domingo, 15 de fevereiro de 2015

Palmeiras brinca com a sorte. Gabriel Jesus e seus empresários não têm a paciência de Marcos. O clube, que não valoriza seus garotos da base, pode desperdiçar outro talento...

Palmeiras brinca com a sorte. Gabriel Jesus e seus empresários não têm a paciência de Marcos. O clube, que não valoriza seus garotos da base, pode desperdiçar outro talento...




"O Palmeiras tem sérias dificuldades em cultivar seus talentos da base. Sempre foi assim. O clube tem na sua essência buscar grandes jogadores em outras equipes. Pode reparar, as grandes conquistas sempre foram com atletas vividos, experientes, vindos de fora. Os garotos sempre ficam em último plano para os treinadores. São desvalorizados. Isso é histórico. Foi assim e vai continuar." As declarações foram me dadas por Pedrinho Vicençote no início dos anos 2000, quando surgiu Vagner Love. Pedrinho foi um lateral esquerdo muito bom, revelado na Copa São Paulo de 1977. Com ótimo potencial ofensivo, logo ganhou espaço, projeção no clube. Marcou 17 gols, quando os laterais eram quase proibidos de atacar. Mesmo assim, seu salário continuou muito baixo, não houve reconhecimento dos dirigentes. Suportou a situação três anos, quando foi para o Vasco da Gama. A negociação foi péssima para o clube paulista. Em um ano ele estava no grupo que disputou a Copa do Mundo de 1982. Valorizado, acabou vendido ao Catânia da Itália. Os cariocas tiveram um enorme lucro. As palavras de Pedrinho tiveram foram certeiras, proféticas. O Palmeiras continua com a mesma mentalidade de clube comprador, não formador. Foi assim também com Vagner Love. O atacante surgiu como um atacante oportunista, vibrante, de excelentes arrancadas, técnica suficiente para fazer tabelas inesperadas. Muito promissor. Havia tentado a sorte no Bangu, Campo Grande e Vasco, quando menino. Mas não conseguiu vingar. Era indisciplinado. Acabou indicado aos juniores do Palmeiras. Teve grande destaque ao marcar 32 gols. Era a grande estrela do time na Copa São Paulo de 2002. O time caiu no grupo de São José dos Campos. Uma mulher mais velha se engraçou com o jovem atacante. E ele não teve dúvida, o levou para seu quarto na concentração. Foi flagrado e afastado da equipe, por Karmino Colombini. Dirigentes palmeirenses quiseram dispensar o jogador. Só que ele era muito bom. Flávio Prado, comentarista da Rádio Jovem Pan, foi quem transformou Love no sobrenome do atacante. "Eu só levei uma vez e não recomendo para nenhum jogador que esteja começando", disse o jogador para a revista Playboy.

Ele foi mesmo muito mal tratado no Palmeiras. O ressentimento do então presidente Mustafá Contursi nunca passou. Queria e conseguiu se livrar do jogador que desrespeitou o clube. Vagner Love foi assediado por vários clubes europeus. Mas Mustafá o vendeu pela melhor oferta. Para a Rússia. Por US$ 9 milhões. US$ 7,5 milhões ao Palmeiras e US$ 1,5 milhão ao jogador. Os companheiros de diretoria e grande parte da imprensa criticaram impiedosamente a venda. Love tinha potencial para ser vendido por muito mais dinheiro. Bastaria ter um pouco de paciência, clamavam. Mas o irritadiço Mustafá sabia que para segurá-lo teria de aumentar o seu salário. E ele não suportava o atacante. Nunca o perdoou pela farra que fez quando era garoto na concentração em São José. Vagner foi para a Rússia prometendo ficar apenas um ano. Acabou passando sete, as suas melhores temporadas como jogador. Voltou para o Palmeiras em 2009 porque Mustafá não era mais presidente. Mas o ressentimento e a falta de paciência de parte das organizadas em relação ao jogador nunca passaram. Depois de violenta briga na agência Bradesco da avenida Sumaré e ameaças de morte ao atacante e seus familiares, ele foi para nunca mais voltar ao Palestra Itália. Marcos surgiu em Lençóis Paulista. Treinou três meses no Corinthians. Mas o clube não se empolgou pelo goleiro de 17 anos. Acabou indo para o Palmeiras. E de 1992 até 2012, nos vinte anos que atuou no Palestra Itália, a mesma história. Ele nunca se sentiu valorizado financeiramente. Não como deveria. Como sua personalidade é pacata. Soube investir muito bem o que ganhou. E vive bem. Mas companheiros de Seleção e de clubes rivais, cansaram de repetir que ele deveria ter exigido muito mais do Palmeiras. Não queria briga. Conseguiu montar um patrimônio que o satisfaz. Mesmo sabendo que merecia ser melhor remunerado. Está no DNA do Palmeiras não acreditar, não pagar bem, não valorizar seus atletas de base. Por isso o clube não é destino natural dos grandes talentos brasileiros, enquanto meninos. Santos, São Paulo, Flamengo, Cruzeiro, Atlético Mineiro, Corinthians, Internacional, Grêmio são opções primeiras. O trabalho de observação nestas equipes chegou a um ótimo grau de aprimoramento. Nas últimas temporadas apenas, o Corinthians passou a olhar com mais atenção aos seus meninos. O erro de avaliação de Marquinhos, zagueiro que o PSG pagou R$ 101 milhões, foi dolorido demais.

