domingo, 28 de setembro de 2014

A situação de Muricy Ramalho é mais preocupante do que o São Paulo quer admitir. Mesmo com o 'quadrado mágico', o time despenca e o técnico internado na UTI. Endividado, o clube precisa da Libertadores de 2015. Aidar não sabe o que fazer...

A situação de Muricy Ramalho é mais preocupante do que o São Paulo quer admitir. Mesmo com o 'quadrado mágico', o time despenca e o técnico internado na UTI. Endividado, o clube precisa da Libertadores de 2015. Aidar não sabe o que fazer...




Dos últimos 12 pontos, o São Paulo fez apenas um. Perdeu para o Coritiba, Corinthians, empatou com o Flamengo e foi derrotado ontem diante do Fluminense por 3 a 1, com "quarteto mágico" e tudo. Está a dez pontos do líder Cruzeiro. Jogadores admitem que o título está indo embora. "Não sei explicar o que está acontecendo. Não podemos continuar assim", resumiu Kaká, com medo de o time despencar da zona da Libertadores. A torcida, revoltada, vaiou o time no segundo tempo. Percebeu que o título do Brasileiro está indo embora de vez. Ao final da partida gritava no Morumbi: "Libertadores é obrigação". Luiz Fabiano mostra sua irritação pela reserva. Assim como Pato por ter sido substituído na quarta-feira. O homem que poderia mudar esse quadro está internado há quatro dias na Unidade de Terapia Intensiva do hospital São Luiz. E sem previsão de alta. Os médicos querem entender o motivo da abrupta e forte arritmia cardíaca. Muricy Ramalho a sofreu em pleno treino dos reservas na quinta-feira. Embora não pareça, Muricy completará 59 anos em novembro. Está muito acima do seu peso ideal. Como todo treinador de time grande é submetido a uma pressão imensa a cada partida. "É comum eu só conseguir ir dormir nos dias de jogos lá pelas quatro, cinco da manhã. Fico esperando a adrenalina abaixar. Nas derrotas é pior, fico pensando o que poderia fazer para evitá-las. Aí é que eu não durmo", já desabafou o técnico. O quadro médico recente de Muricy não é bom. Em 2009, ele teve de ser hospitalizado por conta de pedras no rim. Em 2011, foi constatada uma hérnia nos discos. E em 2013, uma incômoda diverticulite (inchaço dos intestinos). Pessoas ligadas ao futebol do Santos ficaram assustadas. O técnico repetia constantemente sua vontade de parar de trabalhar. Repetia que não seguiria o mesmo caminho de Telê Santana. Ele foi seu mentor e grande inspirador como treinador de futebol. "Mas o Telê não teve vida. Se dedicou de corpo e alma ao trabalho. E não aproveitou como poderia a família maravilhosa que tinha. Eu não quero fazer isso. Ser técnico é se submeter a muita pressão. Não quero ter um treco. Preciso aproveitar a minha vida, meus filhos, minha mulher", disse a conselheiros santistas. E foi o que fez. Mal se recuperou da diverticulite, mudou sua rotina. Viajou de férias com a família, procurava não varar as madrugadas trabalhando, discutindo o time com os parceiros de Comissão Técnica. A equipe já havia perdido sua grande estrela Neymar. As derrotas se acumulavam. Os membros do Comitê de Gestão viam Muricy menos dedicado. E decidiram pela sua demissão.

De maio até setembro de 2013, Muricy ficou sem trabalhar. Viajou, descansou, aproveitou a vida. Ficou com sua família, seu cachorro. Mas até que, fiel ao seu estilo, disse em entrevistas. "Já deu. Descansei o que tinha de descansar. Voltou a trabalhar no próximo ano. Estou sentindo falta do futebol." Falou isso em agosto. Em setembro voltava para salvar o São Paulo que estava ameaçado pelo rebaixamento. Voltou ao Morumbi, teve todo apoio da torcida, de Juvenal. Conseguiu salvar o clube da Segunda Divisão. Mas tropeçou no torneio mais fácil e que poderia levar o time à Libertadores. Perdeu a semifinal da Sul-Americana para a Ponte Preta. Frustrou Juvenal. O presidente queria montar uma equipe muito poderosa para 2014. Já buscava patrocinadores para o retorno de Kaká. Com a eliminação, mudou seus planos. E mesmo Muricy, que renovou contrato até o final de 2015, não teve o aumento que teria se o clube conseguisse voltar à Libertadores. O técnico voltou a ser muito questionado com a eliminação pelo Penapolense no Paulista. Seu time não chegou nem à semifinal do torneio estadual. Em seguida, o São Paulo caiu na Copa do Brasil diante do Bragantino. O treinador passou a ser muito questionado. Toda a tranquilidade que havia adquirido com o descanso no ano passado sumiu. A tensão voltou de forma ainda mais forte. Com Muricy mais velho.

