segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Cúpula da CBF se assusta com pergunta a Dunga. Teme perseguição, vingança da Globo ao técnico da Seleção. Pura paranoia. A relação continua ótima. Foi apenas um repórter cumprindo a sua obrigação...

Cúpula da CBF se assusta com pergunta a Dunga. Teme perseguição, vingança da Globo ao técnico da Seleção. Pura paranoia. A relação continua ótima. Foi apenas um repórter cumprindo a sua obrigação...




Cubro jogos da Seleção Brasileira desde 1989. Foram centenas de jogos, seis Copas do Mundo, eliminatórias, Copas América, Olimpíada, Panamericano e muitos amistosos. Conheci muita gente. Os melhores repórteres de televisão para mim são Mauro Naves, Roberto Thomé, Fernando Fernandes e Tino Marcos. Cada um no seu estilo. Mauro é o rei dos bastidores, cativa o entrevistado e, quem o cerca, fora do ar com sua personalidade agradável. Thomé tem ótima visão tática, fontes importantes, busca notícia, não a espera cair no colo. Tem a coragem de fazer a pergunta que todos evitam. Foi assim que deu o furo da volta de Felipão à Seleção, ainda na Olimpíada de Londres. Fernandinho optou pela malícia dos repórteres que passaram pelo rádio. Fala a mesma linguagem dos jogadores. Os faz sentir que estão se abrindo com que realmente entende suas alegrias, seus dramas. É o terror para os colegas após jogos. Quando começa a perguntar não para mais. Ágil, bem informado. Tino é estudioso, com uma visão diferenciada, que foge da obviedade. Conduz a emoção do telespectador como um cruel diretor de cinema. Da euforia, empolgação à mais profunda tristeza. Sabe colar as imagens com textos que vão muito além do esporte. Nas minhas veias corre o sangue do repórter "de jornal". Não de um jornal qualquer, mas o falecido Jornal da Tarde. Vespertino que revolucionou a imprensa esportiva brasileira. Com sua diagramação e eterna contestação. Foram prêmios e mais prêmio. Fechou porque seus donos não perceberam a importância da mídia eletrônica, a Internet. Tive a sorte trabalhar no JT por 22 anos. Trouxe essa experiência para os já cinco anos de blog no R7. Entre nós, repórteres "de jornal" sabíamos muito bem a diferença dos veículos. Principalmente a televisão. Tínhamos páginas e mais páginas para explicar o que víamos. Os repórteres de televisão, não. Dificilmente suas matérias passam de dois minutos. Sempre com direito a imagens para prender a atenção do telespectador. As "passagens", resumo do que o jornalista considerou mais importante no dia é autoral. Ele coloca seu rosto diante das câmeras. E dá a sua visão. Geralmente, não mais de 30 segundos.

Nunca me adaptaria a ser "repórter de tevê". Gosto de contextualizar, explicar tudo o que cerca um fato. Minhas passagens levariam cinco minutos, no mínimo. O telespectador já teria mudado de canal após os 30 primeiros segundos. A adaptação seria impossível. Por isso recusei duas propostas da Globo, uma da Bandeirantes e outra da Cultura. Elas não sabem do que escaparam. Os veículos de comunicação têm seus interesses, como qualquer empresa. Ainda mais envolvendo a Seleção Brasileira. Posso testemunhar que Mauro, Thomé, Fernandinho e Tino enxergam tão bem quanto qualquer "repórter" de jornal. Ou até melhor. Mas qual o interesse de redes em denegrir um produto que é seu? Que pagou caro por ele? Principalmente da TV Globo, que monopoliza ao futebol há 40 anos neste país. Mauro e Tino são dignos, mas não se precipitam. Mostram os indícios da crise, se um trabalho é mal feito. Mas não balizam suas matérias por massacrar esta situação. São orientados a não opinar, a informar. No máximo perguntam. Deixam para os comentaristas, se quiserem e, puderem, criticarem, cobrarem, lamentarem. Vividos até a medula, Naves e Marcos teriam todo conhecimento necessário para expor as entranhas da Seleção. Mas cumprem a missão de reportar. E ponto final. Conheço Mauro desde a Copa de 1998, na França. Formado em Estatística, vê números em tudo. Ele é divertido, sagaz. Está sempre conversando com os treinadores da Seleção fora das câmeras. Esperto. Por trabalhar em São Paulo, a proximidade foi natural.

