segunda-feira, 16 de março de 2015

A Arena da Amazônia será uma das sedes do futebol na Olimpíada. Não há o que comemorar. É ilusão, disfarce do desperdício de R$ 670 milhões dos cofres públicos. Vergonhoso elefante branco...

A Arena da Amazônia será uma das sedes do futebol na Olimpíada. Não há o que comemorar. É ilusão, disfarce do desperdício de R$ 670 milhões dos cofres públicos. Vergonhoso elefante branco...




Mera tentativa de salvar da morte, por inanição, o maior elefante branco construído para a Copa do Mundo: a Arena da Amazônia. Foram quatro anos até o estádio ficar pronto. O projeto megalomaníaco custou R$ 650 milhões aos cofres públicos. O dinheiro saiu do governo do estado, que envolveu um empréstimo de R$ 400 milhões do BNDES. Um esforço imenso para apenas quatro partidas: Croácia 4 x 0 Camarões; Itália 2 X 1 Itália; Suíça 3 X 0 Honduras; Portugal 2 X 2 Estados Unidos. A Fifa exigiu que só partidas da primeira fase acontecessem no estádio. Nos vários congressos técnicos até o Mundial, várias seleções insistiram que era loucura disputar uma partida de Copa em Manaus. Por causa do calor e, principalmente, da umidade relativa do ar. Quando ficou definido que ingleses e italianos seriam obrigados a jogar lá, jornalistas europeus chegaram a classificar como insanidade. "Manaus não é o lugar ideal para jogar futebol porque fica no meio da floresta tropical, da selva amazônica, onde as temperaturas e a umidade são muito maiores do que em qualquer outra parte do país. É um lugar a ser evitado", declarou o técnico britânico Roy Hodgson. Suas palavras provocaram enorme mal estar. A ponto de obrigá-lo a se desculpar. "Acho quase irresponsável que se jogue futebol num lugar desses no meio da selva, no meio da Amazônia... Acho que o lado comercial assumiu a precedência, e não estou de acordo com a Fifa. Salvador é muito quente, Manaus é pior ainda, porque você está jogando em um clima úmido e tropical, com 95 por cento de umidade, e uma temperatura entre 30 e 40 graus." Esta foi a análise crua do técnico da Suíca, Ottmar Hitzfeld, também forçado a atuar na arena. A Arena da Amazônia foi uma das que o presidente Joseph Blatter se referiu que não fazia parte dos seus planos. A Fifa queria oito, no máximo dez arenas para a Copa. Mas, por ajuste político, Lula impôs 12 sedes. Entre elas, Manaus. A desculpa dada seguiu pelo caminho fácil. O futebol amazonense precisava se desenvolver. E Manaus não poderia perder a chance de ganhar publicidade no mundo todo. Além da receber torcedores e turistas endinheirados durante o Mundial. Nada deu certo. Todas as seleções que passaram pela cidade reclamaram do calor, da umidade relativa do ar. Deixaram claro ter sido um sacrifício jogar por lá. Fora a enorme distância, o deslocamento. A cobertura de jornalistas europeus não foi nada favorável. Quase todos os veículos batizaram esses quatro confrontos de "jogos na selva". O futebol amazonense não teve qualquer alteração depois da inauguração da arena. Seus 42 mil lugares continuam exagero ridículo diante da média de 800 torcedores no estadual. Depois da Copa do Mundo, apenas quatro partidas aconteceram no estádio. Uma pela Copa do Brasil e três do Campeonato Brasileiro. Nenhuma envolvendo clubes amazonenses, o que desmente a tese de desenvolvimento do futebol local. Oeste e Vasco, Botafogo e Corinthians, Botafogo e Flamengo e Flamengo e Vitória. Cotas fixas foram pagas aos mandantes. Nestas partidas, o preço dos ingressos foi indecente para a economia local. Entre R$ 50,00 e R$ 80,00 para os lugares mais populares. Flamengo e Vitória, os preços: R$ 80,00, R$ 120,00 e R$ 250,00! Resultado, pouco mais de 20 mil pessoas foram à partida. Prejuízo de todos os lados.

