, desvalidos...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 12 Sep 2014 07:49:57
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