segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Aranha não foi 'escroto' ou é um 'm...' Nem Patricia é 'menina' ou 'vítima'. O intelectual Eduardo Bueno não pode se deixar dominar pelo gremista Peninha na tevê. Racismo é algo muito sério...

Aranha não foi 'escroto' ou é um 'm...' Nem Patricia é 'menina' ou 'vítima'. O intelectual Eduardo Bueno não pode se deixar dominar pelo gremista Peninha na tevê. Racismo é algo muito sério...




"O Aranha se comportou como um escroto, não estou falando no momento da denúncia, calma, estou falando antes. Não estou dizendo que ele foi escroto por denunciar, pelo amor de Deus. Ele fez muito bem em denunciar, estou dizendo o que antecedeu a revolta da torcida. Ele ficou quatro minutos, se recuperou e depois caiu de novo. "O maior negro que existiu Nelson Mandela ficou preso e conseguiu perdoar. Se essa menina viesse aqui na empresa agora e pedisse emprego, eu daria emprego para ela agora. Quer me chamar de racista? Eu estou cagando. "Minha filha namorou negro, eu vou beijar um negro aqui no ar (Hélio de la Peña). Eu sou racista beijando esse negro. A menina (Patricia Moreira da Silva) virou vitima absurda. "Ela pediu perdão e ele não deu. Pra mim (o Aranha) é um merda que nunca ganhou nada." Chamar Aranha de "escroto e merda" e dizer está cagando para quem o chamar de racista. E garantir que Patricia Moreira da Silva, a mulher de 23 anos que chamou o jogador de macao é "vítima". O caso Aranha foi capaz de fazer o inteligente historiador Eduardo Bueno piorar tudo em rede nacional. Ele é um dos participantes do programa "Extra-Ordinários" do Sportv, canal a cabo da TV Globo. Ao lado de Maitê Proença, Chico Sá e Helio de la Peña, Eduardo conversa sobre futebol, cinema, teatro e história. Ficou famosa a declaração de Peninha, como Eduardo é conhecido, durante a Copa do Mundo. "A Holanda juntou o útil de ocupar a área açucareira do Brasil, porque todo o açúcar era refinado na área rica do Brasil. aquela bosta lá do Nordeste." Diante do espanto geral de seus companheiros, ele completou. "Isto é piada." Lidar com racismo, preconceito não é piada. Dizer que um atleta profissional teve comportamento de "escroto", porque fez cera. Ao para milhões de pessoas ouvirem é incompatível. Alguém tão inteligente precisaria perceber que, sem querer, está justificando a raiva dos gremistas. Em uma extrema análise, quase que liberando para os torcedores reagirem diante da suposta "escrotidão". Patricia Moreira da Silva escolheu chamá-lo de "macaco". Peninha, como é conhecido Eduardo Bueno, errou de novo. Mal informado, não sabia ou não quis saber que Aranha havia perdoado Patricia. Só não queria encontrá-la. Muito menos fazer um show para as tevês, dando um abraço em quem o ofendeu. O chamou de "macaco". É um direito dele.

Eduardo não respeita e mistura as coisas. O chama de merda por não perdoá-la e por não ter ganhado "nada" na carreira. Um erro absurdo. O historiador precisava saber que Aranha foi campeão da Libertadores da América, venceu a Recopa Sul-Americana, o Campeonato Paulista, o Campeonato Mineiro. Isso é nada? Peninha é um historiador, jornalista, tradutor muito conceituado. Juntos Viagem do Descobrimento, Náufragos, Traficantes e Degredados e Capitães do Brasil venderam quase 500 mil livros. Traduziu o clássico obrigatório beat de Jack Kerouac. Comandou um programa na TV Educativa voltado para adolescentes. Se chamava "Pra Começo de Conversa". Tratava de literatura, incentivava os jovens a ler. Eduardo Bueno também escreveu livros sobre a Caixa Econômica Federal, a Agência de Vigilância Sanitária, a Confederação Nacional de Indústria, a empresa Kimberly & Clark. Assumiu a biografia autorizada do grupo Mamonas Assassinas. Em Porto Alegre seu amor ao Grêmio é mais do que conhecido. Escreveu o livro "Grêmio, nada pode ser maior". E foi também o roteira de "Inacreditável. A Batalha dos Aflitos." O filme descreve a volta do time gaúcho da Série B de 2005, vencendo o Náutico, em Pernambuco, com apenas oito jogadores.

