domingo, 1 de fevereiro de 2015

Anderson Silva redescobriu a humildade. Olhou no espelho e encontrou Nick Diaz. Preferiu deixar o ego para trás e voltar a ser apenas lutador. Sério, é uma lenda do UFC e que orgulha o esporte brasileiro...

Anderson Silva redescobriu a humildade. Olhou no espelho e encontrou Nick Diaz. Preferiu deixar o ego para trás e voltar a ser apenas lutador. Sério, é uma lenda do UFC e que orgulha o esporte brasileiro...




Anderson Silva deitou de costas no octógono e chorou muito, após os juízes confirmarem sua vitória sobre Nick Diaz. Nem quando conquistou o cinturão do UFC, ele derramou tantas lágrimas. Ele provou a ele mesmo que continuava um lutador de MMA. E ainda deu um dos maiores exemplos de superação no esporte moderno. Há treze meses, Anderson havia quebrado a perna esquerda no mesmo octógono do hotel MGM em Las Vegas. Muitos médicos até tinham dúvidas se voltaria a lutar. Depois de colocar uma liga de titânio na perna quebrada e uma recuperação sofrido, conseguiu. Está de volta ao UFC, ao que mais gosta de fazer: lutar. Os cinco tensos rounds que durou o confronto com Nick Dias foram reveladores. Anderson Silva estava mudado, diferente do lutador arrogante, prepotente, se achando invencível dos últimos tempos. Os 398 dias que ficou sem poder entrar no octógono serviram para mostrar o quanto ele estava traindo os princípios da arte marcial. Ele se deixou empolgar pelo espetáculo. Se sentia inatingível. Baixava a guarda, ironizava golpes dos adversários, baixava a guarda, convidando socos no seu rosto. Tudo mudou quando encontrou pela frente Chris Weidman. O brasileiro vinha de dez defesas do título. O norte-americano era um adversário duro, mas enorme azarão diante do brilhante campeão. Mas Anderson Silva resolveu fazer graça, abaixar a guarda, como passou a fazer constantemente no octógono. Tomou um cruzado e foi nocauteado. Quando voltou a si percebeu que o cinturão de campeão não era mais seu.

Foi uma brincadeira que deu o título para Weidman. Na revanche, Anderson entrou para lutar desesperado. Tinha de recuperar o cinturão. Por uma questão de dinheiro e de ego. Entrou raivoso nesta segunda luta. O norte-americano estava ganhando fácil o combate, quando o brasileiro resolveu chutá-lo. Mesmo com ele estando com a perna levantada, posição básica de defesa. Resultado, Silva quebrou tíbia e fíbula. Além do título perdido para Weidman, veio a sua mais séria contusão da carreira. Percebeu o que realmente nasceu para fazer. Ainda não tem espírito para controlar uma cadeia de academias nos Estados Unidos. Nem nesta encarnação será o ator de filmes de ação que imaginava ser. Seus cromossomos apontavam para a luta. Ao olhar no espelho viu um homem de 39 anos que tomava uma lição da vida. Seu extremo talento havia sido engolido pelo ego. Se não tivesse brincado com Weidman, exposto o rosto de forma tola, baixado a guarda, sua carreira continuaria fantástica. E não passaria pelo drama, pelo medo até de andar que estava sentindo. Percebeu que os milhões que acumulou não bastavam. Seu talento estava no octógono. Mas ele precisava mudar. Voltar a descobrir a palavra humildade. Para quem duvida da rejeição a Anderson, deve falar o seu nome em voz alta em Abu Dhabi, quando quase sabota a entrada do UFC no mundo árabe. Quando resolveu ficar dançando, provocando, menosprezando Demian Maia. Um espetáculo deprimente que está à disposição no youtube. Os mestres de Anderson Silva o desconheciam. Ele não ouvia ninguém. Combinava uma coisa nos treinamentos. Mas na hora da luta, se deixava levar pelos holofotes. Lia e assistia filmes do Homem Aranha para tentar improvisar golpes de fantasia na realidade. Os treinadores suavam quando ele via antigas lutas de Muhammad Ali. O espetacular boxeador que baixava a guarda e ficava brincando com os adversários, fazendo pêndulo. Evitando os socos só no reflexo, na movimentação da cabeça, dando um passo para trás. Com os braços esticados, baixos, ao longo do corpo. Foi fazendo assim que Anderson tomou seu primeiro nocaute na vida, em um soco de Weidman. A fratura na perna refletiu no cérebro, na alma do brasileiro. Ele voltou para a terra. Entendeu que seus tempos de entrar para a luta vestido de Michael Jackson havia ficou no Pride, em 2003. Doze anos se passaram. O Pride foi extinto, comprado pelo UFC. A modernidade exige do lutador cada vez mais seriedade dentro do octógono. Não há mais ingenuidade. Todos sabem boxe, jiu-jitsu, wrestling, muay thai. Golpes básicos de karatê, judô e até capoeira.
Um lutador de elite hoje tem professores de todas essas modalidades, mais preparadores físicos, nutricionistas, fisiologistas, psicólogos, acupunturistas, agentes, empresários. Equipes de sparrings. Academias são reservadas apenas para seu treinamento para uma luta. É muito dinheiro em jogo. Os lutadores que entram para divertir o público são cada vez mais raros. E nenhum deles é campeão de sua categoria. Há dois entre tantos lutadores sérios. O irlandês Conor McGregor e o norte-americano Nick Dias. McGregos é um palhaço fora do octógono. Dentro dele é sério. Tem alta técnica, variação de golpes, estilos e pegada que confunde os adversários. Usou suas provocações surreais para cortar fila. E desafiar José Aldo pelo cinturão. Não é por acaso que, quando focalizado pelas câmeras, Conor esfrega o polegar no indicador. Por trás de todo o show há muito dinheiro vindo do telespectador mundial do UFC com o pay-per-view. Já Nick Dias foi campeão do Strikeforce e do WEC. Teve uma infância difícil, criado pela mãe, não sabia quem era seu pai. Brigador de rua, de bares. Desenvolveu um gênio detestável. Mas aprimorou sua condição física primeiro nadando e depois fazendo triatlo. Boxeador nato, encontrou no MMA uma maneira de descarregar o ódio, a revolta que carrega da infância. Embora tenha apenas 31 anos, seu auge ficou no passado. Não acompanhou a evolução dos concorrentes. É um dos primeiros meio-médios, mas não tem capacidade de luta para ficar com o cinturão do UFC. Já foi pego dopado com maconha. Faltou a vários eventos do UFC. Estava sem lutar desde março de 2013, quando perdeu a decisão do título para George Saint-Pierre. Havia jurado aposentadoria. Mas não resistiu a um convite para enfrentar Anderson Silva. Pediu e ganhou uma bolsa de 500 mil dólares, cerca de R$ 1,3 milhão pela luta de ontem. "A única coisa que sei é que serei surrado. Ganhando ou perdendo", disse, irônico.

