quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

A classificação do Corinthians na Colômbia será garantia de medo no Ministério Público. Como deter os vândalos na Quarta-Feira de Cinzas? Organizadas corintianas e são paulinas terão encontro marcado no Itaquerão. Pela Libertadores...

A classificação do Corinthians na Colômbia será garantia de medo no Ministério Público. Como deter os vândalos na Quarta-Feira de Cinzas? Organizadas corintianas e são paulinas terão encontro marcado no Itaquerão. Pela Libertadores...




Se pudessem, membros importantes do Ministério Público e da Federação Paulista de Futebol, amanheceriam hoje com a camisa do Once Caldas. Torceriam por uma reviravolta quase impossível. Vitória dos colombianos por 5 a 0 contra o Corinthians. Por ódio ao time de Tite? Por que adoram Shakira? Não, medo da quarta-feira de Cinzas. "Com certeza, o Corinthians vai voltar classificado da Colômbia. E aí, na próxima quarta-feira, vai acontecer um jogo de altíssimo risco para os torcedores. Começará a fase de grupos na Libertadores. E logo de cara, no primeiro clássico, o Corinthians receberá o São Paulo em Itaquera. Se Palmeiras e Corinthians pelo Campeonato Paulista já foi aquela confusão, brigas e dificuldade para proteger os torcedores, imagine esta partida valendo pela Libertadores", desabafa o coronel Marcos Marinho. Por 17 anos ele comandou o trabalho de policiamento nos estádios de São Paulo. Era comandante do 2º Batalhão de Choque. Se envolvia pessoalmente nos confrontos. Várias vezes saiu ferido, sangrando das brigas. Acompanhou o crescimento da selvageria, de 1988 até 2005, quando assumiu outro trabalho. Foi chamado por Marco Polo del Nero para comandar a arbitragem em São Paulo, depois da desmoralização da corrupção envolvendo Edilson Pereira de Carvalho. Foi convocado claramente para levar credibilidade à FPF. Com Marinho, a vida dos árbitros passou a ser devassada. Principalmente a financeira. Eles precisam demonstrar regularmente se não estão endividados. E provar que estão trabalhando regularmente, a ponto de não depender apenas do dinheiro que vem do futebol. Edilson estava afundado em dívidas quando aceitou vender resultados de jogos para apostadores. Mas enquanto tenta deixar corruptos e corruptores longe da arbitragem paulista, usa a experiência militar para orientar o trabalho com as organizadas. E ele percebeu a mudança de postura de quem faz parte dessas facções. "A agressividade sempre existiu. As brigas. Mas era uma questão muito menor. Antes havia mais humanidade. Uns provocavam e se contentavam em dar socos, pontapés. Se impor em um local, espantar os rivais. A maioria ia na mão limpa. Alguns levavam no máximo uns cassetetes. Hoje, não. Os torcedores querem ferir, eliminar os torcedores de outros times. Nos confrontos na rua levam paus, facas e alguns até revólveres. A violência é descabida. Por isso tenho muita preocupação em relação a este próximo Corinthians e São Paulo", diz Marinho às rádios.

Se dependesse da FPF e do Ministério Público, tanto o jogo da próxima semana, como o da volta, no Morumbi, no dia 22 de abril, teriam torcida única. "É sim um jogo de alto risco. De muita rivalidade", avisa o promotor Roberto Senise Lisboa. Mas não há o que fazer. A direção do Corinthians já mostrou no clássico contra o Palmeiras. Não aceita de jeito nenhum. A influência das organizadas no clube é enorme. Andrés Sanchez, o verdadeiro comandante do clube há dez anos, é fundador da Pavilhão Nove, organizada batizada em homenagem a uma ala do antigo presídio do Carandiru, que era repleta de corintianos fanáticos. Embora menos explícita, a influência das organizadas no São Paulo também existe. E o clube de Carlos Miguel Aidar também não vai aceitar a tese de torcida única. Daí a tensão do coronel. "Será um enorme problema para a Polícia Militar esses clássicos. A começar pelo da próxima quarta-feira. Uma coisa é fazer o policiamento de torcida de time grande visitante no final de semana. Quase não há trânsito. As pessoas estão mais em casa. Tudo está mais vazio. Agora, uma partida à noite, com a torcida do São Paulo indo para Itaquera, quando muitos trabalhadores estão voltando para casa, com o trânsito caótico da volta do Carnaval. Será muito difícil proteger os são paulinos. Eu acredito que o melhor é que eles usem ônibus. Mas mesmo assim não vou negar que há riscos." Para complicar ainda mais as coisas. O inimizade entre Carlos Miguel e Andrés só acirra os ânimos. O sentimento de raiva entre os dirigentes se espalha aos torcedores. No sábado passado houve o absurdo confronto na estação de metrô Carrão. 42 membros das organizadas corintianas arrombaram um vagão quando viram quatro são paulinos. Bateram muito nestes torcedores. Os agressores foram detidos por algumas horas pela polícia. E logo liberados. Pelas redes sociais, há a promessa de vingança por parte dos são paulinos. Corintianos avisam que, enquanto a vingança não vem, os são paulinos vão apanhar de novo.

