sexta-feira, 12 de setembro de 2014

É preciso separar as coisas. Os vândalos que tentaram incendiar a casa de Patricia Moreira precisam ser presos. Mas ela não virou vítima. Ainda tem de ser punida por chamar Aranha de 'macaco'...

É preciso separar as coisas. Os vândalos que tentaram incendiar a casa de Patricia Moreira precisam ser presos. Mas ela não virou vítima. Ainda tem de ser punida por chamar Aranha de 'macaco'...




O que aconteceu pode ser resumido de maneira simples. Uma atitude racista teve como resposta o vandalismo. A casa de Sandra Moreira da Silva acabou atacada na madrugada desta sexta-feira. Um coquetel molotov foi atirado na parte de fora. Atingiu um banco, queimou o assoalho. Ele não explodiu mesmo assim causou estragos. Os vizinhos perceberam as labaredas e as apagaram. A parte de dentro de sua residência não foi atingida. Ninguém estava na casa. Desde a partida contra o Grêmio, Sandra e sua família não moram mais lá. Estão vivendo com parentes. "Vivendo de galho em galho", como resumiu a torcedora. Ninguém mais voltará a morar nela. Já foi decidido que a residência será alugada. Ninguém deverá nem voltar ao bairro. Há a chance até de a torcedora e seus parentes mais próximos deixarem o Rio Grande do Sul. Patricia já perdeu seu emprego de auxiliar de odontologia. Seu advogado, Alexandre Rossato, confirmou que a casa já havia sido apedrejada assim logo após a partida entre Grêmio e Santos. Patricia foi filmada pelas lentes da ESPN Brasil gritando "macaco" para o goleiro Aranha. No estádio do Grêmio, vários outros jogadores imitavam macacos com gestos e sons. Todos endereçados ao jogador negro santista. Depois do apedrejamento à casa, Patricia ameaças de morte e de estupro chegaram no seu celular. Até que ontem houve o coquetel Molotov. "Na verdade não foi incendio, e sim um ato de vandalismo. Atearam fogo em, provavelmente, um coquetel Molotov, e arremessaram na casa. Não chegou a pegar, mas poderia ter sido bem pior", disse Rossato nas rádios de Porto Alegre. O que está acontecendo é absolutamente previsível. Patricia foi muito exposta. Por culpa dela mesmo. A cena dos gritos de macaco em direção a Aranha foi pesada demais. Simbólica. Teve um peso fundamental no julgamento do STJD que excluiu o Grêmio da Copa do Brasil. Torcedores radicais gremistas não a perdoam. Negros no Brasil todo ficaram revoltados com ela. Ativistas anti-racistas também. Ou seja, embora tenha tido uma atitude de vilã, Patricia e tudo que a cerca viraram alvos em potencial. Mas a Brigada Militar deveria estar vigiando sua casa. Assim como deveria ter usado o seu serviço de inteligência para caçar quem fez as ameaças por celular. Todos estão soltos. São criminosos da pior espécie: covardes.

Depois de dar um depoimento à imprensa de 61 segundos e ir para o programa da Globo, Encontro com Fátima Bernardes, Patricia continua escondida em Porto Alegre. A polícia reúne ainda provas para o inquérito. Ela já foi ouvida e não teve como negar ter gritado "macaco". Pediu perdão a Aranha, jurou não ser racista. Confessou que acabou levada pela "emoção do momento". Só que as imagens da ESPN Brasil são nítidas demais. Os gritos de "macaco", "macaco", são revoltantes. A acusação que deverá responder é a de injúria racial, com pena prevista entre um ano e três de reclusão. Como não tem antecedentes não deverá ser presa. No máximo prestar serviços à comunidade. Tudo precisa estar bem claro e diferenciado. Patricia errou e pagará por isso. Dentro da legislação do país. Não é vítima. Tem 23 anos sabia muito bem que estava chamando um jogador negro de macaco. Isso nada vai mudar. Outra situação é sofrer ameaça de morte, de estupro. Ter a casa da família apedrejada e vandalizada, com um coquetel Molotov que, por sorte, não queimou como deveria. Nestas situações, ela é vítima. De criminosos. O que Patricia fez, ninguém muda. Nem as atitudes dos vândalos. O que está faltando é competência para a Brigada Militar para proteger a gremista. Não há cabimento tanta falta de proteção. Ela e sua família são cidadãos brasileiros que precisam de segurança como todos nós. As autoridades são pagas com o dinheiro público para trabalhar nas ruas, conter, prender os bandidos. E evitar os crimes previsíveis. Foi exatamente o que aconteceu com a casa dos Moreira da Silva. Mas essa selvageria não pode encobrir a atitude abjeta de Patricia na arena do Grêmio. Ela nunca será vítima do que fez naquela quinta-feira vergonhosa. Mas não pode ser sacrificada em praça pública. Não é assim que se educa um país onde o racismo ainda acontece nos estádios de futebol. Quem pensa que pode "fazer justiça" com as próprias mãos não pode conviver em sociedade. Precisa ser preso. No âmbito esportivo, as notícias são boas para Patricia. Os rumores são imensos e repetitivos. O pleno do STJD poderá anular a exclusão do Grêmio da Copa do Brasil dado pelo próprio tribunal. O julgamento será daqui uma semana, no dia 19. Se Petros do Corinthians, suspenso por seis meses, teve a punição mudada para apenas três jogos, é mesmo possível prever que o time de Felipão volte à Copa do Brasil. Aí Patricia não terá atrapalhado a "paixão da sua vida", o Grêmio. Mas que a Brigada Militar trabalhe e consiga prender os vândalos que a ameaçaram no celular e os que apedrejaram e tentaram queimar sua casa. Por outro lado, o inquérito seja resolvido o mais rápido possível. Ela pague por seus gritos de "macaco" a Aranha. Por maior que seja o vandalismo, Patricia Moreira da Silva precisa ser punida. Ninguém deseja que ela seja condenada à morte. Seja banida do Brasil. Perseguida por onde for. Apenas é preciso que entenda que nenhuma pessoa é melhor do que outra pela cor da pele. Nem ser chamada de macaco por ser negra e jogar em um time adversário do Grêmio. Por ainda existem leis neste país. E que ninguém resolva acusar Aranha de incentivar a violência por ter a cor da sua pele negra...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 12 Sep 2014 16:21:12
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