segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Palmeiras é vítima de suas 19 contratações, de Alexandre Mattos, da nova arena, do milionário patrocinador. Um time não se forma de uma hora para outra. Por isso tanta frustração...

Palmeiras é vítima de suas 19 contratações, de Alexandre Mattos, da nova arena, do milionário patrocinador. Um time não se forma de uma hora para outra. Por isso tanta frustração...




Ninguém contratou tanto e tão bem como o Palmeiras em 2015. Foram 19 reforços. O goleiro Aranha, os zagueiros Vitor Hugo, Victor Ramos e Jackson, os laterais Lucas, João Paulo e Zé Roberto, os volantes Amaral, Gabriel, Arouca e Andrei Girotto, os meias Robinho, Ryder, Cleyton Xavier e Alan Patrick e os atacantes Dudu, Rafael Marques, Leandro Pereira e Kelvin. O clima antes dos estaduais começarem era de pura euforia. O Palmeiras vivia uma expectativa absurda. Mais até do que os clubes classificados para a Libertadores. Até porque seu centenário, em 2014, foi vergonhoso. Porém bastaram três jogos oficiais. Duas derrotas em pleno novo estádio. Contra Ponte Preta e o time misto do Corinthians. E Oswaldo de Oliveira já foi hostilizado, teve de ouvir palavrões. Foi chamado de burro, incompetente pela revoltada torcida palmeirense. Uns afobados já pediram até sua demissão. Afinal, 19 reforços, estádio e dinheiro à vontade não bastaram? A vergonha vai continuar? O que acontece no Palmeiras é simples. Tudo é muito exagerado, precipitado. Há uma ansiedade que só é explicada pela história vitoriosa do clube no século passado. E pelos dois rebaixamentos, que estão recentes demais na memória do torcedor. Em 2002 e 2012. A ansiedade em virar a página, esquecer a frustração, voltar à época das conquistas, fazem com que a emoção perca para a razão. Uma equipe não se monta de um dia para a noite. O elenco acabou de terminar a pré-temporada. Dos 19 contratados, Oswaldo não pôde colocar em campo peças fundamentais. Como Arouca e Cleiton Xavier. Fora o principal jogador do elenco. Aquele, cuja ausência, virou desculpa fácil para qualquer técnico: Valdivia.

Oswaldo de Oliveira não é um treinador brilhante. Longe disso. Mas trouxe dos anos que passou no Japão uma característica muito interessante. Seus times são ofensivos, compactos, modernos, velozes. Botafogo e Santos foram bons exemplos. No clube carioca onde a expectativa era baixa, conquistou dois torneios estaduais e classificou o time para a Libertadores. Mesmo com salários e direitos de imagem atrasados. A pontos de emprestar dinheiro seu para atletas pagar aluguel, fazer supermercado. No início do ano passado no Santos, as dificuldades financeiras eram um pouco menores. Mas também conviveu com atrasos salariais. Ter levado o time à final do Paulista acabou sendo sua maldição. Perdeu para o Ituano, muito bem montado por Doriva, e caiu em desgraça com a diretoria, com a torcida. Mesmo tendo ido mais longe do que Corinthians, São Paulo e Palmeiras. Quando Leandro Damião e os atrasos se tornaram fardos pesados demais para carregar, ele reclamou publicamente. Foi demitido. Com três meses se salários a receber. Qualquer treinador que assumisse o Palmeiras em 2015, com o bilionário Paulo Nobre mudando sua filosofia, abrindo os cofres para a contratação seria pressionado. Ainda mais com o hábil novo homem do futebol, Alexandre Mattos. Ao contrário do ultrapassado Brunoro, ele sabe negociar. Conversar com jogador, procurador, dirigente adversário. É ótimo negociante. Por isso as 19 contratações de uma vez.

