sábado, 6 de setembro de 2014

A vitória contra a Colômbia mostrou que Dunga mudou a alma da Seleção. O time é muito mais competitivo. Mas também dá mais pontapés, pressiona o árbitro. É movido ao rancor pelos 7 a 1 da Alemanha...

A vitória contra a Colômbia mostrou que Dunga mudou a alma da Seleção. O time é muito mais competitivo. Mas também dá mais pontapés, pressiona o árbitro. É movido ao rancor pelos 7 a 1 da Alemanha...




Um time mais competitivo, responsável, protegido, sério. Assim é o Brasil de Dunga, que venceu a Colômbia por 1 a 0 ontem em Miami. O treinador trabalhou justamente o ponto mais fraco, responsável pelos vexames do time de Felipão na Copa: o poder de marcação, compactação, laterais irresponsáveis. Acabou a história de time com a defesa, meio de campo e ataque distantes. O desejo será acabar com o espaço para o adversário. A imagem da Alemanha goleando como se treinasse, em plena Copa, não sai da retina de ninguém. Principalmente quem fez parte daquele grupo humilhado. O placar de 7 a 1 está tatuado na pele desses jogadores. " Nosso treinador é um cara que gosta de ganhar sempre, e isso é o que ele vem demonstrando para a gente", resumiu Neymar. "O time teve determinação, raça, vontade", completou. Na preleção, antes de o time entrar para campo, o técnico foi direto. Falou da própria experiência. Deixou claro que ninguém mais foi humilhado no futebol brasileiro do que ele. Lembrou que a imprensa brasileira o escolheu como símbolo da derrota na Copa de 1990. Ele estava estampado nas capas das principais revistas e jornais. A derrota da Seleção de Sebastião Lazaroni no Mundial da Itália foi até batizada. Virou "Geração Dunga". O treinador revelou o quanto ele, seus familiares e amigos íntimos sofreram com a humilhação. Ele compara com o que os jogadores sentem em relação aos 7 a 1 da Alemanha. Dunga disse que ele conseguiu reverter a situação. Usou e, utiliza até hoje, o sofrimento que passou e fez as pessoas que ama passar. Virou combustível para sua reviravolta pessoa. A forra veio quando o Brasil foi campeão do Mundo em 1994. Foi o único capitão da história a levantar o troféu falando todos os palavrões possíveis. Ele mostrava a taça e desabafava. "Aí para vocês, seus filhos da ...", se referindo aos jornalistas. Enquanto as autoridades estrangeiras aplaudiam, o então presidente da Fifa, João Havelange disfarçava a tensão. Ele era o único que compreendia os palavrões do capitão brasileiro.

É essa raiva das críticas pelo fracasso que o técnico quer ver nos jogadores que sobreviveram ao vexame do Mineirão. jPor isso nada de choro ontem na hora do hino nacional. A proibição de selfies. E Neymar capitão. O técnico que o mais talentoso jogador dando o exemplo. Lutando e se preocupando só em jogar futebol. Com gana e rancor. Chega de apanhar calado. Não há mais lugar para bonzinhos no time. A mensagem foi muito bem entendida. Os colombianos bateram, mas também conheceram as travas das chuteiras brasileiras. Não houve omissão em momento algum. Ninguém deixou de correr por um instante sequer. Com e sem a bola. Os árbitros também não terão sossego. O pobre canadense David Gantar pagou por sua insegurança, sua incompetência. Dunga já o conhecia do amistoso entre Brasil e Honduras, quando Neymar foi caçado em campo. Mandou seus jogadores o pressionarem, reclamarem. Ele também atormentou quanto pôde Gantar. O juiz ficou perdido em campo. As partidas da Seleção serão daqui para a frente um "inferno" para os árbitros. Foi apenas a primeira partida do retorno de Dunga. Ele só teve tempo para três treinamentos. Mas já passou aos atletas o que eles precisam fazer. A proposta mudou radicalmente. Como na primeira vez que passou pela Seleção, o técnico gosta de montar o time para contragolpear em velocidade. O técnico não tem como referência grandes times que vestiram a camisa amarela, como, por exemplo, o de 1982. Dunga não quer toque de bola. O treinador brasileiro quer é grande poder de marcação contra-ataques com muita velocidade. Dunga não está nem um pouco preocupado em fazer a Seleção trocar passes até cansar o adversário. E quer é rapidez, objetividade e muita movimentação. Tanto que abomina a chance de o Brasil ter um centroavante parado na área. Como aconteceu com Fred no Mundial. Isso para Dunga é fazer seu time atuar com um a menos.

