sábado, 19 de dezembro de 2015

Como a guerra de egos ameaça implodir a Primeira Liga. Os presidentes não compreendem a importância do que estão fazendo. Para a sorte da CBF de Marco Polo Del Nero...

Como a guerra de egos ameaça implodir a Primeira Liga. Os presidentes não compreendem a importância do que estão fazendo. Para a sorte da CBF de Marco Polo Del Nero...




"O Cruzeiro já firmou posição. O Cruzeiro não fará mais parte da Liga Sul-Minas. Não disputará. Surgiram questões com as quais não concordei, assim como Flamengo e Fluminense. Existe uma grande possibilidade de eles também saírem. "A Liga não interessa ao Cruzeiro. A gente precisa administrar e dirigir o futebol como empresa. Futebol, você não pode dirigir com ambição. Para jogar futebol, o clube precisa ser remunerado. Você não pode fazer torneio sem uma cota de televisão, com despesas de clubes que passarão por aperto financeiro. Discordamos de coisas que aconteceram na última reunião da Liga. Diante disso, trouxemos isso para a diretoria do Cruzeiro. Com unanimidade, decidimos que o Cruzeiro não deveria correr riscos de disputar um torneio que não será rentável." Essas foram palavras de Gilvan Tavares. O presidente do Cruzeiro no dia 10 de dezembro, há nove dias foi enfático. Garantiu que seu clube não deveria "correr risco de disputar um torneio que não será rentável". Assegurou que "a Liga não interessa ao Cruzeiro". E que "você não pode fazer torneio sem uma cota de televisão". E ainda teria dado um "furo" aos jornalistas. Alertou sobre a possibilidade de o Flamengo e Fluminense também saírem da Liga. Na mesma noite, telefonei para três dirigentes de clube importantes do país. E todos me alertaram que a postura de Gilvan teve mais a ver com ego do que com a falta da garantia de que uma tevê transmita. Ou com medo do prejuízo. Muito menos preocupação com a CBF ou com a Federação Mineira. Insistiram que a situação era muito simples. E seria costurada com um recuo básico que não levaria muito tempo. E sete dias veio a confirmação. O estranho recuo do Cruzeiro. A volta do grande clube mineiro. Sem uma palavra de Gilvan. O mistério foi desfeito. Para incredulidade geral, o pano de fundo da ameaça de saída foi a autonomia do executivo da Liga, Alexandre Kalil. O ex-presidente do Atlético Mineiro resolveu trabalhar pela nomeação do ex-presidente do Atlético Paranaense, Mário Celso Petraglia como co-presidente da Sul-Minas-Rio. Foi o que bastou.

Gilvan Tavares se mostrava muito orgulhoso com o fato de presidir a entidade. E sentiu que havia sido minado por Kalil. Seria o velho clima de rivalidade entre cruzeirenses e atleticanos como pano de fundo. Gilvan não pensou duas vezes. Como se sentiu desrespeitado, mostraria sua força. E implodiria a Liga. Usaria como desculpa o fato de não haver uma televisão verdadeiramente interessada na competição. Nem citaria a "desfeita". Todos ficaram atônitos. E, a princípio, sem reação. A perda do Cruzeiro seria irreparável. Os dirigentes dos grandes clubes brasileiros são absolutamente desunidos. E com seus egos à flor da pele. O que só facilita a dominação não só da CBF como das Federações. A princípio, a reação foi tratar de tocar a Liga sem o time mineiro. Só que o baque era grande demais. Se o próprio presidente vem à público dizer que o torneio não será rentável, como convencer as tevês e o mercado publicitário? Gilvan teria de voltar atrás. Só que ele não ouvira Kalil ou Petraglia. Seguia magoado. E o tempo voando, tornando ainda mais improvável o novo torneio em 2016. Precisava aparecer alguém com bom senso, paciência e firmeza para mudar o quadro. E todos os envolvidos na Liga agradecem Eduardo Bandeira de Mello. Primeiro, conversou com Kalil e Petraglia. Os dois deveriam recuar para ter o Cruzeiro de volta. Petraglia deixaria de se co-presidente da Liga. E apenas representaria os interesses do Atlético Paranaense, clube onde ainda tem total influência. Foi só depois de ouvir a promessa de que voltaria a ser o único presidente, Gilvan recuou. E o Cruzeiro estaria de volta à competição. "Agora ninguém sai mais. Ninguém pode mais sair. O Gilvan deu a palavra para o Bandeira, foi bem claro. O Petraglia abriu mão. Não vai ter mi-mi-mi."

O resumo do presidente atleticano, Daniel Nepomuceno, foi no centro da questão. O futebol brasileiro só irá crescer quando seus dirigentes tiverem uma visão muito mais abrangente. Com empréstimos, adiantamentos e principalmente, muito medo, todos seguem dependentes de uma entidade que deveria apenas organizar campeonatos e registrar jogadores. Mas diante da desunião dos clubes, virou a dona do futebol deste país. É milionária com os clubes falidos. Usa a Seleção, com vários jogadores dessas equipes, como quer. Faturando milhões de dólares em amistosos caça-niqueis vergonhosos. Que não ajudam nem o técnico do Brasil. Apenas enriquecem a CBF. Os clubes só conseguirão o controle do futebol quando enfrentarem o status quo. Retirarem o poder que derem à CBF. Organizando seus próprios campeonatos. Sem medo de represálias. Da Globo. De quem quer que seja. Não é fácil. São décadas e décadas de opressão. De subserviência. Falta de articulação. E rivalidade cega. Vontade de encaixar amigos que perderam cargos. A Primeira Liga é algo importante demais. O embrião de uma mudança que o futebol deste país precisa. Não é possível que avôs entrem em choque como garotos. E coloquem em risco uma revolução por causa de quem manda. Estão todos no mesmo barco, o do atraso. Basta uma olhadela em São Paulo, o estado mais rico do país.

Com os clubes grandes compromissados com a Federação Paulista. Sem coragem ou autonomia para comprar essa briga. Pelo contrário. Se aliam à CBF com a promessa que irão controlar os Brasileiros. Terão a organização, a arbitragem, o calendário a seus pés. Não irão. O início da Primeira Liga está marcado. Dia 27 de janeiro. Até lá muita coisa pode acontecer. A pressão é grande. Principalmente para as tevês que já mostram o futebol no país.

Evidente que a CBF sabe que o dinheiro da transmissão é fundamental.

Viabilizaria a Primeira Liga.

E trata de pressionar.

Evitar o acordo.

Por isso economicamente os clubes talvez precisem se apoiar.

Bancarem a competição que podem livrá-los dos Estaduais.

Que todos odeiam pela inutilidade.

E poucos assumem publicamente.

Antes disso, seus dirigentes precisam ter maturidade.

Fazer o mais difícil.

Esquecer os egos.

O "mi mi mi".

E perceber o que está em jogo.

O início do caminho da independência da CBF...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 19 Dec 2015 02:05:02

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