segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A vitória mais difícil de Diego Tardelli. Contra a rebeldia genética. Virou referência no Atlético, na Seleção. E orgulha seu pai, que ficou pelo caminho no futebol e desperdiçou seu talento...

A vitória mais difícil de Diego Tardelli. Contra a rebeldia genética. Virou referência no Atlético, na Seleção. E orgulha seu pai, que ficou pelo caminho no futebol e desperdiçou seu talento...




Há dez anos, sugeri uma pauta no Jornal da Tarde. Levar para onde nasceu, o jovem e rebelde atacante do São Paulo. Matéria aceita. Fomos eu e Diego Tardelli a Santa Bárbara do Oeste, pequena cidade no interior paulista. Ele era ainda desconhecido para o grosso da população. Do prefeito, dos políticos locais. Mas lembro bem do orgulho que tinha ao posar para as fotos com os amigos de infância. E principalmente dos conhecidos de seu pai. Zé Tadeu. Ele cresceu afastado do pai, jogador de futebol. Zé Tadeu era um meia promissor, talentoso, mas que a indisciplina sabotou a carreira. Passou por Atlético Paranaense, Portuguesa de Desportos, Paraná Clube, Londrina, Portuguesa Santista, América de São José do Rio Preto e Votuporanguense. Mesmo separado da mãe de Diego, sempre foi o ídolo do jogador. Ficou nítido para mim a sua fixação, vontade de mostrar ao pai que seria um jogador de sucesso. Muito maior do que ele havia sido. O Tardelli que carrega como sobrenome na verdade nunca pertenceu à sua família. Zé Tadeu ficou impressionado com a alegria, a emoção do italiano Marco Tardelli ao marcar o segundo gol de sua seleção na final da Copa de 1982, contra a Itália. Quis que o filho tivesse o mesmo sucesso, o mesmo prazer com o futebol. A separação da esposa afastou os dois. Por ironia, Diego nasceu com o dom do pai. Mostrava talento desde a infância com a bola nos pés. Mas também com o gênio difícil. Rebelde, que não obedecia ordens de ninguém. Foi por causa de sua personalidade que foi dispensado das categorias de base do Santos, do time que tinha Robinho e Diego. Ele sabia que a sua família dependia do seu sucesso no futebol.

Teve de tentar a sorte no União Barbarense, time de sua provinciana cidade. Seu potencial logo o levou para o São Paulo, com 17 anos. Foi muito bem na Copa São Paulo de 2004. Logo estava no time principal com 19 anos. Leão nunca foi um treinador com grande visão tática, estratégica. Mas teve grandes relações paternalistas na sua carreira. Foi assim com Diego Tardelli. O problemático atacante conseguiu do técnico a atenção que tanto necessitava. E foi onde teve o seu melhor momento no São Paulo. Foi artilheiro do Campeonato Paulista de 2005 e grande revelação. Mas tudo acabou quando Leão se indispôs com os demais jogadores, principalmente Rogério Ceni. E com parte da diretoria. Ele aproveitou um convite e foi para o Japão. Paulo Autuori não teve o mesmo cuidado com Tardelli. O treinador o fez mero reserva. Se aproveitou do time montado por Leão. Ganhou a Libertadores e o Mundial. A esta altura, Diego já havia caído na tentação. Baladas e indisciplinas o fizeram ser emprestado a três clubes. Betis, São Caetano e PSV Eindoven. Muitos problemas, pouco futebol. Foi para o Flamengo. Teve um bom início. Mas faltou sorte. Fraturou o braço e logo foi vendido para o Atlético Mineiro. A desconfiança fez a diretoria adquirir apenas 50% dos seus direitos. Em Belo Horizonte percebeu que estava imitando a carreira do pai. Desperdiçando seu talento por indisciplina e noitadas. A postura foi importantíssima para mostrar a si mesmo o jogador que sempre foi. O sucesso o levou ao russo Anzi, vendido por R$ 11,5 milhões. Apesar da companhia de Roberto Carlos e Jucilei, não se adaptou.