Além disso, o padrão Fifa não existe mais. Tufos de grama saíram constantemente do campo. Jogadores reclamaram demais da péssima condição do piso, disfarçado com areia e tinta. A imprensa inglesa já reclamou dessa mesma estratégia na Copa do Mundo. Outra constatação. Não há mais lugares numerados. Ou seja, quem comprar arquibancada pode sentar onde quiser. Os organizadores não gastam em funcionários para orientar os torcedores. No início do ano, como fase final da pré-temporada, São Paulo, Flamengo e Vasco disputaram um torneio em Manaus. Ele foi batizado de Super Séries. Os preços: R$ 70,00, R$ 110,00, R$ 140,00, R$ 200,00 e R$ 300,00. Os treinadores detestaram levar suas equipes para o Amazonas. As viagens foram desgastante. Mas cada clube recebeu cota fixa de R$ 1 milhão. O público outra vez não correspondeu. Anéis superiores do estádio deixaram de ser usados por falta de torcedores. São Paulo e Vasco, por exemplo, levou pouco mais de oito mil pessoas... Os clubes amazonenses alegam não ter como garantir R$ 100 mil para abrir a arena. Preferem jogar no estádio smael Beningo, conhecido como Colina. Sua capacidade de 10,5 mil pessoas fica muito longe de ser alcançada no fraquíssimo torneio local. Mas os prejuízos são muito menores.

O governador José Melo sabia das Olimpíadas. E não queria de maneira alguma que o seu estado ficasse fora. Ligado a José Maria Marin, ele fez o apelo, que também chegou a Marco Polo del Nero. E hoje veio a confirmação: Manaus será uma das sedes do Jogos. Vale a pena destacar. Apenas hoje, na Suíça, Marco Polo confirmou as sedes. Mas querendo mostrar poder, o governador Melo antecipou Manaus na Olimpíada para a imprensa. No mês passado já deu essa garantia. As outras sedes do torneio de futebol em 2016 : Rio de Janeiro, (Maracanã e Engenhão); São Paulo (Itaquerão), Belo Horizonte (Mineirão), Brasília (Mané Garrincha) e Salvador (Fonte Nova). O governador pode ter força em relação à CBF. Mas o erro de R$ 757 milhões está encravado na capital do Amazonas. Custando R$ 6 milhões para a manutenção por ano. Um estádio gigantesco para o futebol modesto local. O ideal seria a construção de uma nova arena, mas de, no máximo 20 mil lugares. Existem várias delas espalhadas na Europa. Mas a megalomania, a festança com o dinheiro público atingiu Manaus. Assim também como Cuiabá, Brasília e Natal.

José Melo deve ser avisado. A Olimpíada tem a sua abertura confirmada para o dia 5 de agosto. E seu encerramento, 16 dias depois, dia 21. É uma festa muito rápida. A ilusão durará muito pouco tempo. As fases finais do torneio de futebol masculino e feminino não acontecerão em Manaus. Acontecerá algo parecido com o que se passou na Copa e suas quatro partidas. Desde o início da construção da arena, em 2010, há a tentativa de vendas do naming rights. Só que nenhuma empresa se interessou em pagar para ter seu nome do estádio. Nem a pressão da prefeitura e do governo estadual conseguiu nada produtivo. Um dia depois da manifestação contra a corrupção, o brasileiro deveria pensar no desperdício do dinheiro público. Ainda mais com o país mergulhado em profunda recessão. A Arena Amazônia é grande demais para o futebol manauara. Nunca foi segredo para ninguém. Mas com o passar do tempo tudo está ficando absurdo, insustentável. Só que todos fingem não enxergar. Sempre vale a pena lembrar das palavras do ex-governador do Amazonas, Omar Aziz, há um anos. Questionado sobre o dinheiro desperdiçado na arena, ele mostrou como agem os políticos deste país. "O problema é nosso, nem de vocês. Isso é um problema do povo amazonense. Não é da imprensa do Sul. Deixa isso com a gente. Se nós tivemos competência para construir uma Arena desse porte a um preço muito mais barato que outras arenas, teremos competência para construir um legado." O dinheiro envolvido na construção da Arena da Amazônia foi federal. O BNDES não é um banco privado de Manaus. Muito pelo contrário. De todo o país. O mais legítimo elefante branco definha. Iludiu alguns com a Copa e fará o mesmo com seus poucos jogos na Olimpíada. Só que antes e depois, não se sustenta. Uma arena lindíssima. E inútil. R$ 670 milhões desperdiçados. Este é o legado...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 16 Mar 2015 13:22:48

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