Vejo Tino esporadicamente. Ele mora no Rio. A primeira vez que o encontrei foi em 1991, na Copa América do Chile. Quando o assessor de imprensa de Falcão, Vital Bataglia, exagerou na proteção do inexperiente treinador. Ele também jornalista vivido, não teve traquejo para lidar com a imprensa brasileira. A boa intenção e a vontade de acabar com privilégios tornou insuportável o ambiente da Seleção no Chile. Falcão e Bataglia caíram para nunca mais voltar. Desde então, nas últimas seis Copas, sou obrigado a me encontrar com Tino. Não sou seu amigo. Reparo muito bem que ele vai até onde pode ir. Dança muito bem na corda bamba. Não pode ferir os interesses da Globo, mas tem sua dignidade de jornalista preservada. Ele é reservado. Nada de bate papo fora do ar com treinadores, dirigentes, jogadores. Usa muito bem o produtor especializado em Seleção Brasileira, João Ramalho, para conseguir o que precisa de bastidor. Chega preparado para as entrevistas. Fiz questão de mostrar um pouco da personalidade dos repórteres que cobrem há décadas a Seleção. Por causa da situação constrangedora que aconteceu hoje em Cingapura. Tino Marcos fez a pergunta que deveria ter sido feita. Eu como repórter, fiquei incomodado ela não surgiu no sábado. "Dunga, a seleção foi muito elogiada no jogo contra a Argentina, não tomou gols, mas quando você faz uma avaliação do que aconteceu dentro campo, você faz uma avaliação sua também? Seu comportamento fora de campo, do seu ponto de vista, foi normal? Ou a insinuação de que o pessoal da Argentina usou drogas, você se arrepende?"

Completamente cabível. O treinador brigou com o massagista da seleção Argentina e com o auxiliar de Gerardo Martino. No auge da briga, ele nem mais acompanhava a partida. E irritado, esfregava o nariz e repetia a Jorge Pautasso. "Tu é igualzinho a ele. Tu é igualzinho." Todos que tiveram a chance de ver a triste cena ficaram com a mesma impressão. Parecia que Dunga estava se referindo a Maradona e a cocaína. Tino cumpriu sua obrigação. Dunga ficou desconcertado. E respondeu, irritado. "Bom, isso quem está falando é você. Como tinha muita poluição, tinha o nariz sempre trancado [não explicou o que o termo significa]. Quem está falando que usou droga ou não é você. Nós estamos trabalhando na seleção brasileira, e eu acredito que o torcedor brasileiro quer um time competitivo e com sangue na veia. Se quiser um time mais tranquilo e ponderado, aí depende das escolhas." Nariz trancado é "fechado" por causa da poluição na China. Dunga quis dizer que passou a partida toda respirando normal antes e depois da discussão. Justo nos segundos que falou "tu é igualzinho", suas narinas fecharam. Acredite quem quiser. Foi a sua resposta como técnico da Seleção. Tem de ser respeitada. Mas pode ser contestada.

A repercussão nos bastidores já é enorme. Há muita gente assustada na CBF. Inclusive desejando que aconteça uma reunião "de paz" entre a cúpula da entidade e a Globo. Seria o primeiro sinal de que a emissora está contra o trabalho de Dunga. Não o teria perdoado por ter xingado Alex Escobar. A narração de Galvão Bueno também se tornou mais crítica aos jogos do Brasil. Só que desta vez está havendo precipitação, paranoia entre os poderosos da CBF. A emissora que tem os direitos das Copas de 2018 e 2022 não está se rebelando. Marin já recebeu recado para se tranquilizar. O episódio com Alex Escobar está enterrado. O que acontece com Galvão é ressaca pessoal. Vergonha que a Seleção e ele mesmo passaram com a Copa. O narrador deu o seu aval ao trabalho de Felipão depois da vitória na Copa das Confederações. O vexame no Mundial o atingiu. Por isso está mais crítico, desconfiado com o Brasil em campo. Seu conhecido ufanismo diminuiu. Agora, em relação a Tino, ele apenas cumpriu sua missão. Sem ser mal educado, estúpido. Perguntou o que deveria ter perguntado. Os reflexos são óbvios. Para Marin, Marco Polo e Dunga o estranhamento veio de onde partiu a pergunta. Porque Tino não é mais Marcos Batista Fernandes. Seu sobrenome é "da Globo". Tino da Globo. Por isso o susto, a tensão. Mas a relação com a dona do futebol no país continua ótima. Nenhum dos dois presidentes da CBF ou o técnico da Seleção enxergaram o óbvio. O que aconteceu foi apenas um jornalista sem medo de cumprir sua obrigação...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 13 Oct 2014 14:27:41
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