sábado, 26 de julho de 2014

A raiva do pentacampeão Felipão por ter acreditado em Marin. Em Marco Polo. Em Parreira. No título da Copa das Confederações. No 4-2-3-1. Em Tirone. No Palmeiras. Em Aldo Rebelo. Em Fred. Murtosaaaaaaaaa!!!!!

A raiva do pentacampeão Felipão por ter acreditado em Marin. Em Marco Polo. Em Parreira. No título da Copa das Confederações. No 4-2-3-1. Em Tirone. No Palmeiras. Em Aldo Rebelo. Em Fred. Murtosaaaaaaaaa!!!!!




Luiz Felipe Scolari reclina o encosto da poltrona no avião da Varig. Não se importa com a baderna dos jogadores cantando, comemorando o pentacampeonato. À sua frente, Ricardo Teixeira descansa os pés em uma caixa metálica. Dentro dela, a taça de campeão do mundo. "Essa arrogância nunca vai passar. Tomara que esse cara nunca chegue a presidir a Fifa. Para o bem do futebol", pensa. O técnico olha para o lado e vê Ivete Sangalo cantando com Ronaldo, Ronaldinho, Roberto Carlos. Edílson dança. Vampeta está abraçado a uma garrafa de uísque. As aeromoças, eufóricas. Até os 'babacas' dos jornalistas estão contentes. Felipão nunca sentiu tanto orgulho. Começa a projetar o futuro. Chegou a hora de alçar vôos internacionais. Os contatos com Jorge Mendes, maior empresário da Europa, estão amarrados. O desejo é treinar a Itália, terra dos avós. Mas Portugal também é uma ótima. Ainda mais que vai sediar a Eurocopa. A hora é de sair por cima. Para nunca mais voltar. Primeiro se livrar do prepotente Teixeira que o expôs à raiva da população carioca que exigia Romário. O fez sair da sede da CBF sem um segurança sequer para enfrentar os torcedores. "Até peteleco eu tomei. Agora ele quer me pagar o dobro dos R$ 300 mil que ganho. Não fico nem por um milhão. Já falei para a Olga, Seleção nunca mais. Vou deixar saudade." O sono começa a chegar. As três taças de champanhe começam a fazer efeito. A última imagem que suas retinas registram é Murtosa cantando o refrão "E vai rolar a festa", pela centésima vez. Desafina e samba no corredor do avião. Aí não dá. O melhor é mesmo fechar os olhos. E dorme completamente. Ao abrir os olhos, ele não está mais no avião que volta do Japão para o Brasil. Está em pé com o agasalho da Seleção, dentro de um estádio novo, remodelado, que custa a reconhecer. É o Mineirão. Atrás dele, sentados estão Murtosa e Parreira. Parreira? Vê um grupo de jovens jogadores desesperados no banco. E um time com a camisa amarela abatido, desnorteado. Vê torcedores chorando. Do outro lado, percebe o treinador rival fazendo gestos de calma. Pedindo para seu time tocar a bola, parar de fazer gols contra o Brasil. Afinal, que equipe é essa com a camisa estilizada do Flamengo? Com jogadores de parecem decatletas? Pera aí, o distintivo revela. É a Alemanha. "Nossa, quanto será que está o jogo? Três, quatro a um? Será que estamos perdendo feio?" Murtosa elogia. "Ainda bem que eles pararam. 7 a 1 já está bom. Como esses alemães são dignos", elogia. Como assim? "Eu sou o técnico da pior goleada da história do futebol brasileiro? Um time meu perdendo de 7 a 1 e eu aqui, calmo? Onde estava com a cabeça que não joguei o Murtosa em cima do bandeira, parei a partida quando estava 2 a 0? Joguei Estou com onze em campo. Ninguém foi expulso? Nem deu um pontapé, todos deixam os alemães tocarem a bola como se estivessem em um coletivo. Se aquele técnico alemão de cabelo de chapinha olhar para mim com dó novamente, dou uma porrada nele. E isso é Copa do Mundo dentro do Brasil. Não é possível! Vou acabar com toda a minha moral que consegui no Japão com o penta. Como vim parar nesta roubada?"

