quarta-feira, 29 de outubro de 2014

No Grêmio, Felipão voltou a ser Felipão. Não esqueceu o 7 a 1 da Alemanha. Continua amargurado, mas calado. Não quer trair quem o traiu na Copa do Mundo. A CBF e a Globo...

No Grêmio, Felipão voltou a ser Felipão. Não esqueceu o 7 a 1 da Alemanha. Continua amargurado, mas calado. Não quer trair quem o traiu na Copa do Mundo. A CBF e a Globo...




O escritor João Máximo relatou de forma direta, seca. Uma significativa situação com importante personagem do futebol brasileiro. "Ao chegar para a noite de autógrafos do livro “Anatomia de uma derrota”, em que Paulo Perdigão narrava o dramático insucesso brasileiro na Copa do Mundo de 1950, Flávio Costa foi abordado por uma desinformada repórter de TV:— O senhor é o autor? — perguntou. — Não, eu sou a derrota — respondeu ele." O encontro aconteceu 35 anos depois da derrota da Seleção na Copa de 1950. Flávio Costa era o treinador. E sempre assumiu ser muito mais responsável pela perda do título na decisão contra o Uruguai do que Barbosa. Ficou marcado até o final de sua vida, em 1999. Cinquenta e quatro anos depois do amaldiçoado vice brasileiro, a história se repete. O técnico foi crucificado. As palestras mais caras do Brasil não acontecem mais. Agência alguma deseja incluí-lo nas propagandas. Muito menos Murtosa. Até o seu assessor de imprensa parou de seu bajulado. Não há mais sede de entrevistas com Felipão. A TV Globo o quer longe do Jornal Nacional. Maitê Proença não deseja mais sentar no seu colo. Só que Felipão não quer ser Flávio Costa. Assumiu o erro tático contra a Alemanha, na maior derrota de todos os tempos do futebol deste país, a inesquecível goleada por 7 a 1. E que também não conseguiu reanimar o grupo, perdendo a decisão pela terceira colocação para os holandeses, em Brasília. E só.

Scolari sabe mais do que ninguém o quanto foi traído. A começar pelas longas conversas que teve com Marin e Marco Polo del Nero. O técnico colocou de maneira aberta que o grupo brasileiro era muito jovem. As estrelas da Copa de 2014 deveriam ser Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Robinho, Adriano. Só que eles se perderam no caminho. Kaká fisicamente. Robinho perdeu a explosão física, Ronaldinho se perdeu nas farras. Adriano decidiu que não seria mais jogador. Não havia, portanto, herança efetiva da Copa de 2010. Felipão sabia que o único talento verdadeiro era Neymar. Thiago Silva e David Luiz eram ótimos zagueiros. E só. O ideal seria fazer o que ninguém iria revelar publicamente. Era preciso tentar dar a vida para ganhar a Copa. Mas o que ficaria seria o amadurecimento de todo o grupo. Scolari tinha nas mãos 17 atletas que nunca disputaram um Mundial. Era muita coisa. Marin prometeu a Felipão com todas as letras. Ele entendia a situação. E o técnico continuaria depois da Copa do Mundo, fosse qual fosse o resultado. Deveria esquecer sua vontade de trabalhar no Mundial da Rússia treinando outro selecionado. Seria o brasileiro. Marco Polo, sucessor de Marin, concordava com o projeto. Os dois dirigentes estavam empolgadíssimos com a conquista da Copa das Confederações. Entre eles, acreditavam que Felipão estava exagerando. Também cansaram de ouvir de Carlos Alberto Parreira. O treinador campeão mundial de 1994 considerava muito possível a conquista do título. Era o que também queria ouvir Aldo Rebelo, ouvido e olhos da presidente Dilma Rousseff, tanto na organização da Copa como na Seleção Brasileira. Marin teve reuniões importantes com a cúpula da TV Globo. E ele tratou de passar toda a empolgação, a sua confiança pessoal na conquista do título. Toda a conversa de amadurecimento do grupo com Felipão foi esquecida. A confiança do presidente da CBF contagiou a emissora carioca. A concorrência com os canais a cabo vem diminuindo de maneira efetiva sua audiência no Brasil. Em todos os setores. Os jogos dos Estaduais e do Brasileiro estão sabotando a programação do domingo. Os altos índices também nas quartas são raros. A solução rasa, transmitir muito mais jogos dos times mais populares, Corinthians e Flamengo, já não funciona.

