segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Zé Roberto vai no ponto. Faz os jogadores redescobrirem que o orgulho de atuar com o verde sobre a pele. O Palmeiras é muito grande. Só estava adormecido...

Zé Roberto vai no ponto. Faz os jogadores redescobrirem que o orgulho de atuar com o verde sobre a pele. O Palmeiras é muito grande. Só estava adormecido...



Zé Roberto é evangélico. Vai se dedicar à vida pastoral quando acabar de jogar futebol. Mas poderia ser de qualquer outra religião. É um homem de fé. Aos 40 anos, ele foi considerado por jornalistas como o melhor lateral esquerdo deste País. Com passagens marcantes por Portuguesa, Real Madrid, Flamengo, Bayer Leverkusen, Bayern de Munique, Santos, Hamburgo, Al Gharafa e Grêmio. Luiz Felipe Scolari pediu para a direção gremista não negociá-lo. Só que não havia dinheiro para manter o jogador. Assim que fechou com Paulo Nobre, Zé Roberto foi o primeiro nome que ele pediu como reforço. Queria o versátil atleta pela sua capacidade técnica como lateral, volante, meia. E também o líder. Oswaldo sabia que o Palmeiras sofreu demais nos últimos anos. Campanhas pífias, times vergonhosos, agressões de torcedores organizados. Autoestima no pé. Situação parecida com o que o Botafogo vivia quando o treinador voltou do Japão em 2012. Oswaldo teve a inesquecível companhia de Clarence Seedorf. Líder nato e jogador espetacular. Os dois juntos fizeram muito pelo clube endividado. Seedorf conseguiu empolgar seus companheiro, com meses de salários atrasados. Conseguiram o bicampeonato carioca. Não só escaparam do rebaixamento no Brasileiro. Conseguiram levar de volta o Botafogo à Libertadores da América depois de 18 anos. Foi espetacular a passagem da dupla por General Severiano. A parceria foi desfeita quando Seedorf foi ser treinador do Milan. Depois, Oswaldo não suportaria os atrasos de salários e iria para o Santos. Mas vale esmiuçar o que Seedorf conseguiu. Ele tinha liberdade total de Oswaldo. E o holandês conversava muito na concentração com o jovem grupo botafoguense. Conseguiu uma união rara no futebol brasileiro. Cansou de emprestar dinheiro do próprio bolso para companheiros pagar aluguel ou até fazer compras no supermercado. Não só falava, nos treinamentos era o mais dedicado. Nos jogos, quem mais se entregava. Orientava, cobrava, incentivava. Na preleções, redescobria a grandeza do Botafogo. Chegou até a cantar, comemorando a conquista da Taça Guanabara em 2013. Escolheu Bob Marley. One Love.
O refrão, cantado com sua voz rouca, cansada pela batalha, mas vitoriosa, resumia tudo.
"One Love! One Heart! Let"s get together and feel all right. Hear the children cryin" (One Love!). Hear the children cryin" (One Heart!) Sayin": give thanks and praise to the Lord. And I will feel all right
Sayin": let"s get together and feel all right..."
Depois os jogadores quiseram saber a tradução do que ouviram. E ficaram ainda mais emocionados. "Um só amor, um só coração. Vamos ficar juntos e nos sentiremos bem. Ouça as crianças chorando (um só amor). Ouça as crianças chorando (um só coração). Agradecemos e louvamos ao Senhor. E me sentirei bem. Dizendo: vamos ficar juntos e nos sentiremos muito bem." Zé Roberto não canta. Ele usa a sua experiência de que quem já pregou muitas vezes. Na preleção da primeira partida oficial do Palmeiras, contra o Audax, Oswaldo pediu que ele falasse "algumas palavras" antes da partida. Seria o esperado, para animar um grupo de atletas desconhecidos que chegavam a um clube machucado. E que nem parecia ter merecido o apelido de o "campeão do século XX" no Brasil, tantas foram as suas conquistas. Muito inspirado, o jogador foi brilhante. No ponto mais sensível de todos. Pediu que cada um de seus companheiros batesse no peito do atleta ao lado. E dissesse em voz alta: "O Palmeiras é grande". Disse com o vigor de um pastor acostumado a pregar. Em poucos segundos foi obedecido, com alegria. Todos repetiram o mantra. A simbologia foi fantástica. O tapa no peito servia para "acordar" o jogador. Para que ele percebesse onde tinha o privilégio de estar. E a frase "o Palmeiras é grande" tinha de ser ouvida com o coração. Atingir a medula. Fazer sentir orgulho da camisa verde colada na pele. Foi uma cena sensacional. Inesquecível. Zé Roberto estava ao lado de Paulo Nobre. Por uma questão de hierarquia, se afastou dele. Deixou que o responsável pelo futebol, Alexandre Mattos, desse o tapa no peito do presidente. E o que se viu foi uma rara comunhão, um despertar de um time de futebol. Representando um clube glorioso. Mas, que por colecionar vexames e passar vergonha nos últimos anos, tinha esquecido de sua grandeza. O Palmeiras pode ser que não conquiste título algum em 2015. Mas já conseguiu algo que muitos imaginavam estar perdido para sempre: sua autoestima. Os torcedores perderão o constrangimento de dizer em voz alta que qual time amam. Zé Roberto está coberto de razão. Os jogadores e os dirigentes precisam ter orgulho. O Palmeiras é muito grande. Só estava adormecido...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 02 Feb 2015 10:45:46

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