Dentro do sonho, a memória retorna com uma velocidade incrível. Como em um filme em rotação acelerada. Se percebe rico, milionário. Dono de metade de Canoas. Prédios e mais prédios em Goiás. Dinheiro bem investido. O filho Leonardo casado com uma portuguesa, morando em Lisboa. Fabrício já está na faculdade de Administração. Já tenho 65 anos. E ainda não larguei essa história de futebol. Pior, fiz o que havia jurado que não fazer: voltar a dirigir a Seleção brasileira. Como é que o Murtosa e a Olga me deixaram fazer isso? Felipão não acredita na sequência de acontecimentos. A mobilização que provocou em Portugal. O vice para a Grécia na Eurocopa. O bom quarto lugar em 2006. O fracasso no Chelsea. "Maldita panelinha do Drogba." Uz...o quê? Uzbequistão que o Rivaldo arrumou. Bom dinheiro e mesma coisa que trabalhar em Marte. "Nada pode ser pior do que isso", aposta. "Não...Palmeiras, não...Com o Arnaldo Tirone ainda. Por que não tentei logo o suicídio de uma vez?" E ganhei a Copa do Brasil com Betinho, Valdivia... Mas paguei por priorizar uma competição com esse time fraquíssimo. Estava no caminho do rebaixamento, quando o Tirone me demitiu. O Pituca, não é possível. Ainda bem que é só um pesadelo."

Depois se vê muito amigo do ministro Aldo Rebelo. O que frequenta as festas na Mancha Verde. Sabe que Teixeira foi exilado. Marin está no comando da CBF. E logo se livra de Mano Menezes. Oferece a chance de comandar o Brasil na Copa do Mundo de 2014. Se enxerga com o ego ferido, por ter empurrado o Palmeiras à Segunda Divisão. Seria a oportunidade de dar uma reviravolta na carreira. "Ah...por isso que voltei para a Seleção. Mas estava errado. Não deveria ter aceitado de jeito nenhum. O salário é estupendo. R$ 900 mil. Mas não eu não precisava. Já estava rico. O xarope do Murtosa e a Olga me pagam. Deveriam ter me internado, não me deixado aceitar. Pior, eu estava acreditando em cada palavra do Marin. Gente...Endoideci de vez..." Felipão vê a Copa das Confederações vitoriosa. Sente a paixão dominar o seu corpo. Só tem pensa, respira até na hora do churrasco, espalha os pedaços de carne no 4-2-3-1. O esquema tático perfeito, que os deuses gregos mandaram do Olimpo para a Terra. Se sentiu como o único treinador da face da Terra a ter esse privilégio. Mesmo passando um ano, ninguém conseguiria descobrir um antídoto. "Se bem que achei a Espanha meio estranha. A Itália também me passou uma impressão de decadência. Assim como o Uruguai pareceu envelhecido. Ah, mas deve ser impressão. Nós brasileiros somos demais. Nascemos para ganhar. O mundo tem de ficar de joelhos. Como não tremer diante da nossa camisa. Vamos vingar Barbosa e o time de 1950." Antes da Copa tem o que fazer. "Dezenas de propagandas. Só perco para o Neymar. Nunca vi tanto assédio. Todos querem me mostrar anunciando seus produtos. Vou aceita, ué? Que mal tem. Inclusive há algumas publicidades já garantidas se vier o título. Assim garanto o futuro dos meus tataranetos. Porque os meus filhos, netos e bisnetos já têm o pezão de meia. Mas não posso esquecer os tataranetos." Felipão acreditou mesmo ter nas mãos um grupo predestinado. Empurrado pelas vozes de milhares de torcedores cantando o hino. "Só eu tenho o Neymar. E nada de mal vai acontecer com ele. É preciso ter fé. Não vou perder tempo com plano B. Imagine se a Argentina tinha plano B para o Maradona em 1986...A França para o Zidane em 98. Eu para o Ronaldo em 2002. Os craques têm proteção divina. Não há porque perder tempo. Deixar o time inseguro. Vamos com ele do início ao fim da Copa. Imagine se os árbitros não vão proteger o craque do time anfitrião."

