sábado, 30 de agosto de 2014

O Grêmio deve ser excluído da Copa do Brasil pelo racismo contra Aranha. Patricia, foragida da Polícia, é caçada pelas tevês. Que ninguém se esqueça dos gritos de 'macaco'. E Patricia vire vítima...

O Grêmio deve ser excluído da Copa do Brasil pelo racismo contra Aranha. Patricia, foragida da Polícia, é caçada pelas tevês. Que ninguém se esqueça dos gritos de 'macaco'. E Patricia vire vítima...




"Atirei o pau no inter. E mandei tomar no ... Macacada filha da puta. Chupa ... e dá o ... Hey, inter vai tomar no ...! Olêêêêêê Grêêêêêêmio" "Aos que torcem pro Inter. A vocês eu quero perguntar. Porque não cumpre a palavra do meu estadio derrubar? Será porque vocês tem medo? Da banda do monumental? A banda que corre os macacos do internacional." "E vamos que não vai passaar... A loucura da cabeça.... A geral bebe cachaça, corre a macacada e a puta da Policia, hey hey... E vamos que nâo vai passaar... A loucura da cabeça.... A geral bebe cachaça, corre a macacada e a puta da Policia, hey hey..." Essas são apenas três cantos de guerra da torcida gremista. O que eles têm em comum? A referência preconceituosa à torcida do Internacional. Ela é tratada por "macacada" ou os colorados são chamados simplesmente de "macacos." Embora o ótimo jornalista Léo Gerchmann destaque que o negro Adão Lima atuou no Grêmio em 1925, a história difundida no Brasil todo, inclusive no Rio Grande do Sul, é outra. A de que o Internacional foi o primeiro clube a receber um negro no seu elenco: Dirceu Alves, em 1928. A partir daí, abriu as portas aos negros e mulatos que eram impedidos de se misturar ao elitizado esporte que veio da Inglaterra. Até então reservado aos brancos. Os negros gaúchos atuavam separados, segregados. Em uma divisão batizada de Liga dos Canelas Pretas. Dela saíram jogadores que fizeram história no Internacional na década de 30: Chatinho, Bagre, Davi e Natal. Os rivais gremistas tentavam ridicularizar o rival batizando de "Clube dos Negrinhos". Em um artigo de 1963 no extinto jornal Última Hora, o negro e autor do hino gremista, Lupicínio Rodrigues, revela. Ao contrário do Grêmio, o Internacional não aceitou o Riograndense, um time formado por negros. Foi por isso que foi formada a Liga Canela Preta. O excepcional músico garantiu que o Grêmio só foi o último clube a aceitar mulatos no seu time para não perder seu campo. Foi uma imposição dos doadores alemães doadores do estádio. Ou seja, infelizmente o futebol do Rio Grande do Sul foi cercado pela intolerância e racismo desde seus primórdios. Jornalistas gaúchos já se habituaram com os cânticos racistas gremistas. Houve uma "evolução" deplorável à maneira que alguns radicais gremistas se referem ao rival. O Inter passou do "time do povo", para o "clube dos mulatos", para simplesmente "os macacos". Não se cobre coerência. Que alguém vá se lembrar de Adão Lima ou mesmo da cor de pele de Tarciso, Everaldo, Ronaldinho, Dener, Paulo César Caju, Emerson, Zé Roberto e tantos outros.

Entre os que faziam todo tipo de ofensa, inclusive raciais a Aranha, havia negros. Um negro chamando outro de macaco por causa da cor da pele. Não é inacreditável. É apenas irracional vontade de ofender o rival. Patricia Moreira da Silva está sendo procurada pela polícia. Soldados já foram à sua casa e não a encontram. Evitam o termo, mas é considerada foragida. A demitida auxiliar de Odontologia virou o símbolo da intolerância, do racismo em todo o Brasil. Lógico que não foi a única pessoa a chamar Aranha de macaco na quinta-feira. Mas foi a que as câmeras da ESPN conseguiram filmar em close. Há quem tente defendê-la. Não se deseja que ela vire mártir. Seja esquartejada em praça pública. Ninguém quer isso. Apenas que seja punida como prevê a legislação brasileira. Que até é muito branca. Tolerante. Patricia deve ser enquadrada no artigo 140 do Código Penal. Ele prevê de um a três anos de prisão e multa para "injúria racial". Acontece que como Patricia não tem antecedentes criminais não deverá ser presa. Poderá ter de se submeter a serviços sociais.

O que não pode acontecer de jeito algum é que Patricia vire vítima. As grandes redes do Brasil estão tentando desesperadamente encontrar a gremista. E tentar arrancar dela uma entrevista. A esta altura, ela já deve ter advogados. E não seria nada mal se justificar a milhões de brasileiros. Chorar, se mostrar arrependida. Dizer que se deixou levar pelo que já acontece nas arquibancadas gaúchas há pelo menos cem anos. O racismo é frequentador em todos os estádios brasileiros. Mas em Porto Alegre ficou habitual demais. A tentativa de alguns jornalistas de garantir que a torcida colorada já havia incorporado o grito de "macacos" não convence. É artificial demais. Por que sua essência é nojenta: a da segregação. A diretoria do Grêmio tem razão de estar preocupada. O STJD adiou sem data marcada a segunda partida contra o Santos pela Copa do Brasil. O motivo: há enorme chance de os gremistas serem excluídos do torneio. A punição está prevista dentro da lei. Serviria de exemplo para outras torcidas, outros clubes. Os racistas que quisessem demonstrar sua intolerância ficariam sabendo o mal que podem fazer às equipes que dizem amar.

Fabio Koff tenta disfarçar, mas sabe que a imagem de Patricia Moreira gritando macaco é forte demais. O dirigente sente que a batalha está quase perdida. A CBF também sabe o risco que seria a confirmação do jogo na acanhada Vila Belmiro. O medo da violência que os torcedores gremistas estariam sujeitos diante das organizadas santistas. Ou seja, o jogo da volta teria tudo para ser caótico. O bom senso indica o caminho da exclusão gremista. Mas falta mais. Que Koff divulgue os nomes de todos os torcedores identificados que ofenderam Aranha. Nome e sobrenome. De todos... Aranha e sua família choraram muito com as ofensas que o goleiro sofreu na quinta-feira. Ele não queria fazer Boletim de Ocorrência, mas foi um pedido da diretoria santista. O clube quer a punição dos racistas. Principalmente da torcedora que gritava "macaco" a plenos pulmões para Aranha.
O irônico agora é que os próprios torcedores do Grêmio estão amaldiçoando Patricia. Não a perdoam pelo prejuízo que ela pode provocar ao clube. Muitos daqueles que xingavam Aranha tratam de xingá-la e ameaçá-la nas redes sociais. Koff já a baniu do estádio gremista. Ela já perdeu seu emprego como auxiliar de Odontologia da Brigada Militar. Está foragida da polícia. Patricia está aprendendo da pior maneira o peso de tomar uma atitude racista. O Brasil foi acordado da pior maneira ao que já acontecia há décadas e décadas nas arquibancadas de Porto Alegre. Só que ninguém queria ver. Patricia Moreira da Silva não deixou...

(Estarei amanhã, às 11 horas, na Bienal do Livro de São Paulo. Participarei do debate a respeito do livro O Lado Sujo do Futebol, no stand da Editora Planeta. Convite feito...)


Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 30 Aug 2014 13:16:44
Ler mais aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário