sábado, 10 de janeiro de 2015

Advogado processa Neymar e Santos. É o vingador do tolos. Os que se surpreenderam com o inacreditável adiantamento do Barcelona ao jogador. Faltando seis dias antes da decisão do Mundial de Clubes...

Advogado processa Neymar e Santos. É o vingador do tolos. Os que se surpreenderam com o inacreditável adiantamento do Barcelona ao jogador. Faltando seis dias antes da decisão do Mundial de Clubes...




Frio gelado de Yokohama. Dezembro de 2011. Poucos dias antes da decisão do Mundial de Clubes. Em raríssima aparição no lobby do luxuoso hotel Bay Sheraton, consegui chegar perto de Neymar. Passei pelos seguranças do hotel, do Santos e os jogadores, que mais os protegiam. "Você está negociando com o Barcelona? Com o Real Madrid?", não se falava outra coisa na época. Neymar estava especialmente irritado naqueles dias. Ele sempre me tratou bem, talvez por ter me conhecido com 15 anos na TV Bandeirantes. Olhou para mim e responde seco. "Não tem nada. Nada." Virou as costas e seguiu em frente. Depois de meia hora, eu e o repórter Samir Carvalho o flagramos ao lado de Elano em uma frustrada tentativa de passeio ao shopping subterrâneo, abaixo do hotel. Samir sacou o celular mais rápido. Fiquei só observando, estarrecido. Fãs o reconheceram. Ele não quis parar para fotos ou autógrafos. Estava tenso, nervoso, como nunca mais o veria, nestes quatro anos seguidos de contatos por causa da Seleção. Nem mesmo no vexame que o Brasil deu na Copa do ano passado. Veio o jogo e a goleada impiedosa do Barcelona por 4 a 0. Todos os repórteres brasileiros repararam na maneira com os atletas do time catalão tratavam Neymar na zona mista do Estádio Internacional de Yokohama. Abraços fraternos, estranhos. Principalmente de Messi. Eu estava interessado no então presidente Sandro Rosell. Ele dava lições sobre como administrar um clube moderno. Parou de falar quando o atacante passou. Os dois se olharam e se abraçaram, sorrindo. Perguntado se gostaria de contratar Neymar, Sandro respondeu balançando a cabeça. Disse que "gostaria muito". Piscou e se afastou para falar com jornalistas espanhóis. O tempo se passou. Neymar foi para o Barcelona. A Justiça Espanhola esmiuçou a transação. E foi descoberto que semanas antes do confronto que decidiu o título Mundial Interclubes, o pai de Neymar recebeu 10 milhões de euros, cerca de R$ 31 milhões, do clube catalão. A mando de Sandro Rosell. Para assegurar a prioridade. Todas as partes confirmaram a transação. Quem pagou e quem recebeu.

O então presidente santista, Luís Álvaro, garante que nada sabia deste adiantamento. O máximo que havia feito: dar uma carta para Neymar Sênior buscar um clube para o filho. E o criticou duramente. "Com esse tipo de gente, de cafajeste, não adianta discutir através da mídia." Neymar e seu pai odeiam esse assunto. Não falam. Mas para a Justiça e o Fisco espanhóis, não houve como escapar. O genitor e empresário assumiu ter recebido o dinheiro. Lógico que o jogador sabia de toda a situação. Assim como Sandro Rosell, que teve de abandonar a presidência devido a vários "mal entendidos" na transação do atacante brasileiro. Ele ainda pode até ser preso. É quase impossível precisar o número de torcedores que acompanham seus times em decisões de Mundiais. Até porque, como no caso do Santos no Japão, a batucada atraiu vários adeptos japoneses. Famílias faziam questão de comprar camisas do time brasileiro. E se juntar na festa. Foram alto os gastos dos que partiram do Brasil para acompanhar o Santos no Japão, com direito a dois jogos. A vitória contra o Kashiwa Raysol em Toyota por 3 a 1 no dia 14 de dezembro e derrota, por goleada, para o Barcelona por 4 a 0, 18 de dezembro em Yokohama. A média por pessoa bateu em cerca de R$ 12 mil.

