segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Dez anos que o futebol deste país não exporta um técnico para a elite do futebol mundial, a Europa. Motivo: visão tática ultrapassada. O 7 a 1 da Alemanha só piorou ainda mais as coisas...

Dez anos que o futebol deste país não exporta um técnico para a elite do futebol mundial, a Europa. Motivo: visão tática ultrapassada. O 7 a 1 da Alemanha só piorou ainda mais as coisas...




No dia 5 de janeiro de 2005, Vanderlei Luxemburgo assumia o Real Madrid. Foi levado pelas mãos do empresário uruguaio Juan Figer. Acabou sendo motivo de orgulho nacional. E notícia no mundo todo. Um treinador brasileiro comandaria um dos maiores clubes da história. Dinheiro não seria problema para quem mantinha Ronaldo, Zidane, Roberto Carlos, Beckham, Raúl. Todos no auge. Luxemburgo foi apresentado por Figer como exemplo de modernidade, o grande técnico injustiçado na Seleção Brasileira. O então presidente Florentino Pérez avisou que desejava um comandante de verdade, com fibra para enfrentar os medalhões que havia contratado. O trabalho durou um ano. Acabou sendo enorme decepção. O treinador não dominava nem o espanhol. Os jogadores aproveitavam a sua dificuldade com o idioma para se fechar. Não se submetiam aos seus gritos, não suportaram seu método personalista. Luxemburgo não teve o apoio irrestrito de Ronaldo e Roberto Carlos, como esperava. Os brasileiros estavam preocupados com a decadência do time. E tentavam salvar sua carreira. Vanderlei tentou variações táticas. Principalmente ofensivas. Mas os resultados não vieram. "Todos os treinadores do Real Madrid precisam se entender com as estrelas do time. Historicamente sempre foi assim. Caso não tenha psicologia e consigam convencer essas estrelas que o seu esquema funciona, ele fracassa. Por isso estou acostumado. Os técnicos que fracassam no Real sempre posam de vítimas", desabafou Florentino Perez.

Luxemburgo teve 62% de aproveitamento na sua passagem por Madrid, destaca o jornal O Globo. Mas acontece que ele perdeu os jogos decisivos. Não conseguiu um título sequer. Além de ser humilhado pelo principal e eterno rival, o Barcelona de Ronaldinho Gaúcho. Como Figer havia prometido, o técnico embolsou R$ 5 milhões livres. Mas sua demissão teve consequências. Nunca mais um treinador brasileiro saiu de um clube daqui para assumir uma equipe de ponta na Europa. Scolari saiu da Seleção Portuguesa para o Chelsea, Leonardo deixou de ser jogador para assumir o Milan. De lá foi para a Inter de Milão. Zico nunca trabalhou no Brasil. Saiu do Japão e de lá começou sua peregrinação, passando pelo Fenerbahce. Nenhum deles conseguiu sequer um título. O que só consolidou a ideia: o Brasil é um exportador de pés e não de cérebro. Nestes últimos dez anos, treinadores que conquistaram Mundial de Clubes ficaram à disposição, esperando um chamado. Perderam seu tempo. Paulo Autuori teve de se conformar com o mercado japonês e o árabe após fazer o São Paulo campeão em 2005. Só os Emirados Árabes ofereceram trabalho para Abel Braga após o título com o Internacional em 2006. O Campeonato Mundial de Clubes só viria a ser conquistado em 2012, pelo Corinthians. E Tite sentiu na pele o quanto o título não importou para os clubes europeus. Ele ficou 2014 em um ano sabático. Esperava sim pela Seleção Brasileira. Mas se um time grande do Velho Continente acenasse, ele aceitaria imediatamente. Só que nada, nenhum chamado. Nem o respaldo de haver treinado a Seleção Brasileira adiantou para Mano Menezes. Seu empresário, Carlos Leite, é amigo e representante de Jorge Mendes na América do Sul. Só que o homem que comanda a carreira de Cristiano Ronaldo não conseguiu encaixar Mano em clube algum. O ex-treinador corintiano está tentando agora em 2015 uma recolocação.

Nem mesmo Portugal, onde já trabalharam Oto Glória, Autuori, Marinho Peres. O mercado lusitano também se fechou aos brasileiros. Mas o que é ruim, lógico que pode ficar pior. Veio a Copa do Mundo no Brasil, em 2014. Converso com um empresário importante. Ele diz claramente que os 7 a 1 que o time de Scolari acabaram por tatuar nos treinadores tupiniquins a palavra "atraso tático". Não é segredo para o mundo que os germânicos se pouparam no segundo tempo. A goleada poderia ter chegado a 10, 11, 12 a 1. A tese de apagão de Felipão e Parreira não ganhou adeptos. Cuca fez um excepcional trabalho no Atlético Mineiro. Ganhou a Libertadores de 2013. Mas o único mercado de trabalho que o cobiçou e o levou foi o chinês. Muricy Ramalho, Tite, Levir Culpi, Marcelo Oliveira, Oswaldo de Oliveira, Vanderlei Luxemburgo, Luiz Felipe Scolari, Mano Menezes são completamente descartados no mercado europeu. Nunca esteve tão consolidada a mentalidade retrógrada do treinador brasileiro no Exterior. O mérito das conquistas da Seleção fica com os jogadores. Até mesmo esse começo de reação com Dunga é credenciado a Neymar. "O treinador brasileiro não se recicla. Ele acredita que já sabe tudo. Diz que o futebol daqui é pentacampeão do mundo. E não tem nada a aprender. Não há o menor interesse em fazer intercâmbio. Conhecer outras maneiras de jogar. Não precisa nem ser na europa. Mas na Argentina, Chile, Uruguai. Isso é muito ruim. Não há evolução", resume Kaká. O empresário que converso também destaca que, apesar do que sofreu Luxemburgo em 2005, os treinadores daqui são acomodados. Não se dão ao trabalho nem de aprender outro idioma. Nem mesmo o inglês. Esta seria uma necessidade básica para quem deseja trabalhar no mercado europeu. Não há boicote, preconceito, ojeriza a brasileiros. O que na realidade existe é a falta de ter algo a oferecer. Os esquemas táticos nos campeonatos brasileiros são considerados ultrapassados. O ritmo é lento, sem intensidade. Faltam variações táticas. O que os empresários consideram interessante são os jogadores. E os dirigentes europeus credenciam os títulos aos atletas. Não aos técnicos. Por isso essa década de falta de convites. De interesse do mercado mais representativo do planeta. São dez anos. E a perspectiva de outros mais. Infelizmente não há como protestar, reclamar. Os cérebros que comandam o futebol deste país pararam no tempo. E não interessam os donos da festa do futebol mundial: os bilionários grandes clubes europeus...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 05 Jan 2015 12:46:12

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