terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

As queixas de Marcelo Oliveira e as estocadas de Gilvan são mais sérias do que parecem. Acabou a alegria, a confiança no Cruzeiro. Se o time for mal na Libertadores, muita coisa pode mudar na Toca...

As queixas de Marcelo Oliveira e as estocadas de Gilvan são mais sérias do que parecem. Acabou a alegria, a confiança no Cruzeiro. Se o time for mal na Libertadores, muita coisa pode mudar na Toca...




"Na realidade, o Marcelo só ganhou dois títulos brasileiros porque tinha um plantel montado pelo Cruzeiro. Alguns jogadores vieram por sugestão dele, mas a maioria não. (...)"Ele hoje é um treinador de ponta do futebol brasileiro e o Cruzeiro o tornou de ponta. Isto que aconteceu no Cruzeiro em janeiro, de vários jogadores deixarem o clube na janela internacional, é consequência de um grande trabalho feito pela diretoria e pelo técnico Marcelo Oliveira. Ele tem que aceitar estas coisas." Assim, de maneira direta, sem enrolar, Gilvan Tavares deixou bem claro o que pensa. Marcelo Oliveira é apenas um funcionário, o técnico do Cruzeiro. Ele trabalha com os jogadores que a diretoria lhe oferecer. Ele pode até sugerir, mas não tem poder algum de decisão. Muito pelo contrário. Gilvan não aceitou as queixas do treinador ao ser confirmada a contratação de Henrique, ex-atacante do Palmeiras. O treinador aproveitou a expectativa sobre suas palavras. E quis mandar um recado à diretoria. Se deu muito mal. "O Henrique é ótimo jogador, até estava na lista de jogadores que faz parte do trabalho do técnico. Só que ele vem numa posição que já temos outros três contratados (Leandro Damião, Joel e Riascos). Assim como estamos com quatro laterais-esquerdos e precisamos de um meia." As declarações viraram manchetes de portais, jornais, destaques no rádio, na televisão de Belo Horizonte. Estava claro. O treinador não havia ficado satisfeito com o desmanche do Cruzeiro às vésperas de começar a Libertadores. E muito menos dos vários jogadores que chegaram. Vários sem ele pedir. E em posições que não precisava.

Gilvan é muito inteligente. Percebeu o que estava ficando implícito. Que Marcelo Oliveira e Alexandre Mattos, o ex-homem forte do futebol na Toca da Raposa, tinham montado a atual equipe bicampeã brasileira. E agora, o presidente do Cruzeiro teria vendido atletas fundamentais como Everton Ribeiro, Ricardo Goulart, Lucas Silva. Aberto mão de Marcelo Moreno. O lateral Egídio titular também acabou negociado. Como o volante Nilton. Marcela já vinha destacando sutilmente o que havia ocorrido. "Na verdade eu perdi a base. Mas não tem como lamentar muito. Viver essa nova realidade. Vieram novos jogadores. Mas com características diferentes, distintas. O que a gente precisa, o grande desafio é formar um time. E time não é só tirar um e botar outro. Precisamos em um tempo curto, já que a Libertadores para nós começa no final do mês, encaixar um time. Talvez não tão técnico, mas competitivo." As palavras de Marcelo incomodaram a cúpula cruzeirense. Ela já vem sendo comparada às diretorias de Zezé Perrella, especialistas em formar grandes times para desmanchá-los em seguida, para obter lucro, vendendo jogadores. Rivais atleticanos, ironizavam a postura do agora senador, dizendo que o Cruzeiro não era um clube, mas um balcão de negócios. Gilvan deixou deixou mais do que transparente que o treinador nunca teve poder para escolher o poderoso time de 2013 e 2014. Não teve piedade. Acabou com o mito de excepcional indicador de atletas. Marcelo apenas teve o mérito de exercer sua função. Pegar os atletas que a diretoria ofereceu e montar a equipe.

