domingo, 27 de julho de 2014

Kaká está no São Paulo para calar os gritos que o perseguem há 11 anos. Voltou ao clube que ama. Mas também para fazer um acerto de contas com o passado. Pipoqueiro ele nunca foi...

Kaká está no São Paulo para calar os gritos que o perseguem há 11 anos. Voltou ao clube que ama. Mas também para fazer um acerto de contas com o passado. Pipoqueiro ele nunca foi...




Wagner Ribeiro sempre soube a importância da imprensa para a valorização dos seus jogadores. Tinha essa noção desde que foi um dos 23 sócios a começarem a investirem R$ 50 mil no XV de Jaú, na Segunda Divisão em 1995. Aos poucos foi ganhando espaço e até que virou o maior deles. Com França no São Paulo, sua vida mudou. Ribeiro passou a ter acesso às categorias de base do Morumbi. E lógico, cresceu os olhos para a jovem estrela que surgia, Kaká. Se aproximou da família do meia, do pai Bosco. O São Paulo vivia momentos instáveis em 2002. O time foi o melhor na fase de classificação do Brasileiro. Entrou para os mata-matas contra o pior colocado. O oitavo era o Santos de Robinho e Diego. A eliminação na época foi um choque. E o jovem Kaká ficou marcado pela torcida como 'pipoqueiro'. Tudo piorou de vez por não enfrentar o Corinthians na final do Paulista de 2003 graças a uma contusão. Veio a eliminação da Copa do Brasil diante do Goiás e a situação ficou insustentável, com a torcida definindo o meia como a razão de sua revolta. Wagner Ribeiro aproximou a direção do Milan e do Chelsea de Bosco e Kaká. A atuação do ex-jogador Leonardo e então dirigente do clube italiano foi fundamental para a escolha do atleta. Ele foi por apenas 8,5 milhões de dólares. Mas o São Paulo recebeu esse dinheiro porque ele não quis esperar até o final do ano, quando terminaria seu contrato. E não renderia um centavo ao clube que o lançou. Ribeiro já estava rompendo com Bosco, perdendo Kaká. Mas um dos seus último atos foi acionar a cúpula do Jornal da Tarde. E agendou uma entrevista de despedida do jogador do Brasil. Fui escolhido para entrevistar Kaká no aeroporto de Cumbica. Lembro bem da conversa. Foi marcante. Nunca tive proximidade com Kaká, até porque cobri muito mais o Corinthians do que o São Paulo. Mas o acompanhei na Copa do Mundo de 2002. Garoto, chamado na vaga que deveria ser de Alex. Ele foi adotado pelos mais velhos, principalmente por Ronaldo. Tinha sede de aprender. Fui para o aeroporto esperando encontrar um jogador empolgado, sonhando em atuar no grande Milan, campeão da Champions League de 2003. Mas para minha surpresa me deparo com um triste garoto se sentindo culpado do que outra coisa. Ainda mais quando toquei no fato de ser chamado de pipoqueiro pela própria torcida. "Eu também estou sofrendo com a fase do São Paulo. Nasci como jogador aqui. Lamento muito não ter podido ajudar o clube. Queria sair campeão. Infelizmente as coisas não deram certo. Mas fiz tudo o que poderia fazer. Dei o meu máximo. Vou para o Milan porque é o momento certo para a minha carreira. Mas triste pelo São Paulo. O torcedor pode esperar que um dia voltarei. E ajudarei a conquistar os títulos que escaparam agora. Vou voltar."

Falou com uma convicção impressionante para quem tinha apenas 20 anos na época. Soube depois que foi opção dele não esperar terminar seu contrato. Queria que o São Paulo recebesse pelo menos os 8,5 milhões de dólares. Quantia baixa demais para um atleta tão promissor. Mas era aquilo ou nada. Kaká e Bosco se livraram de Wagner Ribeiro e seguiram a vida. O meia fez um sucesso enorme no Milan. Foi o melhor do mundo em 2007. Saiu a contragosto para o Real Madrid. Apenas para que o Milan lucrasse os 65 milhões de euros. Outra vez jurou que voltaria ao clube de onde saía. No Real Madrid não pôde repetir o mesmo futebol. Lesões no joelho e no púbis o atormentaram. E lhe roubaram as arrancadas que maravilharam o mundo. Médicos e fisioterapeutas com quem conversei, me confidenciaram. O erro de Kaká foi sempre ir além do seu limite. Religioso fervoroso, ele acreditava que a fé o ajudaria a romper limites. Pode ser que até isso tenha acontecido. Mas fez seu corpo ir além do suportável. Os médicos que o operaram seu joelho em 2010 disseram que foi um crime ele ter jogado a Copa do Mundo da África. A cirurgia já deveria ter acontecido pelo menos um ano antes. Mas Kaká não quis prejudicar o Real Madrid e a Seleção Brasileira de Dunga. Sonhava em ser o protagonista na África. Seu organismo não permitiu.

Mas não houve uma semana sequer nestes 11 anos que Kaká não tivesse notícias do São Paulo. Rogério Ceni e o médico Marco Aurélio Cunha foram os seus grandes informantes. Sempre que vinha ao Brasil em férias, ele fazia questão de encontrá-los e conversar sobre a volta. Foi Kaká quem insistiu com Luiz Fabiano que ele deveria voltar ao Morumbi e não ceder à proposta do Corinthians. Insistiu para o atacante voltar, que logo atuariam juntos. Neste meio tempo, André Sanchez também pensou em contratar o meia. Pura perda de tempo. As conversas foram abortadas no início. Assim como ele não deu chance ao Flamengo. Iria cumprir seu juramento. As lesões diminuíram sua mobilidade. Virou um jogador inconstante, de repentes. Mas sua inteligência e visão de jogo podem prolongar a carreira. Em centros menos competitivos como o brasileiro e o norte-americano. Vendido ao Orlando City, Kaká fez questão de intermediar o seu retorno ao Morumbi por empréstimo até o final do ano. Serão apenas quatro meses, antes de ir ganhar dinheiro na liga norte-americana. Mas aos 32 anos, Kaká está empolgado. Sabe que cumpriu a maior promessa que fez na carreira. Iria voltar para sua casa. De onde saiu para ganhar o mundo. Tentar recompensar tanto apoio quando era garoto. No mínimo colocar o São Paulo na Libertadores de 2015. Essa é a sua meta mais aparente. Só que há a que ainda está atravessada na sua garganta. "Não sou pipoqueiro ou amarelão. Sempre dei o máximo de mim em campo. Ainda mais pelo que clube que amo. Um dia eu vou voltar para o São Paulo. E os torcedores vão perceber o quanto erraram comigo." Promessa feita em 2003. No Serra Dourada, ele entrará em campo para calar os injustos gritos que o perseguem há 11 anos. Justo contra um dos clubes que criaram essa fama, o Goiás. A eliminação da Copa do Brasil em 2003 foi inesquecível para ele. Será uma questão de honra para Ricardo Izecson dos Santos Leite. Fará de tudo para mudar sua imagem para os são paulinos. Para quem se decepcionou com ele no Morumbi. Pipoqueiro ele nunca foi. Seus joelhos e o púbis servem como testemunhas. Por isso ele não aceitará nunca que duvidem da sua entrega, do seu amor pelo São Paulo...





Autor: cosmermoli
Publicado em: Sun, 27 Jul 2014 08:40:33 -0300
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