sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O Cruzeiro mostra coragem e faz um bem ao futebol brasileiro. Sem medo de represálias. Resgata do exílio, Paulo André, o líder do Bom Senso. E jogador mais odiado pela CBF...

O Cruzeiro mostra coragem e faz um bem ao futebol brasileiro. Sem medo de represálias. Resgata do exílio, Paulo André, o líder do Bom Senso. E jogador mais odiado pela CBF...




Nem ele mesmo esperava voltar para o futebol brasileiro como jogador. Tinha plena consciência de quem o contratasse estaria desafiando a CBF. Vários empresários e dirigentes comentavam entre si que não valeria a pena contratá-lo. Não pelo seu futebol seguro, firme. Zagueiro experiente, líder de qualquer grupo, inteligente. Vivido, aos 31 anos. O grande problema de Paulo André era outro. A sua indignação contra os desmandos do futebol brasileiro fez possível a criação do Bom Senso F.C. O movimento que exige da CBF a modernização na relação entre o jogador e o clube. Além de reforma no calendário. Punições aos dirigentes que não pagarem seus times em dia. Times entraram em campo com faixas reivindicatórias, atletas sentaram no gramado antes de partidas começarem. A possibilidade de greve atormentou CBF e Globo como nunca havia acontecido antes. Paulo André foi apontado como o grande articulador desses protestos. No Corinthians, clube que havia sido campeão mundial, a resistência ao atleta chegou a um clima insuportável. Entre os dirigentes ele não tinha mais nome. Era o "revolucionário". Mario Gobbi entendia que ele exercia uma liderança forte demais no elenco. Na famosa invasão da torcida organizada ao Centro de Treinamento, Paulo André era o mais revoltado. Ele sabia da ligação entre os dirigentes e os torcedores. Percebeu a omissão. Não houve esforço para que ninguém fosse punido. Mesmo com jogadores como Guerrero tendo sido agredido, outros como Pato e Sheik ameaçados de terem suas pernas quebradas, roubos de celulares. As câmeras do CT misteriosamente não funcionaram. Ninguém foi identificado. Só os jogadores foram humilhados. Paulo André ficou revoltado.

Gobbi já estava irritado. No seu entender, o zagueiro campeão mundial jogava o clube contra a CBF. Depois da invasão, sentiu que colocava a diretoria contra o time. E resolveu negociá-lo. Não para o Brasil. Mas ao lugar mais longe possível. O despachou com gosto para a China. Para atuar no Shanghaï Shenhua. De graça. Como um "prêmio" do Corinthians. O zagueiro iria ganhar muito mais. Iria ficar dois anos no exílio. Mas suportou apenas um. Queria retornar ao futebol brasileiro. Apesar da carência de muitos clubes por zagueiros, principalmente os que estão na disputa da Libertadores, seu nome era vetado. Havia um acordo silencioso entre empresários e dirigentes. Sabiam que o clube que o contratasse estaria comprando briga. E séria com a CBF. Tanto José Maria Marin como Marco Polo del Nero não suportam ouvir o nome de Paulo André. Depois da humilhante participação do Brasil na Copa do Mundo, Paulo André foi afiado como uma navalha. No seu site escreveu um post obrigatório para a reflexão de quem ama futebol. E que ficou com um gosto amargo na garganta depois dos 7 a 1 para a Alemanha. O texto foi batizado como "Acorda Brasil".