Eduardo Bueno é um dos homens mais inteligentes do país. Não tem o direito em rede nacional se deixar contagiar pelo que sente por um time. É preciso responsabilidade para quem é um dos ídolos intelectuais da juventude. Principalmente em Porto Alegre é cultuado, com toda razão, por adolescentes e por adultos que se acostumaram a entender melhor o Brasil graças a ele. Não é possível que coloque tudo a perder falando sem pensar em uma questão tão delicada. Tão sério. Não pode se deixar dominar pelo torcedor. Antes de se deixar levar pela irritação diante da eliminação gremista da Copa do Brasil é preciso raciocinar. Não ocorreu por acaso. Alguns torcedores na geral comparavam um jogador negro a um macaco. O fato de Aranha fazer cera não dá liberdade para essa atitude racista. Patricia Moreira da Silva não é vítima coisa nenhuma. Para começar, não é uma menina como Peninha insiste. Ela é uma mulher de 23 anos. Aos 23 anos, alguém já sabe muito bem o faz. O que fala e, principalmente, o que grita. Chico Sá, Maitê Proença e Eduardo de la Peña o contiveram. O seguraram. Perceberam o erro que estava cometendo. Quando ele chamou o Nordeste de "bosta", houve uma revolta generalizada. Principalmente nas redes sociais. Ele foi duramente criticado. Peninha se defendeu no programa mostrando toda sua erudição. Dizendo que só aceitaria discutir com quem havia lido pelo menos 40 livros sobre o Nordeste, que ele tanto amava. Citou vários e vários autores. A produção do programa aplaudiu a resposta de Eduardo Bueno. O que Peninha precisa entender o peso de suas palavras. Um escritor, jornalista, roteirista, tradutor, apresentador de programa para adolescentes precisa ser muito responsável. Ainda mais em uma rede de tevê. Por mais que ele ame o Grêmio, não há cabimento classificar Aranha como "escroto", "um merda que não ganhou nada". Vitimizar uma mulher que grita "macaco" a um brasileiro negro.

Por mais erudito que seja, Eduardo Bueno só conseguiu acirrar os ânimos. Terá de se justificar. Voltará a falar que não é racista, que sua filha namorou um negro, vai beijar o negro mais próximo. Mostrar quantos livros escritos por negros ele leu. As biografias fantásticas que conhece. Mas tudo isso não apaga o que falou. Coloca a perder um trabalho intelectual belíssimo, uma biografia admirável a troco de um fanatismo vazio, que só piora a situação mais do que delicada. O que não pode acontecer é que houve no Maracanã. Quando parte da torcida flamenguista generalizou, chamou os gremistas de racistas. E alguns até jogaram latas de cerveja em quem foi torcer para o time de Luiz Felipe Scolari. O ideal seria expor algo construtivo. Não pejorativo. "Me emociono sempre que falo de Grêmio, é difícil não fazê-lo. Choro até ao ouvir o hino desse clube maravilhoso", já disse várias vezes Peninha. Nesse momento tenso, o historiador Eduardo Bueno deveria se impor ao torcedor Peninha. Principalmente em uma rede de televisão. Para o bem do futebol. Será o melhor para o país que ele tanto ama. E conhece como poucos. Não adianta falar depois que tudo foi brincadeira. Racismo precisa ser levado muito a sério. Ainda mais para quem conhece tanto o sofrimento dos negros na história do país. Eduardo Bueno precisa rever a "menina" e "vítima" Patricia gritando "macaco" para Aranha. Vai mudar seus conceitos...



Imagens ESPN Brasil

Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 08 Sep 2014 11:37:53
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