sexta-feira, 13 de março de 2015

Nunca ninguém definiu tão bem o São Paulo de Muricy, de Carlos Miguel Aidar. Há muito tempo faltam 'colhões' no Morumbi. O uruguaio Alvaro Pereira está cheio de razão...

Nunca ninguém definiu tão bem o São Paulo de Muricy, de Carlos Miguel Aidar. Há muito tempo faltam 'colhões' no Morumbi. O uruguaio Alvaro Pereira está cheio de razão...




Foram feitas milhões de teorias para definir o São Paulo de 2014 e 2015. Por que um elenco caro, montado com jogadores importantes como Ganso, Rogério Ceni, Luís Fabiano, Alan Kardec, Michel Bastos, Pato, Centurión, Souza não se impõe? Treinados pelo tetracampeão deste país, Muricy Ramalho? Por que tantas decepções? Só alguém que conviveu na intimidade deste grupo pode definir. Foi o que fez Álvaro Pereira. O uruguaio acompanhou da Argentina, no seu novo clube, o Estudiantes, a derrota para o Corinthians. E não teve dúvidas no que escrever a Rogério Ceni. "El segredo és tener más huevos que esperanza". Não, ele não defendia as propriedades, as vitaminas dos ovos. Mas sim o que Rogério Ceni traduziu do espanhol chulo, direto. "O Álvaro disse que, no fim, (o time) tem de ter colhão." Ficou até estranho o capitão e politicamente correto Rogério Ceni falar palavra tão pesada. Me lembrei imediatamente de Edmundo, jogador que nunca teve nada a ver com o goleiro são paulino. 22 anos atrás. O Palmeiras vinha de um jejum de 17 anos sem títulos. A Parmalat da Itália lavou o clube com dinheiro para contratar grandes jogadores. Eles foram parar nas mãos do então jovem e ambicioso Vanderlei Luxemburgo. O clube conseguiu arrancar a grande revelação vascaína, o marrento Edmundo. O time estava ainda se entrosando e marcamos uma entrevista exclusiva. Ele resumiu a situação. Da sua maneira, espontânea, sem rodeios. "Não adianta ter Antônio Carlos, Evair, Zinho, Sampaio, Edílson, Mazinho, Luxemburgo e a porra toda. Não adianta craque. Muito menos ficar trocando abracinho antes do jogo. Se o time não tiver "culhão" não chega em lugar nenhum. O segredo é "culhão". Se assumir em campo. Somos bons e vamos ganhar essa porra." Como estávamos há duas décadas, o chefe do jornal mandou amenizar os palavrões. O "culhão", com u, virou raça na edição impressa. Mas como tive a sorte de cobrir aquele time bicampeão brasileiro e paulista, quando os estaduais eram importantes, entendi perfeitamente o que ele falava.

