terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Grenal da paz em Porto Alegre. Mães como seguranças em Recife. É a sociedade desesperada, tentando conter os vândalos infiltrados nas organizadas. Compensar o descaso criminoso do governo, um estímulo à impunidade...

Grenal da paz em Porto Alegre. Mães como seguranças em Recife. É a sociedade desesperada, tentando conter os vândalos infiltrados nas organizadas. Compensar o descaso criminoso do governo, um estímulo à impunidade...




A iniciativa da direção do Internacional foi corajosa, criativa e muito bem amarrada. Com as equipes de Aguirre e Luiz Felipe Scolari vivendo péssimo momento, a saída foi investir nos torcedores. Criar o "clássico da paz". Reservar dois mil lugares para que torcedores dos dois clubes possam sentar lado a lado, com uniformes, bandeiras diferentes. Mas nada é improvisado. E nem é para qualquer um. Quem comprou os ingressos precisou deixar todos os seus dados. E do acompanhante rival. Se houver algum problema, será fácil responsabilizar os envolvidos. Processá-los e buscar uma punição exemplar, se for o caso. Pais e filhos, casais, parentes foram a esmagadora maioria dos que compraram as entradas. Elas estão esgotadas para o Grenal de domingo. Até porque o jogo é a materialização do que parecia ser utopia pura. O pai colorado ter o prazer de ir ao maior clássico do Rio Grande do Sul com seu filho, gremista. A iniciativa é sensacional. Tem como alvo colocar um fim na violência e garantir pessoas normais nos estádios. A direção gremista promete fazer o mesmo quando tiver o mando de jogo. O presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar, quer fazer a mesma coisa no clássico contra o Corinthians, pela Libertadores, no Morumbi. Reservar um setor misto. Os pernambucanos também foram criativos. Trataram de selecionar 30 mães para assegurar a paz na Arena Pernambuco. As genitoras de membros de torcidas organizadas "trabalharam" como seguranças, espalhadas pelo estádio. Sport e Náutico jogaram e não houve problemas dentro da arena. As mães foram respeitadas. Ou seja, a iniciativa privada está tentando compensar a incompetência das autoridades brasileiras. A omissão diante da violência das torcidas organizadas é criminosa. A Polícia Militar trabalha, prende os bandidos. Mas não há amparo legal para deixá-los isolados da sociedade. Como aconteceu no domingo. Vândalos infiltrados nas organizadas do Vasco e Fluminense combinaram uma briga perto do Engenhão. A polícia foi avisada. Sabia o que aconteceria. E prendeu 118 homens. 19 menores. Eles tinham cabos de madeira, pedras e rojões. Como novidade, usavam protetores bucais, utilizados por lutadores de MMA e boxe. Para proteger os dentes.

Mal foram detidos e advogados pagos pelas torcidas já começaram a agir. Para liberá-los da acusação de formação de quadrilha e promover tumulto. A legislação está dos lado dos vândalos. O que está atrapalhando a ação dos advogados é o fato de cerca de 50% dos detidos já têm passagem pela polícia. Um deles foi fichado pelo terrível confronto entre vascaínos e atleticanos em Joinville, pelo Brasileiro de 2013. Leone Mendes da Silva, o torcedor da que foi flagrado com um cabo de madeira, com pregos na ponta, batendo em um torcedor atleticano desacordado, postou na Internet. Ele fez questão de postar no facebook, mostrar sua revolta com quem o criticava. Depois de passar cerca de três meses detido, Leone não mostrava nenhum arrependimento. Pelo contrário. Livre, estava ainda mais revoltado. "Muitos me criticaram, mas não sabem o que passamos pelos nosso maiores amores. Vou deixar uma frase para os recalcados filhas da puta. Os fracos não fazem história, mas sim os valentes. Chupa. "Só quem está no dia a dia pode falar. Somos o que somos. Se arrepender jamais." Dias depois, escreveu: "Estou tranquilão." A terrível briga em Joinville aconteceu há um ano e dois meses e o julgamento ainda não foi marcado. Leone é acusado de tentativa de homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e sem chance de defesa da vítima. Ele agredia a pauladas, Estevam Silva desacordado. O advogado de Leone, Marcio da Mata Vicente, está tranquilo. Tem certeza da inocência do seu cliente. "Ele (Leone) não é nenhum criminoso. Está arrependido e responde processo. Mas tem que tocar a vida. Não foi condenado e até que se prove o contrário é inocente", disse ao jornal Extra. O vascaíno tem apenas de se apresentar em uma delegacia nos dias de jogos do Vasco. E o advogado mandar relatórios sobre o comportamento de seu cliente à Justiça.

A polícia do Rio de Janeiro faz questão de dizer que os detidos do domingo foram encaminhados para o presídio de Bangu. O estardalhaço perde vigor quando advogados garantem que logo eles estarão legalmente liberados. Como aconteceu em 2011, quando 102 pessoas foram detidas por causa de uma briga entre organizadas do Flamengo e Vasco, em Niterói. Todas saíram livres, sem prejuízo algum. "Estamos esperando acontecer uma grande desgraça. Só assim o Brasil tomará providências reais sobre o que acontece nas organizadas. Infelizmente essa é a verdade", desabafa o coronel Marinho, que trabalhou 17 anos no Batalhão de Choque, só tratando dos torcedores nos clássicos em São Paulo. "A situação foi piorando ano a ano. A impunidade só estimulou a violência. A realidade é essa", disse o militar ao blog.

Como foi revelado por aqui, não houve conflito entre torcedores organizados do Corinthians e do São Paulo no clássico pela Libertadores no Itaquerão. Os chefes da Gaviões da Fiel, B.O., e da Independente, Negão, fizeram um acordo de paz. Até para evitar torcida única nos estádios paulistas. E não aconteceu qualquer conflito. A força dos presidentes das organizadas é algo impressionante. Enquanto isso, medidas paliativas vão sendo adotadas. Como a do Grenal, das mães em Pernambuco. Atitudes desesperadas da sociedade, diante da omissão governamental. O Brasil coloca um band aid em uma fratura exposta. Lugar de criminoso é na cadeia. Esteja ele vestindo camisa de torcida organizada ou não...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 24 Feb 2015 11:47:40

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