Foi quando a emissora resolveu bombardear sua grade de programação com a Copa do Mundo. Com a Seleção. Foi um acordo entre a alta cúpula da emissora com Marin que norteou a programação da Seleção. Foi decidido que, ao contrário de todas os outros 31 times, o Brasil teria todos seus treinos abertos. Com direito a visitas na concentração. Exclusivas obrigatórias com Felipão. Informações do técnico para Patricia Poeta no Jornal Nacional. Pedidos expressos do presidente da CBF. Marin aproveitou para fazer um agrado aos patrocinadores que fazem sua entidade acumular um patrimônio de mais de R$ 900 milhões. Mandou construir lance de arquibancadas na Granja Comary para que pudessem assistir aos treinos. Felipão não havia concordado com nada disso. Teve de engolir tudo isso. Acabou envolvido em um clima de empolgação e amadorismo de dar pena. Ele tinha inspirações histórias de seleções donas da casa que foram campeãs do mundo mesmo não tendo o melhor time. Alemanha em 1934, Argentina em 1978, França em 1998. Nesses três momentos, a pressão da torcida, o nacionalismo empolgou os jogadores, que acabaram se superando em campo. Scolari falou o que não deveria. "Nós temos a obrigação de ganhar a Copa. E vamos ganhá-la", assegurou. Parreira, que deveria ser a razão na Comissão Técnica, piorou tudo. "O campeão chegou e muito bem chegado", avisava, batendo no peito. A população acreditou. Se preparou para comemorar mais um título, não ver um campeonato de futebol. Enquanto isso, Felipão e Neymar estavam em todas propagandas possíveis, imagináveis. A todo instante. Uma tortura. Foi uma overdose de exposição. E que aumentou e muito suas contas bancárias.

Por isso quando veio o vexame, a frustração foi bem maior. O choro virou revolta, desprezo pelo time que havia vencido a Copa das Confederações. Galvão Bueno, voz oficial da Globo, fez discursos questionando todo o trabalho. Como se a emissora não tivesse exigido regalias como os treinos abertos. Acesso de Luciano Huck, Mumuzinho na intimidade da concentração dos jogadores. Marin e Marco Polo se esqueceram da promessa feita a Felipão. O treinador nem mostrou o relatório que fez dos jogadores aos dirigentes. Eles não quiseram ver. Já desejavam Dunga. Decidiram enfrentar até a Globo, que havia se isentado de culpa, os apresentado como únicos responsáveis pelo fracasso. O troco seria chamar um técnico rígido e que vai sim fechar os treinos e está disposto a enfrentar Galvão ou qualquer contratado da emissora que questionar seus métodos. A culpa que ficasse com Felipão. Felipão chorou de tristeza com o sofrimento de sua família. De raiva com a traição da CBF. Mas não quis ficar sem trabalho. Enlouqueceria. O técnico foi buscar refúgio no seu ninho, o Rio Grande do Sul. Nos braços do seu Grêmio, de Fábio Koff. Não trabalha mais pelo dinheiro, mas para limpar seu nome. E Felipão tem sido Felipão. Gritado com os jogadores, enfrentado a imprensa, fechado os treinamentos. Brigado com Pedro Ernesto e quem o questiona. Montado times fechados, com três volantes. Seus atletas não têm vergonha de fazer falta. Não choram quando ouvem o hino nacional. Nem o gaúcho. Está a dois pontos do G4, faz uma ótima campanha com uma equipe nada além do que competitiva. Não quer saber de falar de Seleção. Finge que a Copa de 2014 nunca existiu. Se esquece também da de 2002, que ganhou. Quer apenas tomar seu chimarrão em paz. Ficou extremamente magoado com a torcida do Palmeiras. Iludido, esperava apoio do clube onde ganhou a Libertadores. Ouviu um cruel coro no Pacaembu. "Não é mole, não, o Felipão afundou a Seleção." Percebeu que não havia sido perdoado pelo encaminhamento do rebaixamento em 2012.

Felipão percebe que sua vida fez um circulo. Desde que saiu do Grêmio foi para o Japão, Palmeiras, Cruzeiro, Seleção, Portugal, Chelsea, Bunyodkor, Palmeiras, Seleção. E retorno ao Grêmio. Foram 18 anos. De vitórias, dinheiro, conquistas marcantes. E também frustrações. Mas jamais alguém ouvirá de sua boca. Não desse técnico, que fará 66 anos daqui a 11 dias. "Eu sou a derrota de 2014." Felipão sabe o quanto se iludiu, se enganou. Assume ser um dos responsáveis pelo vexame. Não o único. Tem consciência do quanto foi traído. Para também não trair, se cala sobre a CBF e a Globo. Não torna pública a verdadeira história do fracasso da Seleção na Copa do Mundo no Brasil...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 29 Oct 2014 11:55:19
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