O 4-3-2-1 pode até acontecer. Mas não será como com Felipão, fixo, parecendo pebolim. A Seleção mostrou contra a Colômbia dois volantes fechando a intermediária brasileira: Luiz Gustavo e Ramires. E um meia que foi mais volante do que meia: William. Daniel Alves nem foi chamado e Marcelo viu o jogo todo no banco. Maicon e Felipi Luiz são os novos titulares das laterais porque marcam, fecham as beiradas do campo. Não são alas ou pontas com Felipão. A irresponsabilidade na marcação nos flancos custou caro demais na Copa. Oscar e Tardelli também correram o que puderam para compactar o time. Blocado dessa maneira os contragolpes adversários ficam muito difíceis. Além da licença poética de Dunga para as faltas, entradas duras nos adversários. Carrinhos, empurrões, trancos. Sem deslealdade, mas marcação firme, dura, rígida. Como era Dunga quando jogava futebol. Embora também tenha responsabilidade em cercar os volantes adversários que saem para o jogo, Neymar fica do meio de campo para a frente. É a referência ofensiva do time. Não como Fred ficava no Mundia, como um cone de trânsito. O jogador do Barcelona fica muito mais próximo. Não enfiado na área. Mas do meio de campo para a frente. Leve, habilidoso e muito veloz, Neymar sempre está com fôlego para puxar contragolpes. O Brasil de Dunga é muito menos plástico, bonito de assistir. É competitivo, brigador. Foge à característica técnica que fez o Brasil conhecido. O treinador sempre afirma que "jogar bonito" nunca levou o país a nada. E nos cinco títulos que conquistou, o que prevaleceu foi a competitividade.

Em 1958 e 1962, o time mostrou ao mundo que o meio de campo era lugar para mais um jogador marcando: Zagallo. O Brasil começou com o 4-3-3 nas Copas. A maioria esmagadora dos times usava o 4-2-4. Em 1970, justamente esse jogador a mais no meio virou o treinador. E fez o Brasil atuar no 4-4-2, ganhando o Mundial nos contragolpes fulminantes. Em 1994, Parreira montou o time mais competitivo e de futebol mais feio. Muitas vezes a Seleção se espalhava em campo no 4-5-1, com Romário desequilibrando na frente. Mas o Brasil muito protegido atrás. No título de 2002, Felipão tinha Edmílson, Gilberto Silva e Kléberson. Três volantes à frente da zaga, liberando Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo para servir Ronaldo. Um 3-5-2 variando já para o 4-3-2-1. Ou seja, na visão de Dunga, o espetáculo nunca levou a Seleção a nada. Ele tem ódio de quem celebra a Seleção de 1982. Time talentoso, mas que para ele irresponsável defensivamente. Não perdoa a equipe de Tele Santana ser lembrada com muito mais reverência do que a de 1994, campeã mundial. O rancor empurrou a vida de Dunga. Ele quer que seja o combustível para o time que herdou de Felipão. A tática foi também usada em 2010. Se não fosse por Júlio César e Felipe Melo, poderia ter dado certo. Agora com uma geração mais nova e ainda à procura de identidade, o treinador fará de tudo para impor esse traço característico de sua personalidade. O rancor. A raiva que os jogadores sentiram depois dos 7 a 1 estará em cada amistoso. Esperto, o treinador implodiu a ordem de Marin. Nada de cota entre 30% a 20% nas convocações para a Seleção Olímpica. Ele sabe o quanto precisa de vitórias. Até para sobreviver no cargo. Dunga só viu um caminho. Velho conhecido seu. O Brasil jogando com muita vibração, intensidade, velocidade e fundamentais pitadas de raiva, rancor. Assim ele sonha conquistar a Copa em 2018. Com Neymar levantando a taça e gritando todos os palavrões que aprendeu na vida. Os russos, que não entenderiam uma palavra, aplaudiriam de pé. Assim como os americanos fizeram em 1994...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 06 Sep 2014 12:51:38
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