terça-feira, 21 de outubro de 2014

Morte de torcedor palmeirense é a 13ª em 2014 envolvendo organizadas. As autoridades fingem que não enxergam. Afinal o que são 13 mortos entre 56 mil homicídios por ano? Esse é o país sem lei...

Morte de torcedor palmeirense é a 13ª em 2014 envolvendo organizadas. As autoridades fingem que não enxergam. Afinal o que são 13 mortos entre 56 mil homicídios por ano? Esse é o país sem lei...




O que restaram foram vários tênis abandonados, sujos de sangue. Os próprios policiais confirmam. A cena foi de uma selvageria inacreditável. Cerca de 150 homens tinham um encontro marcado no domingo. Quilômetro 18 da Via Anchieta. Meio-dia. Dezenas de celulares mostravam a mesma mensagem. A ordem era "massacrar" os santistas. Em cada telefone, o mesmo verbo: massacrar. Tudo estava combinado. Todos deveriam estar preparados. Deixar seus carros afastados do local. Cada um deveria se abastecer de paus de cerca de um metro. De fácil manejo. Eles foram levados por carros e motos. Além das pedras na beira da rodovia. Alguns levaram suas facas. E assim foi feito. Os convocados apareceram, se armaram. Se prepararam. Os dois alvos foram avistados. Ônibus de torcedores do Santos, da Torcida Jovem. Dentro deles, homens, garotos. Mas também mulheres e crianças. Os 150 torcedores do Palmeiras, da Mancha Verde, invadiram a rodovia. O plano era simples, brutal. Todos deveriam se posicionar em frente aos veículos. E atirar pedras nos vidros. O esperado era quem os motoristas brecassem. E quando assim acontecesse, a ordem era partir para o confronto. Seria uma vingança do que aconteceu no primeiro turno. Um ônibus de torcedores palmeirenses foi apedrejado quando saía da Vila Belmiro. Estava quebrado o pacto de não agressão entre as organizadas dos dois times. A vendeta seria neste domingo. Tudo havia sido articulado com raiva. Só que houve um enorme erro no plano. Ninguém contava com o fato de os motoristas decidirem não parar. Saíram da pista que liga o Litoral a São Paulo. Aceleraram os ônibus pelo acostamento. Os palmeirenses não se conformaram. E passaram a apedrejar os dois veículos. Só que não contavam com o fato de que havia proteção aos ônibus. Santistas vinham em carros de passeio.

A polícia acredita que pelo menos dois, um Audi prata e um Meriva preto, aceleraram em direção aos palmeirenses que atiravam pedras. Seis deles foram atingidos pelos carros. Leonardo da Mata Santos, 21 anos, foi atingido em cheio. Suportou dez minutos, mas morreu. Eli Simão da Silva também foi atropelado violentamente. Sofreu fraturas no crânio, na face, na perna e no braço esquerdo. Além de trauma fortíssimo no abdômen. Corre risco de morte. Respira graças a aparelhos. Marcio Ramon de Souza teve fraturas generalizadas. Anderson Ricardo Figueira Vera também está hospitalizado, com escoriações e trauma na face. Ainda há outra denúncia. Um palmeirense teria decidido subir em um dos carros. E teria sido atingido por um tiro. Só que o ferido teria preferido não procurar hospitais perto do confronto. Pela avaliação da polícia, houve muita sorte. Muitos palmeirenses poderiam ter morrido se os motoristas dos ônibus tivessem decidido seguir em frente. E não desviar para o acostamento. A PM desta vez quer responsabilizar os torcedores e não as torcidas. Há seis membros envolvidos no conflito que estão presos. Através dos celulares, os policiais acreditam que chegarão a outros personagens da selvageria. A Polícia Militar na noite de ontem avisava. Chegou ao nome do motorista do Audi A3 prata, 1999, que teria atropelado Leonardo. Se trata de André Maceno Apocalipse. Membro da Torcida Jovem, do Santos. Ele estava foragido na noite de ontem. Informantes revelaram até onde ele mora com a família em São Paulo. Leonardo da Mata Santos será enterrado hoje, no cemitério Parque das Cerejeiras. Há um único pedido da família. Que os membros da Mancha Verde que acompanharão o cortejo não usem camiseta da torcida. Há a certeza dos parentes de Leonardo que foi essa sua ligação à organizada que o fez perder a vida. Com ele, São Paulo, a cidade mais desenvolvida da América Latina, teve sua quarta morte de torcedor em 2014. Em agosto, outro palmeirense, Gilberto Torres Pereira, de 31 anos, foi massacrado. Teve sua cabeça esfacelada a golpes de um pequeno tronco de árvore. Três corintianos foram acusados do assassinato. Entre eles o vereador do PT, Raimundo César Faustino, mais conhecido como Capá. Em fevereiro, outro crime chocante. Um santista, Márcio Barreto de Toledo, foi morto a golpes de barras de ferro. Dez são paulinos fizeram fila para amassar seu crânio. Não tiveram a menor piedade. Nem com Marcio já desacordado, continuaram a bater. A intenção era matá-lo. O que conseguiram. Ninguém foi preso. A quarta não foi por emboscada. Foi por um motivo fútil. O policial militar Ricardo Luiz de Sá matou a tiros seu amigo Robson Oliveira João. Ele o xingou de "bambi" por ser são paulino. Robson havia acabado de ser pai pela primeira vez. O PM disse que estava alcoolizado.

No Brasil já foram registradas 13 mortes de torcedores em 2014. Desde 1988, 251 pessoas já perderam a vida por conflitos entre organizadas. Este número oficial é considerado muito baixo, irreal pelas próprias autoridades. Não há dúvida que o motivo da maioria destas mortes continua sendo a impunidade. A acomodação dos políticos que poderiam mudar a legislação. Mas políticos evitam enfrentar as organizadas no país todo. Por um motivo simples. Cada torcedor é um eleitor. As torcidas já elegeram vereadores, deputados estaduais, federais. Até senadores as defendem. Prefeitos e governadores se fazem de cegos, surdos e mudos. Assim como até os presidentes deste país. Assim, vamos contabilizando nossos mortos. Atropelados, apedrejados, com o crânio esmagado por pauladas, assassinados a tiros, facadas, vasos sanitários jogados em estádios. Nada mais choca. Virou triste rotina. O Ministério Público faz mil promessas a cada morte. E nada acontece. A verdade é que ninguém está preocupado com Leonardo, Marcio, Gilberto, Robson ou qualquer um dos 13 torcedores assassinados em 2014. A previsão é que o ano acabe com 56 mil homicídios no Brasil. O que são 13 em um universo de 56 mil? Número maior do que a Guerra do Vietnã. Para variar, a Polícia Militar tem só uma certeza. A torcida palmeirense vai querer se vingar da morte de domingo. Não há perdão. Cobrará sangue da organizada santista. O que dará motivo para nova revanche. O roteiro é esse, não tem fim. Essa é a triste crônica das organizadas deste país chamado Brasil. Mas que também atende por "terra de ninguém". Tudo isso levou a uma única exigência da família Santos. A que está ao seu alcance nesse cenário de tanta selvageria. Pedir que nenhuma camisa de torcida organizada seja levada ao enterro de Leonardo...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 21 Oct 2014 07:44:45
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