Agora o Palmeiras está errando feio com outra rara revelação na sua base. Gabriel Jesus. Ele surgiu no Anhanguera, clube amador. Na Copa São Paulo sub-15, marcou 29 gols. Cobiçado por vários clubes, o Palmeiras se antecipou. E fechou contrato em julho de 2013, com 16 anos até dezembro de 2015. A promessa ganhava R$ 2,5 mil. Continuou se impondo. Marcou 37 gols em 22 partidas no Campeonato Paulista de Juniores. Sua multa rescisória se tornou baixa: R$ 3 milhões. Era um risco assinar com outro clube. O São Paulo era o principal interessado. Conselheiros garantiram que foi ofertado ao garoto uma casa no valorizado condomínio de Alphaville, em Barueri. Bastaria ele não renovar seu vínculo com o Palmeiras. Paulo Nobre ouviu essa história e resolveu oferecer um contrato de quatro anos ao jovem atacante. A renovação não foi fácil. Os empresários do menino sabiam que havia outros interessados. Primeiro mudaram seu nome. De Gabriel Fernando, passou a Gabriel Jesus, mais marcante. E trataram de avisar à diretoria palmeirense. Queriam uma parcela maior dos direitos de Gabriel para ele ficar. Sem saída, Nobre cedeu. Renovou o vínculo até 2019. Mas o Palmeiras ficou com apenas 30% dos direitos do jogador. O clube tinha 80%. Era isso ou o jogador não renovaria.

Os salários saltaram para R$ 15 mil até o final do ano. Em 2016, pularão para R$ 25 mil. R$ 35 mil em 2017. R$ 45 mil em 2018. R$ 60 mil em 2019. Sua multa rescisória saltou de R$ 3 milhões para R$ 30 milhões. Mesmo diante de tanto sacrifício para segurar o jogador, o Palmeiras mostra o mesmo desprezo pela prata da casa. Ainda mais depois das 19 contratações de Alexandre Mattos. Oswaldo de Oliveira não o queria nem inscrever o menino entre os 28 que disputam o Paulista. Só o colocou porque os documentos de Cleiton Xavier não chegaram a tempo. Fábio Caran e Cristiano Simões não ficaram nada satisfeitos com a postura do treinador. Esta claro que Oswaldo não está com pressa alguma em utilizar o garoto de 17 anos. Acredita que ele poderá amadurecer ficando na reserva da reserva de jogadores com menos talento do que ele, como Maikon Leite, Rafael Marques, Leandro Pereira. Mas poderá ter uma desagradável surpresa. Gabriel Jesus tem treinado muito bem. E impressionado até jogadores mais vivido. Como Zé Roberto e Cristaldo. Caran e Simões não ficarão de braços cruzados esperando a boa vontade de Oswaldo. Já buscam clubes europeus. Não será surpresa se no meio do ano, eles surgirem com proposta pelo atacante. Mesmo sem que ele tenha feito uma partida como titular no time principal do Palmeiras. Parece absurdo. Mas Oswaldo de Oliveira precisa perceber o que está acontecendo. E ser justo. Se o garoto está jogando melhor do que seus titulares, deve escalá-lo. Nem que seja aos poucos. O treinador percebeu a pressão interna e de grande parte da imprensa para a escalação do atacante. A situação o irrita. É como se sua autoridade fosse questionada. "Quem tem que medir a hora dele sou eu. Sei que existe a ansiedade, mas a responsabilidade é minha. Não adianta fazer nada de forma apressada." Desta maneira, um grande talento da base pode ser novamente desperdiçada no Palestra Itália. Tudo dependerá da boa vontade ou não de Oswaldo de Oliveira. Um treinador como outro qualquer, que trabalha onde o salário é maior. E que não tem compromisso real com o patrimônio de um clube. Paulo Nobre que acorde. Neste pobre cenário do futebol, o Palmeiras pode deixar escapar um talento promissor. E que poderia render muito no futuro. Mas talvez esse futuro nem chegue a acontecer. Pedrinho continua certo...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 15 Feb 2015 13:33:09

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