O desgaste é forte. Eles já foram muito mais próximos. Em 2012, quando Gilvan anunciou que trabalharia com Marcelo Oliveira, a reação de vândalos infiltrados nas organizadas cruzeirenses foi absurda. Passaram a ameaçar tanto o presidente como o treinador de morte. O motivo: o passado atleticano de Marcelo, como ex-jogador, dirigente e técnico tampão. Os dois não cederam. Enfrentaram os telefonemas anônimos. O resultado foi excepcional. Os mesmos torcedores que os ameaçaram acabaram por aplaudir a dupla. Marcelo ficou muito decepcionado com a eliminação da Libertadores de 2014. Tinha certeza que sua equipe tinha toda a chance de conquistar o sonhado torneio. Mais experiente, vivida, entrosada. Não sonhava com o desmanche promovido por Gilvan. O treinador não pôde fazer absolutamente nada. A não ser aceitar que seus planos logo após a conquista do bicampeonato brasileiro haviam acabado. A debandada do trio Everton Ribeiro, Ricardo Goulart e Lucas Silva foram golpes duros demais. Toda frenética movimentação ofensiva dependia do trio, que além de ter excelente preparo físico, era muito técnico. Capaz de desequilibrar a marcação adversária com um drible, um toque inesperado, a finalização de surpresa. Marcelo sabe que está trabalhando contra o tempo. Tentando encaixar os jogadores que a diretoria lhe ofereceu e montar um novo Cruzeiro. Como ele mesmo destacou, menos técnico, mais competitivo. Marcelo Oliveira sabe que o prazo é curto demais. Mas as cobranças serão fortes. As últimas conquistas acabaram acostumando bem a torcida e a imprensa. Todos sempre esperam um grande futebol do Cruzeiro. Para desespero do técnico, poucos param para pensar que muita coisa mudou. Ele já estava preocupado com a reformulação. Mas quando se viu com quatro laterais esquerdos e quatro atacantes de definição e sem o meia organizador que tanto está implorando, resolveu desabafar com os jornalistas. Tomou uma invertida enérgica, firme, inesperada de Gilvan. Teve de ouvir que foi o Cruzeiro que o transformou em treinador de ponta no futebol brasileiro. Algo que ele não era antes de pisar na Toca da Raposa.

Marcelo Oliveira era um jogador de personalidade forte. As pessoas próximas dele garantem que ele continua com o mesmo gênio. Embora esteja tentando minimizar, digerir as estocadas de Gilvan, só o tempo e os resultados na Libertadores mostrarão se as farpas serão realmente esquecidas. Talvez o presidente do Cruzeiro tenha razão. Seu clube mudou a carreira de Marcelo Oliveira. Hoje ele é um treinador respeitado, cobiçado. O Palmeiras, o Internacional, o Fluminense, o Santos já avaliaram seu nome. Dirigentes acompanharam se renovaria ou não o contrato com o time mineiro. Ou seja, Marcelo tem mercado. A simples presença de Alexandre Mattos no Palmeiras deve ser levada em consideração. Os dois são muito amigos. Em caso de Oswaldo de Oliveira não conseguir montar uma equipe competitiva com os 19 reforços que ganhou e Marcel Oliveira não conseguir consertar o desmanche no Cruzeiro, o caminho pode ser natural. Ou seja, a cobrança de Marcelo Oliveira e o troco de Gilvan Tavares podem ter consequências muito mais sérias. Tudo vai depender da trajetória do atual bicampeão brasileiro na Libertadores. A história parece se repetir. Os desmanches de Zezé Perrella costumavam estourar nos treinadores que, de uma hora para outra, ficavam sem as peças fundamentais de seus times, montados com todo cuidado. As vaias no empate com a Caldense no Mineirão não foram por acaso. Não há paciência do torcedor. Ninguém quer saber da reformulação. O atual bicampeão brasileiro que arrume uma maneira de se impor, ganhar. Os cruzeirenses se viciaram rapidamente com as vitórias. Não há outra sensação que prevaleça na Toca da Raposa: a de grande desperdício. É uma lástima ter sido desmanchado o time campeão duas vezes seguidas do Brasil. Chegaria pronto, maduro, estruturado para a Libertadores de 2015. Não esse Cruzeiro em formação, com quatro homens de área, quatro laterais esquerdos. Com o presidente magoado com o técnico. Com o treinador, preocupado, sem a equipe mais poderosa, que consumiu dois anos de sua vida para preparar. E, com a responsabilidade de conquistar o título, pesando sobre os ombros de todos...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 10 Feb 2015 10:48:04

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