sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

"Pangaré", "bichado". Nenhum jogador no Brasil foi tão humilhado como Leandro Damião em 2014. Por isso a felicidade de ir para o Cruzeiro. Não quer voltar ao Santos nunca mais...

"Pangaré", "bichado". Nenhum jogador no Brasil foi tão humilhado como Leandro Damião em 2014. Por isso a felicidade de ir para o Cruzeiro. Não quer voltar ao Santos nunca mais...




"Um centroavante que não faz gol, pula dez centímetros do solo, não ganha essa coisa toda. Começou bem no Internacional, no ano seguinte ficou mais tempo na enfermaria do que em campo e ano passado era banco. Você comprar um jogador desse por R$ 42 milhões não faz sentido. A ideia do fundo maltês era colocá-lo em uma vitrine como o Santos, um dos poucos com prestígio internacional. Mas é você apostar em um pangaré: não vai ganhar um prêmio nunca." As palavras do ex-presidente do Santos, Luiz Álvaro, calaram mais fundo em Leandro Damião do que se pode imaginar. Ao ouvir a declaração dada em entrevista coletiva, em outubro, o agente do jogador, Vinicius Prates ficou revoltado. Só que teria ainda mais motivos para sair do sério. O então candidato à sucessão Fernando Silva não perdoou o diagnóstico de pubeite que chegou à Vila Belmiro. "Como pode pagar R$ 42 milhões a um jogador bichado?" Prates pediu a Leandro Damião ter paciência. Não criar problemas para seguir recebendo o salário de R$ 500 mil mais R$ 50 mil de auxílio moradia. Ele arrumaria outra equipe para o jogador atuar em 2015. Não seria obrigado a continuar no Santos, onde passou a ser constantemente vaiado. E, desde outubro, humilhado publicamente. A mágoa se tornou muito maior porque ambos souberam do interesse do Corinthians. Durante o recesso da Copa do Mundo, a contratação de Leandro Damião era muito contestada na Vila Belmiro. Dirigentes, conselheiros, chefes de torcida, a ferrenha imprensa santista. Ninguém se conformava com sua caríssima contratação. Oswaldo de Oliveira tentava explicar didaticamente ao então presidente Odílio Rodrigues o principal motivo para o fracasso do jogador. Ele não tinha velocidade para acompanhar o leve time santista, montado para atuar em contragolpes rápidos. Leandro Damião não conseguia se posicionar para concluir a gol, arrumar o corpo para chutar, cabecear. Ele perdeu gols de forma bizarra. Teria de ser reserva. Mas seu preço altíssimo impedia o técnico de agir livremente. Foi um período difícil, pesado para todos os lados. Foi quando em pleno Mundial, chegou uma proposta do Corinthians. O time propunha o empréstimo do jogador por um ano e meio. Até o final de 2015. O Santos teria de pagar metade do salário, R$ 250 mil. E seguir mantendo o auxílio moradia de R$ 50 mil. Os R$ 250 mil restantes ficariam com o clube do Parque São Jorge. Mano Menezes garantiu a Mario Gobbi que o recuperaria. A ponto de poder até abrir mão do peruano Guerrero.

Odílio Rodrigues sentiu um frio na espinha. Se ele emprestasse o jogador e ele voltasse a ser artilheiro justo no rival? Conselheiros e chefes de torcida não o perdoariam. Por receio, o presidente santista disse não. Aí que está a mágoa de Leandro Damião e seu agente. Os dois foram muito éticos. Não abriram a boca. O atacante continuou sendo massacrado, principalmente pela imprensa. Acabou na reserva do clube. Seria fácil demais ambos revelarem o interesse corintiano. E a situação seria amenizada. Mas preservar o Santos. Daí quando Luís Álvaro o chamou de "pangaré" e Fernando Silva o coloca como "bichado" foi demais. A partir daí, fosse onde fosse, Prates iria achar outra equipe. E teve contatos. Não os sonhados por Renato Duprat, empresário que representa a Doyen Sports, fundo maltês que comprou o jogador e esperava usar o Santos como vitrine. Nenhum clube europeu queria o ex-atacante da Seleção Brasileira. Bem diferente de 2012, por exemplo. Quando representantes de Milan, Juventus, Liverpool e Tottenham o sondaram no Internacional. A esperança teria de ser um empréstimo no mercado interno. Enviados do Palmeiras questionaram mas logo desistiram diante do salário. A instabilidade do clube também não interessava Leandro Damião. Foi quando surgiu o Cruzeiro. O clube que venceu os dois últimos brasileiros queria um definidor. Marcelo Oliveira não escondeu para os dirigentes mineiros. Preferia o santista a Marcelo Moreno. Apesar da má fase, via nele um poder maior de definição. O que era ótimo, já que o Grêmio não aceitava novo empréstimo do boliviano. Queria vendê-lo. Prates se antecipou aos dirigentes santistas. Tratou de se acertar com representantes cruzeirenses. Leandro Damião ficou entusiasmado com a proposta. E ambos fizeram questão de colocar em prática a estratégia que o tiraria da Vila Belmiro. Estavam liberadas as declarações entusiasmadas em relação a jogar em Belo Horizonte, a felicidade por vestir a camisa azul celeste, a qualidade excepcional do pão de queijo. "O Damião está com a cabeça no Cruzeiro. Esperamos fechar este negócio semana que vem, no mais tardar segunda-feira. Ele quer jogar no Cruzeiro", disse Prates, sem a transação estar fechada. Forçou a barra de maneira clara. O empresário e o atacante sabiam o que faziam.

Foram firmes. Não iriam continuar no clube onde um ex-presidente o comparou a um pangaré. Ou o terceiro candidato mais votado à presidência o qualificou como "bichado". Além disso, os direitos de imagem já chegavam a três meses de atraso. A direção santista percebeu que não haveria volta. E nem o novo presidente Modesto Roma queria. Ele é mais um na longa lista que acredita que a negociação de R$ 42 milhões foi um erro imperdoável. Modesto entendeu que o elenco fortíssimo e a tranquilidade do Cruzeiro poderiam refletir no futebol do atacante. A Libertadores seria ótima vitrine. Só que ele não desejava economizar apenas R$ 250 mil em salários. A proposta precisava ser melhorada. E foi. Os mineiros bancarão R$ 350 mil e ainda aceitaram Souza de volta, com seu custo de R$ 150 mil a cada 30 dias. São R$ 3 milhões de economia nos seis primeiros meses. Marcelo Oliveira ficou realmente empolgado com a negociação fechada. Ele aposta que vai recuperar o jogador na Toca da Raposa. Sabe que ele padece de fundamentos, já que não jogou na base de nenhum clube do país. Atuava na várzea em São Paulo. Se depender da empolgação de Leandro Damião, os cruzeirenses podem se animar. Ele está entusiasmado e querendo provar aos santistas que não é um "pangaré" e muito menos "bichado". Se cuidou fisicamente para chegar no melhor da sua forma em Belo Horizonte. A dor no púbis sumiu. Aos 25 anos, acredita que será a grande oportunidade de sua carreira. Vai dar a alma para ser o artilheiro que Marcelo Oliveira espera. Chegará a Belo Horizonte com uma convicção silenciosa. Não quer voltar ao Santos nunca mais. Chega de humilhação...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 02 Jan 2015 12:42:37

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