sexta-feira, 10 de abril de 2015

O São Paulo vive entre a soberba e a realidade. Sabella, Luxemburgo, Abel e Sampaoli rezariam para serem contratados. Na verdade, o clube sonha com um dos quatro. E dá o time a Milton Cruz...

O São Paulo vive entre a soberba e a realidade. Sabella, Luxemburgo, Abel e Sampaoli rezariam para serem contratados. Na verdade, o clube sonha com um dos quatro. E dá o time a Milton Cruz...




A soberba é um sentimento traiçoeiro. Impede de enxergar a realidade. Uma defesa fantasiosa. Ela se torna perigosa porque vai além da arrogância, falseia a realidade, insistem muitos psicanalistas. A definição cabe muito bem com o que ocorre com a diretoria do São Paulo. Depois de conduzir de maneira amadora a doença e, ainda bem pior, a demissão de Muricy Ramalho, chegou a hora de buscar o substituto. Carlos Miguel Aidar e Ataíde Gil Guerreiro fizeram vazar na imprensa. Seus quatro treinadores pretendidos: Alejandro Sabella, Vanderlei Luxemburgo, Abel Braga e até Jorge Sampaoli aceitaram o convite. Sites e jornais seguem o caminho escolhido para a dupla para acalmar torcedores, conselheiros e companheiros de diretoria. Agem como se os treinadores estivessem desesperados, ávidos para ter a oportunidade de trabalhar no Morumbi. Como se o clube ainda fosse o vanguardista da década de 80 e 90, quando parecia um europeu perdido nos trópicos. Quando virou referência de modernidade. Valorizou Centro de Treinamento, Fisiologia, Medicina Esportiva, Preparação Física de Alto Rendimento, Nutrição. Os garotos ganha Telê Santana não ficou seis anos seguidos por acaso. Só saiu por ter sofrido uma isquemia cerebral. Perfeitamente casado com a filosofia revolucionária são paulina. Foi quando o clube mexeu com a estrutura do futebol brasileiro ao antever a importância da Libertadores da América. Valorizou a competição e difundiu a importância da globalização. Não havia nada de original no planejamento do São Paulo de décadas anteriores. Os conceitos vieram da Europa. Mas foram tão bem difundidos, enraizados, que deram frutos até bem pouco tempo. Só que o sucesso trouxe a acomodação e a inveja. Juvenal Juvêncio comandou com mão de ferro por dez anos. Nos últimos deles, por ter estraçalhado a oposição, o dirigente permitiu a estagnação. Não percebeu a necessidade de continuar buscando aprimoramento. Adormeceu. Quando despertou, enxergou a modernização de clubes poderosos como Corinthians, Cruzeiro, Internacional, Grêmio e, mais recentemente, Palmeiras. Sem energia e adoentado, Juvenal precisava de um sucessor. Alguém que seguisse a sua mesma filosofia. Nos últimos anos consecutivos, pensou em alguns herdeiros. O principal deles deveria ser Adalberto Baptista. Milionário, apaixonado pelo São Paulo, autoritário e muito fiel ao então presidente. Estava tudo certo. Até que foi testado no comando do futebol do clube. Foi um desastre. Implodiu o elenco, escolheu mal jogadores e treinadores. Teve de se demitir.

Foi quando Juvenal decidiu recompensar o homem que o fez diretor de futebol. Abriu o caminho para que se tornasse o caudilho do Morumbi. Milionário, dono de um escritório de advocacia consagrado, ex-presidente da OAB, fundador do Clube dos 13 e filho de Henry Aidar, dos mais importantes dirigentes da história do São Paulo: Carlos Miguel Aidar. A escolha calou a oposição e os vários candidatos da oposição. Carlinhos, como é conhecido entre os dirigentes mais velhos, teve uma administração muito boa nos anos 80. Agora, muito mais velho, completará 69 anos em agosto, estaria pronto para fazer o São Paulo voltar à vanguarda. Juvenal só queria o controle do seu amado Centro de Treinamento de Cotia, destinado aos garotos. Juvenal tinha tanta certeza a escolha correta que chegou a abandonar várias vezes seu tratamento de câncer na próstata para auxiliar a candidatura de Aidar. Só que eleito, Carlinhos se desentendeu com seu protetor. A briga foi feia, pessoal, envolveu familiares. Com o poder nas mãos, Carlos Miguel fez Juvenal passar pela vergonha maior, ser demitido de Cotia. E tratou de acusar o ex-presidente pelo atraso que o São Paulo mergulhou. A começar pelo Morumbi, que assumiu ser um estádio velho, ultrapassado. Ele queria construir uma nova arena. Não conseguiu apoio. Buscou a reformulação do estádio, a oposição liderada por Juvenal, barrou.

