quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

A derrota para o Corinthians foi a gota d'água. Muricy é questionado pela apatia do São Paulo. Para sobreviver, precisa fazer o time reagir na Libertadores. Acabou sua imunidade...

A derrota para o Corinthians foi a gota d'água. Muricy é questionado pela apatia do São Paulo. Para sobreviver, precisa fazer o time reagir na Libertadores. Acabou sua imunidade...




A cúpula do São Paulo está profundamente decepcionada com Muricy Ramalho. Vai reclamar, ironizar a péssima arbitragem de Ricardo Marques Ribeiro. Deve procurar a Conmebol para que no próximo confronto contra o Corinthians, no dia 4 de março, o juiz seja estrangeiro. Mas nada disso poupa o treinador. Os dirigentes estão em alerta muito além da derrota em si. Um resultado normal. Já que a partida aconteceu no Itaquerão. Mas pela maneira com que Muricy vem se comportando. As incoerências. O clube já disputou oito partidas em 2015. Duas pelo torneio em Manaus, cinco pelo Paulista e uma pela Libertadores. Foram formações diferentes, distintas, sem coerência. Oito escalações diferentes! Jogadores são obrigados a mudar de função a cada adversário. É como se estando à frente do time há um ano e meio, o técnico ainda não tivesse chegado à conclusão do que serve para o São Paulo. Ele fechou o treinamento para o jogo contra o Corinthians. Decidiu fazer o que nunca havia feito. Espelhar sua equipe como a de Tite. Optou para surpresa geral por 4-1-4-1. Comprar a briga tática e ganhar no talento de seus atletas. Foi um vexame. Tite, com apenas dois meses de retorno ao Parque São Jorge, conseguiu montar um conjunto impressionante. Foi um massacre tático em cima do rival. Por mais apoio dos torcedores corintianos, a reação apática do São Paulo decepcionou profundamente conselheiros e dirigentes. A mórbida diversão nesta manhã de ressaca para os conselheiros foi enumerar os erros de Muricy. Como deslocar Michel Bastos do meio para a lateral esquerda. Colocar o lento Maicon tendo como missão vigiar Elias, expor a falta de velocidade de Alan Kardec, que fez Fábio Santos parecer Usain Bolt. Para fazer essa função havia Jonathan Cafu no banco. O inseguro Bruno não poderia ter jogado 90 minutos. Thiago Mendes seria a escolha lógica. Ganso ficou sozinho para armar os contragolpes. Foi facilmente anulado por Ralf. Dória estava sem ritmo, sem proteção. O veterano Luís Fabiano abandonado à própria sorte, sozinho no ataque... Enfim, críticas e mais críticas no Morumbi às escolhas táticas do técnico. A única unanimidade é a constatação que Muricy está muito diferente no banco de reservas. A diverticulite e as arritmias cardíacas o assustaram. Os médicos exigiram que ele seja o menos estressado possível no banco de reservas. Sumiram a agitação, os gritos, dos pulos, os palavrões em alto brado, das reclamações, os chutes nos copos d"água.

Mesmo em uma partida importantíssima como a de ontem, ele estava contido. Passou grande parte do jogo sentado, resmungando com os auxiliares Tata e Milton Cruz. Os palavrões eram sussurrados, mastigados. Não emanava energia ao time, como sempre fez. Muricy revelou que não quer seguir o exemplo de Telê Santana. Ele acredita que foi o stress que levou o técnico ao quadro de isquemia cerebral. Jurou à família que não repetirá o erro de seu mentor. De acordo com ele, Telê não aproveitou a vida, não aproveitou o dinheiro que conseguiu juntar trabalhando. Por isso o pensamento de aposentadoria é cada vez mais constante. Em novembro, completará 60 anos. Sua vida financeira está mais do que definida. A estranheza da diretoria do São Paulo seguiu depois dos 2 a 0 no gramado. Na coletiva, Muricy foi a imagem do conformismo. Não quis atacar o fraco juiz Ricardo Marques Ribeiro. "A arbitragem não teve tanta responsabilidade. Não jogamos bem. Tivemos uma boa posse de bola, é o que nosso time tem. Muita técnica, mas tivemos pouca profundidade. O lance da reclamação eu vi de longe. Se não faz o segundo gol, fica 1 a 0... Produzimos muito pouco. Tem de reconhecer que temos de jogar muito mais. Só esse jogo de bom toque, boa técnica, é muito pouco." Sua voz era calma, serena. Nem parecia que o São Paulo havia sido derrotado jogando tão mal. Quem prestou o máximo de atenção no que Muricy disse, havia uma espetada na diretoria. Quando ele fala que o time precisava de profundidade, ele se referia à impossibilidade de escalar Centurión.