O Ministério Público tentou em vão uma estratégia que minimizaria a chance de confrontos, brigas nos estádios. Apelar para uma medida que desestimularia os membros de organizadas de irem para os estádios. Principalmente quando seus clubes atuassem como visitantes. O MP queria que os ingressos fossem vendidos em bilheterias, para qualquer torcedores. E o clube mandante não cederia lugares próximos. Os 5% que é obrigado a ceder ao rival seriam espalhados pelo estádio. Mas os presidentes dos grandes clubes de São Paulo não aceitam. Os mandantes reservam locais para as organizadas rivais. Longe de sua torcida. Até para que não se espalhem e danifiquem várias áreas dos seus estádios. A polícia militar acredita que juntos em um lugar fica mais seguro e fácil de vigiá-los. Os presidentes dos clubes que atuam fora preferem vender todo o lote de 5% com as organizadas. Os torcedores comuns não chegam nem perto dessas entradas. O MP e a FPF sabem. Os dirigentes fazem isso por medo de suas organizadas. Para evitar represálias. Desde que essa distribuição começou em 2009 sempre foi assim. Um rompimento, com os ingressos indo parar nas bilheterias, seria o mesmo peso de uma declaração de guerra. Diante de tudo isso, a preocupação que já é grande nos clássicos do inútil Campeonato Paulista, será multiplicada na Libertadores. Basta o Corinthians confirmar sua vaga hoje diante do Once Caldas. E a tensão dominar o Ministério Público, Federação Paulista e o comando da Polícia Militar. A Quarta-Feira de Cinzas de 2015 será, com toda certeza, de alto risco para os torcedores que forem ao Itaquerão.

Em fevereiro de 2014, entrevistei o coronel Marinho. E reproduzo o trecho em que ele explica quem são estes vândalos que dominam o futebol brasileiro. Fica a lição para todos entenderem o tipo de gente está infiltrada em todas as organizadas. Oficialmente já são 285 mortos em confrontos de torcidas, desde 1988. "Eu posso falar porque acompanhei bem de perto. No comando do Batalhão de Choque frequentei estádios, Febem (Fundação Casa) e penitenciárias. Ainda acompanho tudo de perto. Esses vândalos na maioria surgem na periferia. Onde infelizmente não há lei. Não há estrutura familiar, educação na sua casa. Ele se acostumou com a impunidade. Banalizou as agressões, mortes. Jogou futebol ao lado de cadáveres. Vai para a padaria pulando mortos que morreram na noite passada. A vida não vale nada, não tem o menor significado. Já matar, não. Significa respeito entre os seus, na sua comunidade. Ele busca iguais e é fácil de encontrar. Gente sem formação, sem estudo, sem trabalho. Com muita raiva de serem excluídos da sociedade. A torcida organizada os aproxima. Os aceita, os acolhe. E por essa organizada ele faz o que aprendeu nas ruas. Principalmente com quem julga inimigo. Não há o menor drama de consciência em espancar, matar. Até porque se, na pior das hipóteses, for preso, sabe o quanto as cadeias no Brasil estão corrompidas. São escolas de crime. Esses vândalos não têm sentimentos, são psicopatas que deveriam estar afastados da sociedade. Têm valores completamente distorcidos. Por isso batem com barras de ferros na cabeça de alguém que nunca viram até matar. E depois vão dormir como se nada tivesse acontecido. Levam barras de ferro, revólveres, faca, o que puder para matar o rival. Infelizmente isso não vai parar. O problema está na sociedade brasileira como um todo. Reflete no futebol, sim reflete. Mas os crimes bárbaros acontecem todos os dias. No futebol ganham uma divulgação maior. Mas quantos assassinatos acontecem pelo Brasil diariamente? E nada acontece..."





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 11 Feb 2015 11:22:00

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