O clube não tem a mesma facilidade para impressionar patrocinadores. O dinheiro faltou. As dívidas que já passam de R$ 200 milhões atrapalham. Salários, direito de imagem e até premiação passaram a atrasar. Jogadores não escondem seu descontentamento nos bastidores. Nas catacumbas do off, como dizia um jornalista amigo. Muricy não tinha saúde para fazer um bom trabalho há pelo menos um ano. Mas Aidar se via protegido. Tinha no treinador amado pela torcida e supervalorizado pela imprensa um escudo. Ele desviava o foco da grave crise administrativa, do atraso vivido pelo São Paulo. O ultrapassado Morumbi perdeu, com Juvenal, os clássicos, os shows, a Copa do Mundo. As arenas dos rivais Corinthians e Palmeiras reúnem o que há de mais moderno no mundo. Com um grupo descontente, desmotivado, envelhecido e sem a cobrança forte de um treinador saudável, o São Paulo naufraga em campo também. Mas Carlos Miguel Aidar não perde a pose. Entrou em contato com Alejandro Sabella, ex-treinador da Seleção Argentina. O dirigente deixou vazar que o técnico vice campeão do mundo já aceitou. Só que a situação não é bem assim. Sabella não quis renovar o contrato com os argentinos porque desejava trabalhar em um grande time da Europa a partir do meio de 2015. Pegar uma equipe desde o início da temporada. Representantes de clubes europeus sabem de sua intenção Seu representante tenta, desesperadamente, encaixá-lo no Manchester City. O chileno Manoel Pellegrini estaria pronto para ir embora.

A situação ainda está longe de uma definição. Mas os dirigentes do São Paulo vazam que na terça-feira, o argentino acertará sua vida. O mesmo valeria para Vanderlei Luxemburgo. O técnico também teria ficado de joelhos com a chance de trabalhar no Morumbi, que seria um velho sonho seu. Aidar ironiza as portas fechadas a ele pelo falecido presidente Marcelo Portugal Gouvea, por Juvenal Juvêncio e pelo ex-responsável pelo futebol, João Paulo de Jesus Lopes. "Nenhum dos três está mais no São Paulo." Ou seja, por ele, tapete vermelho para Luxemburgo. Mas ele quer que o treinador se vire em relação à multa de R$ 1,2 milhão com o Flamengo. E espere a definição de Sabella, o preferido. Vanderlei teria se submetido e avisado que, "pelo São Paulo, tudo". Aceitaria ficar como mera opção. Assim como Abel Braga. O técnico teria não só já aceito. Mas também na geladeira como um pedaço de bacon, esperando ser lembrado. E até decidido virar as costas aos árabes que poderia pagar R$ 1 milhão por mês. E, submisso, sabe que ficaria como terceira opção. Atrás de Sabella e Luxemburgo. Assim, dirigentes do São Paulo querem que todos acreditem. Também entrou nessa conversa Jorge Sampaoli. O treinador argentino comandante do Chile. Ele teria mandado responder que, se o clube esperasse o fim da Copa América, ele viria correndo. Dinheiro seria detalhe. Esta é a versão da soberba. Na verdade, Milton Cruz foi avisado que comandará o time contra o Red Bull, nas quartas do Paulista. Se ganhar, fica para a semifinal e, se tudo der certo, a final. Ele também que se vire na Libertadores. Vença não só o Danúbio como o Corinthians. Classifique o clube no Grupo da Morte. E depois, procure um novo clube. Muito ligado a Juvenal, Milton sabe que deverá ser dispensado assim que um novo técnico chegar. Por isso sua alegria foi embora há muito tempo nos treinos.

Os quatro treinadores pretendidos, "de impacto", como quer Ataíde e Carlinhos, ainda têm vários obstáculos. Não estão "na mão" como está sendo vazado para jornalistas amigos. O clube não é a preferência de nenhum deles. O descontente Milton Cruz, homem de Juvenal, poderá ficar mais tempo do que parece. Para desgosto dos dois homens que mandam no futebol. Assim caminha o São Paulo. Convivendo entre a realidade e a fantasia...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 10 Apr 2015 11:19:27

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