"Desabafo
Não dá para acordar em plena segunda feira e ler em todos os sites que o Marin e o Marco Polo querem um treinador que represente a “reformulação”. Qual é? Só eu que fico indignado? Sempre o mesmo papinho. Querem enganar quem? Eu também quero uma reformulação. A começar por eles. E outra, será que dá pra me explicar por que esses senhores (na lista abaixo) estão no poder das federações estaduais há 20, 30, 40 anos?
José Gama Xaud, 40 anos no poder da Federação de Roraima;
Carlos Orione, 33 anos no poder da Federação de Mato Grosso;
Delfim P. Peixoto Filho, 29 anos no poder da Federação de SC;
Antonio Aquino, 26 anos no poder da Federação do Acre;
Francisco C. Oliveira, 25 anos no poder da Federação do MS;
Rosilene A. Gomes, 25 anos no poder da Federação da Paraíba;
Heitor da Costa Jr., 25 anos no poder da Federação de Rondonia;
Antonio C. Nunes da Silva, 24 anos no poder da federação do Pará;
José C. de Souza, 24 anos no poder da Federação do Sergipe;
Dissica V. Tomaz, mais de 20 anos no poder da Federação do Amazonas;
Leonar Quintalha, 19 anos no poder da Federação do Tocantins.
Esses são onze dos 47 caras que comandam o futebol nacional (27 presidentes das Federações e os 20 presidentes dos clubes da Série A). São eles que escolhem o presidente da CBF e que definem os regulamentos das competições da entidade. Só eles, mais ninguém. E alguém acha que um novo treinador vai conseguir reformular alguma coisa?
Parem com isso!
Que cada um assuma a sua parcela de culpa (jogadores, comissão, eu, você, todos temos um pouco. Mas a desses caras é gigante, só não é maior do que a cara de pau). Esses presidentes (da Confederação e das Federações), que jamais deram as caras nas derrotas, que jamais foram vaiados nos estádios e que jamais deixaram de receber seus vencimentos no final do mês (porque a Confederação e as Federações pagam em dia), são os maiores responsáveis pelo caos em que se encontra o futebol brasileiro.
Olhem para seus umbigos e tenham vergonha do que construíram! Clubes grandes endividados, clubes pequenos sem calendário, estádios vazios, atletas sem salários, etc… E a solução é o novo treinador? #Cansei.
Há pelo menos duas décadas, simplesmente para permanecerem no poder, esses senhores tem sido coniventes com tudo de ruim que a CBF representa para o nosso país. Medrosos, nada fizeram para mudar. Saibam que para se fazer a reformulação que agora descobriram ser necessária é preciso coragem, visão, paixão, conhecimento, planejamento, fugir do óbvio. Mas a prioridade (no discurso) dada a mudança da comissão técnica mostra que nada mudará, a não ser o tal do treinador.
Aproveito o desabafo para agradecer a cada um dos presidentes citados acima. Desculpe-me destacá-los em meio a tantos outros mas os senhores dedicaram suas vidas prestando serviços ao futebol nacional. Não teríamos chegado aonde chegamos sem vocês. Tenham certeza de que nenhum de nós, brasileiros, se esquecerá do que os senhores, por falta de visão e por falta de amor ao esporte, nos fizeram sentir no dia 8 de julho de 2014.
Peço, se houver um pingo de consciência e dignidade nesse mundo paralelo em que vivem, que os senhores convoquem uma assembleia geral, democratizem o estatuto da CBF e, em seguida, reformulem…, reformulem a vida de vocês bem longe do futebol.
“E você, torcedor brasileiro, que tem perguntado como ajudar, como participar da construção do nosso próprio legado da Copa, vá ao estádio nesta quarta feira – quando recomeça o Brasileirão – e leve um cartaz ou uma faixa pedindo: DEMOCRACIA NA CBF, JÁ!” (Bom Senso F.C)
Um abraço do extremo oriente,
P.A


A repercussão foi enorme. Da China, ele coordenava os movimentos do Bom Senso. A atuação passou a ser mais silenciosa e efetiva. A presidente Dilma passou a dar atenção às reivindicações. Principalmente as empregatícias. Além do tempo em que os dirigentes tratavam as federações como capitanias hereditárias. A CBF ainda mais. Seus companheiros de luta, Alex, Dida, Juninho Pernambucano reclamavam que faltava um líder nos gramados brasileiros. Paulo André precisava voltar. Ele já não estava muito contente no time chinês. No Corinthians não pode nem mais pisar, depois que processou o clube cobrando entre outras coisas, Direito de Arena. Os dirigentes paulistas, cariocas e gaúchos não quiseram arriscar. Mas Gilvan Tavares aceitou o desafio. Mesmo sabendo de tudo que cerca Paulo André, decidiu. O aceitou no Cruzeiro. Marcelo Oliveira, que também foi um jogador de muita personalidade, gostou muito de seu nome. Com a operação de Dedé, as contusões seguidas e a instabilidade de Manoel, o técnico tinha apenas Bruno Rodrigo, Léo e Fabrício, garoto que veio da base. O clube mineiro conversou com o jogador no final de janeiro. Mas não houve acerto financeiro.

Paulo André tinha uma proposta bem vantajosa do Orlando City, time de Kaká. Estava pronto para jogar nos Estados Unidos. Foi quando o Cruzeiro voltou à carga. Aumentando seu salário. E o acordo verbal foi fechado. A previsão que assine o contrato é hoje. Gilvan Tavares está mostrando muita coragem. O zagueiro não é figura querida na cúpula da CBF. Alguns membros da própria diretoria cruzeirense se questionam. Tem algum tipo de represália. Até porque sabem que não podem exigir para Paulo André se calar, que jogue apenas futebol. É uma aposta de altíssimo risco. Demonstração de coragem. Mas que tem tudo para fazer muito bem não só para o Cruzeiro na Libertadores. Mas para o atrasado futebol brasileiro. Para um país tão carente de lideranças. Gilvan merece toda a admiração. Paulo André que siga fiel à sua sina. Dando a alma em campo pelo atual bicampeão brasileiro. Mas continue sendo o principal articulador da modernização do esporte mais amado pelo Brasil. Com mais sorte que Afonsinho. E menos sensível do que Sócrates. Bem-vindo ao país que é seu...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 06 Feb 2015 11:21:36

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