E Nick fez o diabo ontem. Xingou, provocou, deitou no octógono, deu as costas para Anderson, baixou a guarda, ofereceu o rosto para ser socado. A postura foi uma tapa na cara do brasileiro. Focado, Anderson se viu no espelho. E não gostou do que viu. Percebeu o quanto é ridículo e vai contra os princípios básicos de qualquer arte marcial desprezar o adversário. Anderson lutou com seriedade. O medo de outra derrota o fez seguro, sóbrio. Voltou as origens. Usou seu talento para superar Nick com jabs e diretos em uma velocidade impressionante. Chutou, pouco é verdade, mas usou a perna que havia fraturado. Usou a larga vantagem dada por Dana White, sua envergadura, diante de Diaz. Foi forte psicologicamente para não entrar nas provocações absurdas do americano. E, melhor, segurou seu ego astronômico. Ao final da luta, pulou a grade para abraçar Jon Jones, campeão que vive mergulhado no inferno que buscou para si mesmo, consumindo cocaína. Um apertava forte o outro. Buscavam e davam apoio, como os maiores talentos do UFC. Nick Diaz, fato raríssimo, fez questão de abraçar Anderson. E declarar que o amava. Mesmo sem poder abrir o olho esquerdo, fechado dos jabs que não conseguiu evitar. Las Vegas viu ontem o Anderson Silva que encantou o mundo. O lutador excepcional. Não uma espécie de "Arakén, o Show Man". Se mantiver sua seriedade, o respeito ao adversário e, principalmente, a si mesmo, o brasileiro tem tudo não só para recuperar o cinturão de Weidman. E cumprir o contrato de mais nove lutas com o UFC. Ganhando em média, um milhão de dólares, cerca de R$ 2,6 milhões, só para pisar no octógono. Fora patrocínio e participação no pay-per-view. Este Anderson Silva humano, focado, orgulha o esporte brasileiro. Chorando de alegria por ter saúde para lutar. Respeitando os princípios das artes marciais. Assim acrescenta, traz brilho, se firma como uma lenda do UFC. Do egocêntrico, prepotente, arrogante que menosprezava adversários, torcedores e até seus mestres, ninguém sente falta...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 01 Feb 2015 11:41:11

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