E apenas nove meses depois, estava no Al-Gharafa do Catar. Mesma coisa. Não gostou do país, queria voltar para o Brasil. Ao Atlético Mineiro, onde tinha sido tão feliz. Não imaginaria que seria muito mais. Teve uma identificação incrível com Ronaldinho Gaúcho e Jô. Atletas que haviam sido desprezados pelo mundo do futebol por seus exageros nas baladas e indisciplina. Formaram um ataque arrasador que levou o clube à inédita conquista da Libertadores. A fama de indisciplinado e boêmio o atrapalhou na Seleção Brasileira. Felipão não confiou no seu futebol e o deixou de fora da Copa do Mundo. O que foi um baque para o jogador. Assim como o fracasso do Atlético Mineiro no Mundial. A volta de cabeça à farra de Ronaldinho Gaúcho acabou com o bom ambiente no clube. Seu futebol estava decaindo. Quando chegou Levir Culpi. O técnico foi contratado por Alexandre Kalil com carta branca para travar a decadência do campeão da Libertadores de 2013. Bastaram poucos dias e Levir percebeu que o problema era Ronaldinho Gaúcho. Sua falta de comprometimento estava afetando o restante do time. Diego Tardelli e Jô tentaram proteger o amigo. Mas o técnico foi bem claro. O camisa 10 não atuaria mais com o nome. Ou seria participativo, vibrante ou iria para a reserva. O empresário e irmão do jogador, Assis, percebeu o que ocorria. E decidiu pela rescisão de contrato, enquanto poderia ser pacífica. "Você quer saber por que o Ronaldinho saiu do Galo? Pergunte ao Levir. Quando o jogador percebeu que não poderia fazer o que o nosso técnico queria que ele fizesse, foi embora.", diz abertamente Kalil. Quando Ronaldinho foi embora, Levir chamou Tardelli para uma conversa. Disse que a referência do time passaria a ser ele. Ele teria toda a liberdade para atuar como mais gostasse. Se movimentando como um meia, sem ter a obrigação de marcar. Ficaria inteiro fisicamente para colocar em prática todo o seu talento ofensivo. Porém havia mais. Levir lembrou que foi treinador do pai de Diego no Paraná Clube. Coincidência irônica. E sabia muito bem. Zé Tadeu poderia ter ido muito mais longe na carreira. Mas a desperdiçou. A conversa foi fundamental. Desde então, Tardelli tem se dedicado como nunca. Sua forma física é invejável. Assim como o aprimoramento nas finalizações, na visão de jogo. Se tornou fundamental no Atlético Mineiro. O resultado pode ser contabilizado. Desde que Ronaldinho saiu, o time de Levir disputou 14 partidas no Brasileiro. Venceu oito, empatou três e perdeu apenas duas. Tardelli virou o símbolo e já se transformou no quarto artilheiro da competição, com nove gols. Dunga acredita que pode confiar nele. O convocou para as partidas diante da Colômbia e Equador. E também está na lista contra a Argentina e Japão.

Aos 29 anos, a vida está dando mais uma oportunidade a Tardelli. É um dos melhores jogadores deste Brasileiro. A maior esperança e referência de Levir Culpi na disputa com o Corinthians por vaga na semifinal da Copa do Brasil. Ídolo maior da apaixonada torcida atleticana. Diego já mostrou ao pai Zé Tadeu. Foi muito além do pai distante. Não se deixou vencer pelo gênio forte, pela rejeição às ordens. Com alguém que lhe dê atenção, mas o cobre como fez Leão e agora Levir Culpi, seu talento aflora. Melhor para o Atlético Mineiro, para a Seleção Brasileira. E para o menino que está no coração do homem de 29 anos. Pode encarar agora encarar as fotografias do talentoso Zé Tadeu. Vestido com as camisas da Portuguesa Santista, América de Rio Preto e Votuporanguense, clubes dignos mas pequenos para o seu potencial. Diego tem o direito de comemorar ter vencido a inimiga genética que travou a carreira do pai e que está no seu sangue. A inconsequente rebeldia, vazia. Optou por se transformar em um jogador profissional de futebol...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 29 Sep 2014 10:25:05
Ler mais aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário