De nada adiantaria Paulo Nobre ser bilionário se não tivesse um grande apoio político no Palmeiras. E os conselheiros mais importantes do clube, principalmente os ex-presidentes como Belluzzo, Della Monica e Tirone, apontam o responsável por ele ter chegado à presidência. Mustafá Contursi. Em um dos momentos vexatórios do clube, o homem mais forte dos bastidores palmeirenses aceitou falar. Aos 74 anos, não foge de se omite. Nesta manhã de segunda-feira, com o gosto amargo da derrota por 6 a 0 para o Goiás, com o time na lanterna do Campeonato Brasileiro. E assumir publicamente sua responsabilidade na atual gestão. "Sou mesmo pai do Paulo Nobre. Não vou esconder. O apoiei a chegar até a presidência. Ele errou, ficou deslumbrado, mas ainda é melhor do que os nomes que a oposição apresenta. Só precisa entender que a hora é de reagir. Tudo que não pode fazer é ficar paralisado diante de tudo o que está acontecendo. (...) Estou, como qualquer palmeirense, assustado. Fiquei desesperado vendo a equipe esfacelada, sendo goleada pelo Goiás. Estamos em último lugar, temos de escapar do rebaixamento. Chegamos ao fim da linha", avalia Mustafá em entrevista exclusiva. A grande maioria dos conselheiros do clube diz que a culpa por Paulo Nobre ser presidente é sua. Seu apoio levou um bilionário inexperiente à presidência do Palmeiras. Todos repetem que você é o "pai" dele... Sou mesmo o pai do Paulo Nobre. Não vou esconder. O apoiei a chegar até a presidência. A partir daí, as decisões foram dele e do grupo que ele escolheu para ajudá-lo. Ele errou, ficou deslumbrado, mais ainda é melhor do que os nomes que a oposição apresenta. Sua grande falha foi nos conceitos. O Paulo disse que iria profissionalizar o clube. Mas sempre tivemos pessoas remuneradas cuidando do futebol. Eram pessoas competentes. O tempo já passou para provar que a reformulação tão propagada no futebol não deu certo. E ele não mudou o rumo. O presidente precisa reconhecer quando as coisas não estão dando certo e agir. Esta é a grande falha do Paulo Nobre. Não admitir os erros e buscar novas saídas. Você está falando do Brunoro? Não estou dizendo nome nenhum. Falo sobre conceitos, resultados. O clube está há mais de um ano sem patrocínio. Como é que posso concordar com isso? O time de futebol está cada vez pior. Não posso concordar com isso. O Paulo tentou implementar os contratos por produtividade no Palmeiras. Não é fácil enfrentar todo um sistema. Os outros clubes como é que pagam no Brasil? O Paulo buscou o que era mais moderno na Europa. Não foi omisso. Também teve coragem e foi buscar um treinador argentino que deu muitos resultado no futebol sul-americano. Mas lá na Argentina o rebaixamento leva em consideração a média de três anos. Aqui, não. Foi muita pressão para o argentino. Ou seja, o Paulo não se omitiu, tentou algumas mudanças. Mas é preciso reconhecer que várias delas não deram certo. E mudar a direção das coisas. Mas ele também foi prejudicado.
Foi prejudicado pelo que, Mustafá? Pelas péssimas administrações que o antecederam. O clube financeiramente estava comprometido. Presidentes anteciparam arrecadações como direito de transmissão de jogos, pediram empréstimos. O Paulo tinha apenas 25% do dinheiro que precisava para tocar o Palmeiras. Por isso teve de colocar dinheiro do próprio bolso. Eu sou contrário. Acho um atraso na maneira de administrar. Mas reconheço que os R$ 105 milhões que emprestou ao Palmeiras fez o clube continuar tocando sua vida. Se não entrasse esse dinheiro no caixa, os jogadores estariam sem receber, as dívidas se acumulariam, seria o caos. Além disso há o estádio que está sendo reconstruído desde 2009. Tudo isso não o isenta do que que está acontecendo no futebol, mas o atrapalhou muito. Você como palmeirense não ficou envergonhado ao ver que o estádio não estava pronto no dia 26 de agosto, dia em que o clube completou 100 anos? Eu como palmeirense fico muito mais envergonhado em não ter a certeza que o estádio será viável financeiramente ao clube. Isso é que me preocupa de verdade. Os números nunca me convenceram. As pessoas deveriam ter muito mais responsabilidade, entender o quanto o acordo para a construção do estádio pode comprometer o futuro do clube. Isso sim que deveria ser colocado de maneira clara.
Falando em vergonha e quanto ao futebol. Por que um clube com uma história tão vitoriosa está passando por tantas humilhações? Estou, como qualquer palmeirense, desesperado pelo futebol. Fiquei desesperado vendo a equipe esfacelada, sendo goleada pelo Goiás. Estamos em último lugar, temos de escapar do rebaixamento. Chegamos ao fim da linha. As péssimas administrações do futebol fizeram o time chegar a este estado deplorável. E eu me incluo nesse pacote. Depois de acertar a saída da Parmalat, errei em montar a equipe rebaixada em 2002. Por fazer o contrário do que as pessoas rotulam. Me colocaram o carimbo de apostar no "bom e barato". Mas tinha vencido com uma equipe assim o Rio-São Paulo em 2000. Só que me deixei convencer e montar um time com jogadores consagrados e fomos rebaixados. Tínhamos o Levir Culpi como técnico. O Marcos, Leonardo Moura, Dodô, Zinho, Flávio Conceição, Arce, César, Rubens Cardoso, Nenê, Juninho, Muñoz. Fui fazer o que as pessoas pediam. E deu no que deu. O primeiro rebaixamento foi um choque para a história do Palmeiras reconheço. Só que tudo foi piorando, deteriorando com os presidentes que me sucederam. Mas duas coisas precisam ser ditas. Esse time que caiu nas minhas mãos massacraria o atual. A segunda é a reação precisa ser imediata para escapar do terceiro rebaixamento. Por um motivo muito simples. Qual, Mustafá? O Palmeiras pode ter um elenco até superior aos times que lutam para escapar do rebaixamento, mas a pressão é muito maior. A história vitoriosa do clube sufoca técnico, dirigente e principalmente jogadores. O medo de errar fica insuportável. E o abatimento psicológico domina o ambiente de uma maneira muito rápida. Ainda faltam 15 partidas para o time escapar da Segunda Divisão. A recuperação precisa ser imediata. Para o Palmeiras tudo ficará mais difícil se a definição ficar para as últimas rodadas.
Mas não é complicado depender, por exemplo, de Valdivia. Ele é o principal jogador do elenco, o mais talentoso. Só que não mostra o menor comprometimento com o clube. Explicar o que acontece com o Valdivia é simples. Ele é uma herança que caiu no colo do Paulo Nobre. Um jogador com um excelente contrato de cinco anos. Como é que um presidente (Belluzzo) tem a coragem de dar um contrato longo, caríssimo a um jogador? Compromete o orçamento do clube apostando em uma futura venda. Com o atleta caminhando para os 30 anos? É um absurdo. As condições levam esse atleta a se acomodar. O erro é do dirigente, incapaz de pensar no peso de suas atitudes no futuro. Qual o potencial que você vê no atual Palmeiras? Lógico que não é das melhores equipes da história do clube. Só que não é pior do que vários que estão na parte de baixo da tabela. Mas vejo um time assustado, muito cobrado, pressionado, tenso. A Comissão Técnica é honesta, experiente, trabalhadora. O material humano não é de alto nível. Mas o suficiente para escapar da Segunda Divisão. Só que o lado psicológico vai pesar demais nesses últimos jogos. Se seria bom sair de São Paulo, treinar longe de tanta pressão? Talvez. O que eu defendo é que algo precisa ser feito. Se as coisas continuarem assim, tudo ficará ainda mais difícil. Ainda mantenho a fé que vamos escapar. Mesmo com o Palmeiras vivendo esse inferno, você defende um segundo mandato para o Paulo Nobre? Um pai não pode abandonar o filho no meio do caminho... Fui mesmo o pai do Paulo Nobre na sua briga pela presidência. E se o quadro continuar o mesmo, com essa gente na oposição em quem não confio, devo manter o meu apoio. O que não significa que ele será reeleito, já que nem se lançou ao segundo mandato. Eu acredito que o Paulo deve ter aprendido muito nestes primeiros anos. Deve ter percebido que não adianta se deslumbrar. O futebol de um clube grande como o Palmeiras precisa ser administrado com responsabilidade, austeridade. E é preciso ter visão e coragem para mudar os rumos do que não está dando certo coragem. Não é preciso que eu fale o que está errado. Ele é muito inteligente. E deve saber o quanto foi mal cercado. Essas influências foram responsáveis por várias decisões equivocadas. Na parte administrativa, no marketing, no futebol. A hora é de reagir. Tirar o Palmeiras de qualquer maneira do caminho do rebaixamento. O que não pode acontecer é ficar paralisado. É preciso atitude. Não quero ver o clube de novo na Segunda Divisão. O Paulo tem de agir. Mostrar porque é presidente...
Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 22 Sep 2014 11:51:10
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