terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Oswaldo de Oliveira se adapta à irracionalidade. Muda meio time do Palmeiras depois da derrota para o Corinthians. Coloca o despreparado Dudu como titular. Pela própria sobrevivência...

Oswaldo de Oliveira se adapta à irracionalidade. Muda meio time do Palmeiras depois da derrota para o Corinthians. Coloca o despreparado Dudu como titular. Pela própria sobrevivência...




Há uma diferença muita grande na cultura japonesa e a brasileira. Em todas as áreas. Até na esportiva. Se os torcedores são civilizados a ponto de recolher a sujeira das arquibancadas, são polidos nas derrotas de seus time. Acreditam que as decisões sobre os fracassos devem caber aos dirigentes. Não precisam ficar cobrando, xingando ninguém nos estádios. Muito menos os treinadores, que são tratados por "mister", com toda a reverência. No máximo, diante das derrotas, os fãs sentam desolados após os jogos e choram. Como se fosse um castigo divino perder. "Seu filho da ... Corintiano. Volta para a cachorrada. Burro! Incompetente. Tinha de ter colocado o Dudu antes, retardado." Esses foi a maneira brasileira, paulista, palmeirense que muitos torcedores reservaram a Oswaldo de Oliveira. Não tiveram o mínimo respeito após a derrota para o Corinthians por 1 a 0. Se aproveitaram da cúmplice proximidade da nova arena e destilaram seu ódio. O técnico passou impassível, fingiu não ouvir. Oswaldo já havia sido xingado na derrota contra a Ponte Preta. Justo ele que passou quatro anos de sua vida como técnico do Kashima Antlers. E era tratado quase como uma sumidade. Respeitado, reverenciado. Fez ótimo trabalho. Ganhou três vezes o Campeonato Japonês. Duas a Copa do Imperador, duas a Supercopa japonesa e uma vez a Copa da Liga. Mas teve de voltar ao Brasil. A crise mundial atingiu em cheio o Japão. Sua liga. Os maiores salários foram limados dos clubes. Só a Seleção investe em treinadores estrangeiros. Aliás, Oswaldo é sempre comentado para o cargo. Fez tanto sucesso por lá que acabou sendo um requisitado garoto-propaganda. Ele teve seu choque de realidade no Botafogo. Sentiu toda a dureza de trabalhar em um clube que não paga seus jogadores. Ganhou dois Cariocas e classificou a equipe para a Libertadores. Desembarcou no Santos empobrecido e com diretoria querendo valorizar jogadores sem talento, como Leandro Damião. Por se negar a ser mero pau mandado, acabou demitido. No Palestra Itália, foi contratado para trazer de volta a esperança para um clube envergonhado. Sua tradição espetacular no século 20 estava foi abalada por dois rebaixamentos em dez anos. E centenário patético. Oswaldo, campeão mundial pelo Corinthians, tem a missão de fazer o Palmeiras renascer.

Ainda mais depois de Alexandre Mattos contratar 19 jogadores. Com a bênção e dinheiro de Paulo Nobre, um novo elenco foi montado. Muito melhor do que o do ano passado. Que só não caiu por sorte e falta de sorte e desinteresse do Atlético Paranaense no último jogo do Brasileiro de 2014. Assim como o esquisito empenho do empobrecido Santos contra o desesperado Vitória. Em plena crise, o Palmeiras trouxe atletas importantes como Arouca, Dudu, Zé Roberto, Cleiton Xavier. A ansiedade da torcida venceu de longe a racionalidade. Embora um grande time não se monte de uma hora para outra, Oswaldo percebeu que terá de acelerar seu trabalho. Por essa razão vai trabalhar em duas frentes. A primeira é aproveitar qualquer entrevista para tentar domar o ímpeto dos torcedores, da imprensa, dos conselheiros e mesmo dirigentes do clube. Já nasce uma insatisfação precoce no Palestra Itália. Muito bom na argumentação, o técnico detalhou o que pensa. "Há uma possibilidade muito boa de fazer um time muito bom, mas para o Campeonato Brasileiro. Agora é difícil. Por exemplo, no ano passado, eu tinha uma garotada e jogadores experientes no Santos, e nós fizemos um Campeonato Paulista que empolgou. Mas quase todos estavam ali já. Quando você tem essa mudança mais radical, mais volumosa, fica mais difícil, principalmente, porque há um peso muito grande pelo que se passou (má campanha no Brasileirão de 2014). A expectativa fica muito maior. Se não conseguirmos controlar essa expectativa, ela vira contra nós", disse no Sportv.