Quando o argentino foi contratado, o treinador tratou de preparar o esquema com sua presença ao lado de Luís Fabiano. Seria ele quem ocuparia o setor direito. Buscando o contragolpe e ainda marcando Fábio Santos. Seria velocista contra velocista. Ele tinha de cumprir duas partidas de suspensão na Libertadores por uma expulsão em 2013. Não poderia enfrentar o Corinthians como o Danubio. Só que Muricy demorou para ser avisado. Uma grande falha da parte burocrática, da diretoria do São Paulo. O treinador foi sutil. Meia palavra bastou. Antes mesmo de começar a Libertadores, Carlos Miguel havia colocado toda a pressão possível nas costas do treinador. "O Muricy está devendo essa pra gente. Nós montamos o time que ele quis. Ainda quer um jogadorzinho, mas com o que tem agora ele precisa ganhar. Quem vai cobrar publicamente dele sou eu. Não é mais ele que cobra da diretoria", avisou o presidente na rádio Jovem Pan. Esse "jogadorzinho" era Centurión, o atacante velocista que o técnico tanto cobrava. Depois da derrota para o Corinthians, o São Paulo enfrentará o Danubio do Uruguai, na próxima quarta, no Morumbi. No grupo da Morte, que ainda conta com o atual campeão da Libertadores, San Lorenzo, a vitória é obrigatória. Conselheiros, dirigentes e torcedores não aceitarão outro resultado, contra o time mais fraco entre os quatro que disputam duas vagas. Embora tenha contrato até dezembro de 2015, uma eventual eliminação do São Paulo na primeira fase da Libertadores, deixaria Muricy em sérios problemas. O presidente do Conselho Deliberativo do clube, Carlos Augusto Barros e Silva, é inimigo mortal do treinador. Foi o responsável por sua demissão em 2009. Repetia ao então presidente Juvenal Juvêncio que ele não tem o espírito de Libertadores. Muricy caiu na competição sul-americana de 2009, quando o São Paulo foi eliminado pelo Cruzeiro. Deu a resposta a Leco ao conquistar a Libertadores pelo Santos em 2011. Seu título foi minimizado pelo desafeto. Por ter Neymar no elenco da Vila Belmiro. A atual situação não é nada confortável para o treinador são paulino. Muricy deixou de ser intocável há muito tempo. Já foi esquecido que ele tirou o clube do rumo do rebaixamento no Brasileiro de 2013. Agora a cobrança é outra. Aidar quer títulos, conquistas. Ou ao menos não ver humilhado o caro elenco que montou, sendo eliminado da primeira fase da Libertadores. Inteligente, vivido, Muricy já percebeu está sozinho nesta derrota para o Corinthians. Não há solidariedade. Nada de abraços dos dirigentes após o jogo no Itaquerão. Só cobranças. Por enquanto murmuradas intramuros. Que faça o time reagir. Se reinvente. Seja no treinamento e nos jogos o técnico vibrante que o São Paulo precisa. Acabou sua imunidade. E ele sabe disso...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 19 Feb 2015 12:39:56

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