Ele teve Flamengo, Internacional, Santos, Atlético Mineiro e Grêmio aos seus pés. Mas disse não. Queria a Seleção Brasileira. Ficou em quarentena desde que o Corinthians não quis renovar seu contrato no final do ano passado. Aconselhado por seu empresário, tentou repetir os passos de Felipão. Mas não teve o apoio irrestrito do ministros dos Esportes Aldo Rebelo. E também não se livrou da marca de "homem de Andrés". Apesar de último técnico campeão mundial e capaz de dar a inédita Libertadores ao Corinthians, ficou fora da Seleção. "Estou frustrado", resume Tite, abrindo a alma. O técnico amarga a sua derrota mais dura de digerir. Ele sabe que tem muito mais currículo como treinador do que Dunga. A convicção que o domina é que o direito de reestruturar, modernizar a Seleção Brasileira deveria ser sua. Foi quem mais se preparou para isso. Depois da emocionante saída do Corinthians, Tite não parou de estudar. Viajou várias vezes para a Europa, berço do futebol mais moderno taticamente. Ele fez questão de se reciclar. Cada vez que embarcava, sua eficiente assessoria de imprensa fazia questão de espalhar a notícia. Foi massacrante, pedante até. A vontade de jornalistas que trabalham com ele passou dos limites. E trabalharam contra sem perceber. Eles são assessores também de Bernard. E foram para a Granja Comary em plena Copa do Mundo. Embora fossem bem tratados pela frente, repórteres do Brasil todo criticavam a postura. E colocaram na conta de Tite. Acreditavam ser ordem de Tite, seus assessores ficarem nos treinos de Felipão. Até mesmo a antiga Comissão Técnica do Brasil ficou raivosa com a "invasão". Marin e Marco Polo del Nero também souberam e não gostaram. Foi um grande ponto negativo na briga do ex-treinador para voltar à Seleção. Tite se iludiu também em relação à sua ligação com Andrés Sanchez. Acreditou que a cúpula da CBF já soubesse que ele estava afastado do ex-presidente corintiano. Tanto que ficou muito magoado com ele quando não teve apoio para mais uma renovação no Parque São Jorge. Ficou ainda mais abalado ao saber que Mano Menezes já havia acertado sua ida ao clube antes mesmo de Tite ser avisado que não continuaria.
Marin e Marco Polo não sabiam e não tiveram o menor interesse em saber. Ambos simplesmente não toleram ouvir nada relacionado ao ex-dirigente. Não o perdoam. Não só por ele querer tirar o poder da dupla, prometer que em 2018 quando voltar à presidência do Corinthians jura que "arrebentará a CBF". Em uma entrevista, Andrés sugeriu que Marin, 82 anos, e Marco Polo, 73 anos, já estão velhos demais. E que não poderiam estar no poder para sempre. Tocou no ponto fraco da dupla. Desde então, a ordem na CBF é virar as costas a tudo que se relacione ao ex-presidente corintiano. Tite sofreu esse efeito colateral. Adenor está amargurado. Seus assessores fazem questão de oferecer entrevistas do treinador para que não seja esquecido. Seja lembrado. Só que a situação de Tite não é animadora. Quando a Seleção Brasileira caiu nas mãos de Dunga, os jornalistas que trabalham com ele avisaram. Ele negociava com o Japão e havia contatos com outros selecionados. O incrível é que quando essa notícia chegou às redações, o mexicano Javier Aguirre já havia assinado com os nipônicos. E se havia outro país negociando com Tite não há mais. Ele mesmo faz questão de dizer que vai voltar a trabalhar em clubes brasileiros. Mas em 2015. Precisa se recuperar emocionalmente da frustração de a Seleção ter escapado das suas mãos. Seus assessores de imprensa e seu empresário Gilmar Veloz falharam. Por constrangimento, bondade ou desconhecimento dos bastidores do futebol brasileiro. Tite nunca foi cogitado para assumir a Seleção. Já havia sido assim em 2012, quando havia acabado de ganhar a Libertadores e estava às vésperas do embarque com o Corinthians para o Japão, disputar o Mundial.
Quando Mano Menezes foi demitido da Seleção, seu coração disparou. Ele tinha certeza que seria o escolhido. O presidente Mario Gobbi chegou a dar entrevista avisando que não o liberaria. Tite ficou sem condições emocionais de falar com os jornalistas, tamanha sua ansiedade. Iria comandar o Brasil na Copa das Confederações, no Mundial, acreditava. Só "voltou à Terra" quando soube que Felipão ficaria com o cargo que julgava seu. A pressão da mídia, principalmente paulista, foi tão grande que Marco Polo sugeriu. E Marin concordou. O nome de Felipão foi anunciado antes do Mundial. A antecipação foi genial porque tudo ficaria ainda mais insuportável se o Corinthians ganhasse o título, como realmente acabou ganhando. Mesmo com a nomeação de Scolari e com a fraca campanha sua no Parque São Jorge em 2013, Tite continuou otimista. E seguiu em campanha pela Seleção. Ao sair do Corinthians, ela aumentou. Passou a agir como político. Com direito a assessoria divulgar sua agenda, suas viagens, suas visitas aos clubes europeus. E dá-lhe entrevistas mostrando como sua visão do futebol era moderna. Aceitou comentar até a final da Champions League para a ESPN. Não quis trabalhar em nenhuma tevê durante a Copa. Misturou modernidade com ética. O ex-treinador corintiano sabia que Felipão não continuaria no Brasil. Se ganhasse o Mundial sonhava com Itália, mas aceitaria de bom grado a Rússia, a anfitriã de 2018. Perdendo então, Tite conhece Marin e Marco Polo. Sabia que o treinador seria demitido. Na sua correta visão, o cargo ficaria vago.
O problema é ter acreditado que o cargo seria seu. Seus assessores e agente não conseguiram travar a sua egotrip. Ninguém lhe explicou de que a politicagem, o relacionamento pesam muitas vezes mais do que a competência, currículo para assumir a Seleção Brasileira. Rubens Minelli é a prova viva disso. Melhor treinador disparado do final da década de 70 e início da de 80, nunca chegou perto do cargo. O bairrismo imperou e a cúpula carioca que comandava o futebol não aceitou dar o cargo ao paulista. Por isso a profunda tristeza de Tite. Que ainda vai lhe consumir cinco meses para que tenha forças para voltar a trabalhar. Criou uma mundo paralelo na sua imaginação. E agora acordou. Virou as costas a grandes clubes esperando pelo convite que considerava obrigação da CBF. Despertou sozinho, com o gosto de injustiça na boca. Por isso repete a cada instante. "Estou frustrado." Bem-vindo ao futebol brasileiro, onde currículo e conquistas perdem para a política, Adenor. Levante essa cabeça. Feliz, 2015...
Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 20 Aug 2014 09:49:53
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