sábado, 16 de agosto de 2014

O W.O. do Grêmio Barueri pode ser o começo do fim da escravidão. Foi um tapa na cara dos dirigentes irresponsáveis que não pagam salários em dia no futebol brasileiro. A insurreição dos jogadores finalmente começou...

O W.O. do Grêmio Barueri pode ser o começo do fim da escravidão. Foi um tapa na cara dos dirigentes irresponsáveis que não pagam salários em dia no futebol brasileiro. A insurreição dos jogadores finalmente começou...




A gelada noite de ontem foi histórica em Barueri. E com potencial para mudar o futebol brasileiro. Um mero jogo da Série D está nas manchetes de todo o país. Saiu da obscuridade por motivo nobre. Depois de quatro meses sem receber direito de imagem e dois meses sem salários, os atletas do Grêmio Barueri decidiram não entrar em campo. Respaldados pela lei Pelé, que desobriga os jogadores com dois meses de salários atrasados a defender seu time. Como em torneios de várzea, o Grêmio Barueri perdeu por ausência, por W.0. O Operário do Mato Grosso foi considerado vencedor por 3 a 0, de acordo com a legislação esportiva. Em solidariedade, os atletas matogrossenses se deitaram no gramado. O gesto simbolizava a morte do futebol neste país. Os jogadores do Barueri alegam que haviam sido enganados pela diretoria por três vezes. Ouviram promessas de que seus salários seriam pagos. E não foram. Durante a semana trabalharam em duas frentes. Procuraram o Sindicato dos Atletas Profissionais de São Paulo e o grupo Bom Senso. Tiveram orientações jurídicas. Ficaram com a certeza de que não seriam punidos. Tudo está explícito no artigo 32 da Lei 9.615/98. "É lícito ao atleta profissional recusar competir por entidade de prática desportiva quando seus salários, no todo ou em parte, estiverem atrasados em dois ou mais meses." Diante do que ouviram, criaram coragem. Com quatro derrotas, nenhum ponto, o Grêmio Barueri já era último colocado no grupo A-6 da Série D, quarta divisão profissional. Diante da campanha e previsível desclassificação, os atletas tinham a certeza que tomariam um calote. Não receberiam nunca, o que já virou rotina nos clubes pequenos brasileiros. Há vários jogadores do Barueri alegando que não têm dinheiro para pagar aluguel, luz. A situação apresentada no sindicato paulista foi vergonhosa. Mesmo com o respaldo jurídico, os atletas ficaram preocupados. E mandaram uma carta para o departamento jurídico da CBF avisando que não entrariam em campo. Na entidade, a ameaça não foi levada a sério. Houve quem duvidou da coragem do time. A esta altura deve estar arrependido.

Os jogadores fazem questão de deixar claro que não estão em greve. Só prometem novamente não jogar contra o Tombense, outra vez em Barueri. Não se não receberem o que o clube deve. A imagem dos atletas do Operário deitados no gramado e do outro lado do campo, o vazio, é impressionante. E tem poder. Principalmente porque os atletas estão respaldados pela lei. Serve como exemplo para vários clubes, vários times inclusive da Série A que podem seguir o mesmo caminho. Legalmente, por exemplo, os atletas do Botafogo não fizeram o mesmo porque não quiseram. Já chegaram a ficar três meses sem salários. Poderiam perfeitamente dar o W.0. para seus adversários. Ou até abandonarem o clube. Faltou coragem. Os atletas ficam com medo de ficarem marcados. E não encontrar novo clube para jogar. Entrar para uma lista negra. O que é muito possível diante do baixo nível de dirigentes que trabalham neste país. O exemplo dado ontem pelos jogadores do Barueri tem tudo para contaminar o futebol brasileiro. Os dirigentes irão pensar mil vezes antes de continuar a dar calotes nos atletas profissionais. A CBF terá de ser mais rígida no controle financeiro das equipes. Agora com a pressão governamental. O principal esporte desse país já foi desmoralizado demais. Por medo, jogadores se submetiam ano após ano a atrasos injustificados. À irresponsabilidade de dirigentes amadores, vaidosos. Os exemplos são inúmeros. O mais recente é revoltante. Flamengo e Santos com salários atrasados duelaram para contratar Robinho. O time da Vila Belmiro ganhou. E acertou luvas e o pagamento "declarado" de R$ 500 mil mensais. O dinheiro já caiu na conta da estrela que veio da Itália. Os outros atletas do elenco que esperem. Situação inaceitável.

A principal briga do grupo Bom Senso é em relação aos constantes calotes a jogadores neste país. Importante parte dos R$ 5 bilhões que os clubes brasileiros acumulam em dívidas é trabalhista. Ou seja, atletas que entraram na justiça e esperam por anos e anos ter o direito de receber o salário que combinaram. Mesmo sabendo estarem errados, os dirigentes não se importam. Apostam na lentidão da Justiça e empurram as dívidas para as próximas administrações. Essa prática vem desde que o profissionalismo chegou no Brasil na década de 30. O W.0. dos jogadores do Grêmio Barueri pode acender o rastilho de pólvora que todos estavam esperando. CBF e Globo já sabem. O que aconteceu ontem quase de forma clandestina poderá se repetir em um domingo de futebol. Várias equipes grandes devem salários ou direito de imagem (maior parte do rendimento do atleta, com menos tributação). O vexame de ontem foi minúsculo diante do que pode acontecer. Os irresponsáveis e incompetentes dirigentes brasileiros não imaginavam que os atletas teriam coragem para tomar essa atitude. Mas o tempo da escravidão e da falta de união está acabando. Para o bem do futebol neste país. O exemplo está dado. Qualquer represália por parte dos dirigentes do Grêmio Barueri ganhará outra vez as manchetes. Não será tolerada. Despertar neste sábado está muito mais difícil àqueles que se acostumaram com o calote. Respaldados pela omissão criminosa da CBF e do governo brasileiro...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 16 Aug 2014 08:11:13
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