"Nossa, que sufoco contra o Chile. Esse argentino careca, o Sampaoli, arrebentou com meu time taticamente. Bola no travessão no último minuto da prorrogação. Meus jogadores não param de chorar na decisão por pênaltis. Tenho de levantar meu capitão do chão, desesperado. Nada pode ser pior do que isso. Nossa...O Neymar quebrou a vértebra contra a Colômbia. Não joga mais a Copa. Me tirem daqui. Olga? Murtosaaaaaaaa?!" "É mesmo a Alemanha pela frente. Não tenho plano B. Nunca treinei sem o Neymar. Há mais de 800 jornalistas observando tudo o que eu faço nessa granja Comary. Vou usar quatro times diferentes. E entro com um para surpreender. Não interesse se usar a equipe com o Bernard apenas por dez minutos. Dá para ganhar dos alemães que atuam juntos há oito anos. O Bernard tem o número 20, o do Amarildo na Copa de 62, quando substituiu o Pelé. Futebol não tem lógica. Vamos no carisma. O Paulo Paixão está jogando um pouquinho de sal grosso no gramado, só para garantir. Agora sim, ninguém nos segura." "7 a 1. Agora entendo tudo. Percebo como vim parar dentro do maior vexame da história do futebol brasileiro. Mas graças a Deus, o Marin e o Marco Polo me garantiram depois que o Neymar se machucou. Fosse qual fossem os resultados das semifinais, finais ou até a disputa do terceiro lugar, vou continuar na Seleção. O Aldo Rebelo me falou para confiar cegamente no Marin e no Marco Polo. "Tenho certeza que mais uma vez darei a volta por cima. Sou o treinador pentacampeão do mundo. Ninguém ganhou a Copa depois de mim. Mas para falar bem a verdade, acho que não quero correr esse risco. Afinal, com esse 7 a 1 também expus o governo Dilma. 2014 é ano de eleição. Não sei, estou com um pressentimento que o Marin, o Marco Polo e o Aldo Rebelo podem não me apoiar como eu acredito. Prefiro confiar, não tenho saída. Se me largarem na mão, o que será da minha carreira? Meu sonho de dirigir uma grande seleção na Copa de 2018? Não vão fazer isso comigo."

Mas de repente seus olhos se abrem. Ele vê Vampeta sentado no seu colo. Os outros jogadores e Murtosa estão rindo. Felipão abre um sorriso enorme. Feliz, abraça o volante embriagado e lhe tasca um beijo na bochecha. Todos sorriem, aplaudem. Daí o treinador se levanta. Caminha na direção de Murtosa. O agarra pelo pescoço e o tira do chão com ódio. O chacoalha. "Você, Baixinho, vai me prometer que nunca me deixará acreditar no Drogba, no Tirone, no Parreira. No 4-2-3-1. No Fred. No Aldo Rebelo, no Marco Polo, no Marin. Principalmente neste tal de Marin. Nunca, ouviu bem? Nunca..." Felipão o coloca no chão e vira as costas. Murtosa está chocado, não entende nada. Mas levanta os ombros, olha para os jogadores assustados. "O Gringo tomou muita champanhe. Deixa para. Vamos lá, gente. Todo mundo cantando comigo. Acorda aí, Edílson. 'E vai rolar a festa...'"




Autor: cosmermoli
Publicado em: Sat, 26 Jul 2014 09:33:24 -0300
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