Edmundo detestava Antônio Carlos, que não se dava bem com Edílson, que achava Rivaldo fominha, que gostaria que Evair fosse mais rápido, que odiava os toques de lado de Zinho. Mazinho só pensava na Europa. Luxemburgo, como sempre, só pensava nele. E ninguém confiava em Tonhão. O presidente Mustafá Contursi odiava o narcisismo de Luxemburgo. Se pudesse o demitiria, mesmo sabendo que, naquela época, era o melhor do Brasil. Apenas o suportava por causa de Gianni Grisendi, presidente da Parmalat no Brasil. Mas quando a bola rolava, "culhão" era o que não faltava. Os jogadores se desdobravam em campo, impunham sua qualidade, com talento, vontade. Pareciam querem sugar o sangue dos adversários. Não admitiam perder. Tinham amor próprio, raça. Não havia frescura. Todo ressentimento ficava no vestiário. Os jogadores não estavam interessados em colecionar amigos, mas títulos. Troca de socos entre Edmundo e Antônio Carlos, palavrões, ameaças de afastamento, instruções aos gritos de Luxemburgo. Tudo ficava nos vestiários. Em campo, aquele time justificava tanto investimento, tanta esperança. Quando Cafu, Cléber e Rincón chegaram, a cobrança ficou ainda maior. O São Paulo vive situação idêntica. Só que não reage. Alvaro Pereira esteve lá. O uruguaio que dava carrinho com a cabeça percebeu que só o talento dos seus companheiros, as orientações de Muricy não adiantavam. E os resultados do time são decepcionantes, pífios para o elenco que tem. Faltam coração, raiva, vontade de se impor. Cobrança, gritos, palavrões não existem nos vestiários. Todos, sem exceção, se mostram apáticos, conformados. A cobrança de Rogério Ceni não tem ressonância. Muricy Ramalho é um caso à parte. Por determinação médica por causa do stress, ele mudou muito. Não vibra, não chuta garrafas de água, não grita nem nos vestiários. Controla a pressão arterial, não quer saber de novas arritmias. Seus auxiliares Tata e Milton Cruz estão longe de serem agressivos. O vestiário são paulino é gelado. O time se porta da mesma maneira nas vitórias mais difíceis como nas derrotas contra adversários frágeis. Esse comportamento já irritava profundamente Juvenal Juvêncio. Ele cobrava de Muricy mais vibração, mais autoridade do time. Juvenal passou e a situação perdura. O explosivo vice de futebol, Ataíde Gil Guerreiro, não sabe o que fazer. Suas cobranças aos jogadores não são bem-vindas. Pelo contrário, até. Muitos já ficaram ressentidos com a tentativa de questionamento. Muricy também não o aceita de peito aberto. Resignado ou não, o vestiário é do técnico e ele não abre mão.

Carlos Miguel Aidar resolveu cobrar títulos de Muricy pelas rádios. E tudo o que provocou foi enorme ressentimento. Há a certeza do treinador que o presidente o quer longe por sua grande amizade com Juvenal Juvêncio. A relação entre eles não poderia ser mais fria. Ataíde na semana passada piorou ainda mais as coisas. Disse que, se Muricy resolvesse se aposentar esse ano, contrataria um treinador europeu. Iria revolucionar o futebol do São Paulo. Muricy se sentiu desprestigiado. E se distanciou ainda mais de Ataíde e Aidar. Após a pífia vitória contra o São Bento, ontem, ele fez questão de tornar público o que até os pipoqueiros do Morumbi sabem. O clube está rachado. De um lado, o técnico e seus jogadores. Do outro, a diretoria. "Aconteceram fatos neste ano que não estão iguais ao ano passado. Está diferente. Isso não é bom e tira a tranquilidade. Não dá resultado. Prejudica muito. Mas pressão no futebol é normal. Time grande tem de jogar bem e ganhar. É assim mesmo. Temos de estar mais unidos e juntos. Não adianta separar. Estamos muito divididos. A verdade é essa e não podemos esconder. Mas ninguém chega em mim e pressiona. Tem de ter coragem e ser forte para me peitar. Eu gosto desse tipo de pessoa, que encara."

Ele foi claro. Juvenal tinha coragem de encará-lo, conversar diretamente, cobrá-lo. Ataíde e Aidar preferem os recados. A pressão vem "de fora para dentro", como diz Muricy. Essa pressão tem o efeito de veneno. Principalmente para uma equipe rica e acomodada. A falta de resultados significativos para tantos jogadores talentosos se explica. Pura falta de entrega. Os jogadores do São Paulo, além de chuteiras caríssimas, pose na hora de bater na bola, se abraçar diante da torcida, precisam de algo básico no futebol: vergonha na cara. Estão em um dos maiores clubes do mundo e não percebem. O grupo é omisso, conformado, politicamente correto demais. Aceita derrotas como a coisa mais natural do futebol. Por isso Alvaro Pereira destoava. E foi defenestrado pela diretoria. O uruguaio detectou e resumiu de maneira magistral o que falta para esse São Paulo de Muricy, Ataíde e Carlos Miguel Aidar. Time que entra em campo com a cabeça baixa, derrotado. Huevos. Ou seja o bom e velho "culhão", como definiria Edmundo Alves de Souza Neto...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 13 Mar 2015 09:59:28

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