Enquanto isso, o Palmeiras se livrou 21 jogadores do time que quase rebaixou o clube em 2014. A diretoria também mandou embora Dorival Júnior, pouco importando que ele tivesse profunda identificação com o Palmeias. Tivesse sido jogador e fosse sobrinho de Dudu, o grande volante da "segunda academia", time muito vitorioso na década de 70. Fora isso, o Palmeiras passaria a usar a sua nova, moderna e belíssima arena. Elenco, treinador e estádio novo. Não há no Brasil clube que comece 2015 cercado de tanta expectativa. A imprensa de modo geral fez matérias e matérias sobre o novo Palmeiras. Vendeu a garantia que tudo seria diferente. E deverá ser. O elenco é muito mais forte do que o do ano passado. O ansioso torcedor comprou, com prazer, a ideia de que o time começaria acumulando vitórias e mais vitórias. Caberia a quem é o comandante desse "novo" Palmeiras, alertar que uma equipe leva tempo para ser formada. Até lá, resultados ruins poderiam vir. Mas não havia clima, ambiente, para pés no chão. Todos comentavam os chapéus que a diretoria deu no São Paulo e no Corinthians contratando Dudu. E mais manchetes para, em plena recessão nacional e crise mundial, Paulo Nobre dobrar o olé em Carlos Miguel Aidar. Assegurar R$ 23 milhões por temporada pelo patrocínio master da camisa. Jogadores, estádio, apoio integral da diretoria, dinheiro e certeza de milhares de torcedores apoiando o time. Oswaldo não teve força para domar a euforia precoce. Não basta juntar 19 bons jogadores com um jogador tão talentoso quanto problemático como Valdivia. É preciso tempo, paciência. Tudo o que o palmeirense não quer oferecer.

A pressão só aumentará. Ainda mais porque estaduais oferecem adversários fraquíssimos, que se prestam a recuperar clubes grandes. A próxima sequência do Palmeiras não assusta. Rio Claro em casa, já na quarta-feira. Depois, São Bento, Penapolense, fora. Capivariano e Bragantino em casa. Só depois destes cinco jogos, o clássico contra o Santos na Vila Belmiro. Serão cinco jogos, 15 pontos, que Oswaldo de Oliveira sabe: tem a obrigação de conquistar. Não há comparação entre os elencos. Os times não são tão arrumados quanto Ponte Preta e time misto do Corinthians. O técnico deverá conhecer muito melhor seus jogadores. Poder dar um mínimo de entrosamento necessário para começar a virar uma equipe de futebol. Talvez até a compreender que Zé Roberto é um desperdício de talento, preso no corredor da lateral esquerda. No meio de campo, ao lado de Arouca, Valdivia e Cleiton Xavier ou Robinho, pode formar um excelente meio de campo. E ainda dar chance a uma das poucas coisas boas de 2014, o ala Victor Luiz. Só com a calma que as vitórias trazem, Oswaldo poderá fazer o gosto de Paulo Nobre. E dar chance para Gabriel Jesus, de apenas 17 anos. Ele é a maior esperança da base, desde Vagner Love. Diante de tanta expectativa que o clube mesmo criou, tudo que o Palmeiras precisa agora é de tranquilidade. E firmeza no trabalho. Porque a euforia pode virar decepção de maneira precoce. Tudo que precisaria ser feito, foi. Brunoro saiu. Alexandre Mattos, formador do Cruzeiro atual bicampeão do Brasil, chegou. O elenco e treinador foram trocados. Melhores desembarcaram no clube. A nova arena é excelente. O dinheiro dos patrocinadores, da tevê e do bolso de Paulo Nobre garantem salários e direitos de imagem em dia. Só resta a paz para que tudo planejado seja colocado em prática. As duas derrotas foram inesperadas e doloridas. Mas é preciso compromisso com a realidade. Futebol não é videogame. Não adianta juntar 19 bons jogadores em um clube. Uma equipe não se forma de um dia para a noite. É isso que o carente torcedor palmeirense terá entender. Fazer o mais difícil. Domar a expectativa e a frustração que duelam no seu peito desde que o século 21 insistiu em começar...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 09 Feb 2015 05:44:05

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