Os santistas que voltaram no mesmo vôo que eu para São Paulo, no dia 15 de dezembro, estavam arrasados, frustrados. Pais, filhos, avôs. A tristeza era imensa. Lembrei de toda essa situação já confirmação da venda de Neymar para o Barcelona em 2013. Tudo ficou ainda pior com a constatação que o pai do jogador recebeu apenas seis dias antes da final do Mundial os tais dez milhões de euros, pela prioridade. A quantia entrou na conta da família no dia 12 de dezembro de 2012. Menos de uma semana depois, o atacante, com 18 anos, disputou a decisão. O dinheiro teve sua utilidade. Serviu para a família recusar uma proposta do Real Madrid, superior ao do time da Catalunha. Quando garoto, Neymar havia passado por lá, e não houve maior empenho em segurá-lo. A vingança foi um prato degustado frio. É o que também pensa o torcedor Luciano Caparroz Pereira dos Santos. Ele teve coragem de fazer o que muito santista desejava. Entrou com uma ação contra Neymar e o Santos. Pede reparação de danos materiais e morais. Ele gastou cerca de R$ 11 mil com a viagem ao Japão. Pede exatamente R$ 28.960,00. Luciano é advogado. E diz ter como base na idenização o Estatuto do Torcedor e Código de Defesa do Consumidor.

O processo chegou no final de 2014 à 2ª Vara do Juizado Especial Cível. E foi marcada uma reunião de conciliação entre Luciano, Neymar e a direção do Santos. Uma parte da ação já foi divulgada pela ESPN. As palavras de Luciano são taxativas. "No Brasil existe o Codigo de Proteção ao Torcedor, exatamente para se evitar que o mesmo seja ludibriado e os seus direitos não sejam respeitados. Mas foi exatamente ao contrário que clube e jogador fizeram em relação aos seus torcedores, colocando os mesmos em uma situação vexatória e constrangedora, sendo alvo de todos os demais torcedores que passaram a zombar dos torcedores do Santos pelo resultado apresentado." A ação do advogado dá estocada em uma ferida que não fecha. Foi legal a família de Neymar receber os dez milhões de euros semanas seis dias antes da final do Mundial. Mas foi respeitada a ética? "Eu me pergunto como é que estaria a cabeça de alguém depois de receber um cheque de 10 milhões de euros. Eu imagino que do ponto psicológico, de alguma maneira, isso deve ter afetado Neymar", aposta o ex-presidente Luís Álvaro.

Segundo o site inglês goal.com, o patrimônio de Neymar já passa dos R$ 255,6 milhões. Ele e seu pai têm como contratar os melhores advogados do mundo. Fora o auxílio jurídico do Barcelona em todo o planeta. Assim como o Santos possui advogados renomados para se defender. Muito provavelmente, haja um acordo. E Luciano recebe pelo menos parte do seu dinheiro. Mesmo se não receber um centavo, só a audiência marcada já é uma grande vitória moral de que ama futebol. O bom senso e o respeito ao Santos obrigavam. Não custaria nada ao pai do melhor jogador do Brasil esperar uma semana. E no dia 19 de dezembro receber formalmente os 10 milhões de euros do Barcelona. É fácil entender a revolta de Luciano, dos milhares de torcedores santistas que foram ao Japão e os milhões que ficaram diante da televisão torcendo, sofrendo na goleada diante do Barcelona. Todas as pessoas ligadas ao futebol se sentiram traídas com a revelação do inacreditável adiantamento. Eu faço parte delas. Perguntei para Neymar se ele negociava com o Barcelona, no dia 16 de dezembro de 2011. A Justiça espanhola revelou que o dinheiro estava na conta da N & N Consultoria Empresarial quatro dias antes. Ouvi e jamais esquecerei da sua resposta. "Não, não tem nada. Nada."




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 10 Jan 2015 14:11:58

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