Carlos Miguel Aidar voltou de uma maneira estranha à presidência do São Paulo. Primeiro a briga pública com Juvenal Juvêncio. Dirigente de 80 anos que várias vezes saiu do hospital, onde luta contra um câncer de próstata, para ajudar na campanha política de Aidar. O atua presidente tem uma atitude dúbia em relação a Muricy. Primeiro avisou que ele ficaria de qualquer maneira até o final de 2015. Mas diante da instabilidade do time no Brasileiro, Carlos Miguel disse que Muricy teria de reagir. A postura incendiária da nova diretoria deixou o clima pesado demais, tenso. O clube está rachado politicamente. A grande maioria dos conselheiros influentes se bandearam, indignados, para o lado de Juvenal. Aidar se aproxima da oposição. Quer convencê-la a apoiá-lo na profunda reforma, praticamente uma reconstrução, do Morumbi. Seu grande cabo eleitoral seria o time vencedor. Classificado ao menos para a Libertadores de 2015. Embora disfarçasse, Muricy sabia. Com Kaká, Alan Kardec, Alexandre Pato, Paulo Henrique Ganso, Rogério Ceni, Álvaro Pereira e Luís Fabiano, jogadores importantes e caríssimos, estar na principal competição sul-americana é obrigação desde que Aidar assumiu. E se cobrava demais pelos últimos resultados ruins. O empate com o limitado time do Flamengo de Luxemburgo foi uma enorme decepção. O time carioca jogou muito melhor, foi ágil, veloz. Merecia a vitória. Conselheiros ligados a Aidar ficaram irritados. A vitória era vista como obrigatória. O 2 a 2 foi mais um motivo de uma noite insone do técnico. Até que à tarde da quinta-feira, veio a fortíssima arritmia cardíaca. Cardiologistas garantem que geralmente ela está ligada à pressão alta. A tensão é uma das causadoras mais comuns.

Muricy tem sua vida financeira resolvida. Pode parar com o futebol na hora que quiser. Seus filhos e até seus futuros netos não passarão por dificuldades. Seus altos salários que recebe há dez anos, desde que assumiu o Internacional, viraram imóveis e investimentos seguros. Sua família já pediu que levasse em conta sua saúde em 2013. Agora está preocupada com a internação por problemas cardíacos. O exemplo de Ricardo Gomes, que teve de deixar de ser treinador por causa de um AVC, também é levado em consideração.

Aidar quer saber a real situação de Muricy. Sua presença é fundamental para o final da temporada. Na disputa dos últimos jogos do Brasileiro e na briga pela Sul-Americana. Com dívidas que chegam a R$ 150 milhões, o presidente conta com o clube na Libertadores de 2015. O problema com o coração de Muricy era tudo o que não esperava. Ele quer pelo menos que o treinador fique até o final do ano. Há um medo silencioso que anuncie o fim da carreira. Conselheiros garantem que a família do técnico está muito preocupada. Ninguém se esquece da promessa que ele fez ainda em 2008. Falou ao site da Globo. "Penso em mais uns cinco anos porque meu desgaste é muito grande. Tenho boa saúde, se fosse mais calmo daria para ir um pouco mais, mas me estresso muito e tive o exemplo do seu Telê. Ele ficou doente por isso aqui, era trabalhador e estressado. Não é fácil, o cara acaba ficando doente, fundindo o motor sem perceber, e não quero que aconteça comigo, por isso o plano de cinco anos..." 2008 mais cinco anos é igual a 2013. Ou seja, a ideia de parar é algo que acompanha Muricy há muito tempo. A derrota para o Fluminense ontem deixou os companheiros de Carlos Miguel arrepiados. Tudo o que eles querem é que Muricy trabalhe pelo menos até o fim do Brasileiro e da Copa do Brasil. São praticamente dois meses de jogos decisivos. Se não conseguir, Milton Cruz continuará como interino. Tudo dependerá dos resultados dos exames. E de quando o treinador sair do hospital. A previsão era que Muricy dormisse na UTI na quinta-feira. E que na sexta, já voltasse para casa. Hoje é domingo e até agora, nada de alta. A previsão era amanhã. O médico José Sanches já mudou seu discurso. Virou "talvez" no início desta próxima semana. A situação é mais preocupante do que o São Paulo quer admitir. Infelizmente...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 28 Sep 2014 12:21:38
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