Falou também que espera por Valdivia no dia 28, contra o Capivariano. E Arouca talvez faça sua estreia contra o São Bento, na quarta-feira. Tentou passar tranquilidade, paz interior. Isso foi ontem. Hoje, diante da pressão ele mudou. Embora saiba que tudo é exagerado, descabido. Não quer perder o seu emprego. E tratou de fazer o que o bom senso não indicava. Equipes em formação são montadas aos poucos. De preferência por setores. A confiança vem na repetição de pelo menos a base. Mas Oswaldo de Oliveira sabe que está em um clube sui generis, diferente. A torcida palmeirense já é das mais angustiadas do futebol brasileiro. Fiel às origens exageradas italianas. Ou tudo é uma maravilha ou uma desgraça. O Palmeiras mudará meio time daquele que foi derrotado pelo Corinthians no domingo. Tóbio, Amaral, Allione, Maikon Leite e Leandro Pereira perderam lugar na equipe. Entraram Jackson, Gabriel, Alan Patrick, Cristaldo e Dudu. Eles deverão estar em campo amanhã, contra o Rio Claro. O treinador precisa não só da vitória. Mas escalar os jogadores que a torcida, diretoria e a imprensa querem ver. Virou questão de sobrevivência e não lógica. Principalmente em relação a Dudu, estrela maior da companhia. Atacante conquistado com orgulho por Paulo Nobre. Ganhou a disputa do Corinthians e do São Paulo, de Carlos Miguel Aidar, dirigente que Nobre odeia com todas as forças. Oswaldo queria dar mais tempo ao atacante se preparar. Colocá-lo aos poucos no time. Mas percebeu que lógica, racionalidade, frieza não combinam com o Palmeiras atual.

"Tive muito sucesso no Japão porque trabalhei com jogadores disciplinados e obedientes, era muito mais fácil fazê-los aprender. A formação do jogador aqui no Brasil é muito superior. Era comum, no Japão, os jogadores chegarem aos clubes com 22 ou 23 anos, mas a preparação como pessoa era muito melhor, isso é da formação do japonês. É muito mais fácil trabalhar com um cara que recebe com muito mais interesse o que você tem para passar. A nossa formação é muito diferente e tem o interesse mais individual, como aconteceu no caso do Dudu. Você vê que o cara não está preparado e é obrigado a escalar porque se o time perde, você perde o emprego." As declarações de Oswaldo após a derrota diante do Corinthians deveriam chocar. Como um técnico vai colocar certo jogador despreparado para não perder o emprego? É exatamente isso que terá de fazer contra o Rio Claro. O presidente, a torcida, a imprensa, a diretoria querem ver Dudu como titular? É o que ele fará. Os testes estão suspensos. Logo na quarta partida do Palmeiras no Campeonato Paulista, o técnico entendeu como a banda toca. Não está mais no Japão. Ninguém abaixa a cabeça, o reverencia quando passa, o chama de mister. Nada disso. Em um dos clubes mais pulsantes do país, Oswaldo que dê o que os palmeirenses exigem. A hora não é de birra, de ser professoral. Não há como paciência para esperar pelo Brasileiro. Todos querem resultados e um time, já! Com Dudu como titular. O que era tensão virou angústia depois da derrota para o Corinthians. No primeiro clássico da nova arena! Esperto, Oswaldo não age como um técnico calculista. Mas como um sobrevivente. Ainda mais com a sombra de Marcelo Oliveira começando a surgir no horizonte. Esta é a irracionalidade brasileira, mister Oliveira. A calma, o respeito pelo trabalho consciente ficaram a 18.553 quilômetros, no Japão. Com o futebol mergulhado em profunda crise econômica. Não há para onde voltar...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 10 Feb 2015 13:24:17

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