
Logo depois que Luciano marcou o segundo gol corintiano, Mano Menezes se voltou aos torcedores no Itaquerão. Mais especificamente para os que o xingavam. E resolveu dançar. Levantou as mãos para o alto e arriscou alguns passos. Digna de um John Travolta careca, envelhecido, gaúcho. Não queria nem saber da irregularidade no gol, quando Luciano empurrou Leandro Donizete antes de fazer 2 a 0. Isso não o preocupava... O treinador corintiano saboreava a vitória diante do Atlético Mineiro. Ironizava os torcedores que pediram sua demissão. Aqueles que protestaram por ter colocado Luciano em campo. E também, seu maior inimigo declarado no Parque São Jorge, Roberto de Andrade. "Sou assim mesmo, autêntico. Tem horas que sou como fui, acho que o momento era adequado para ser assim. Todas as danças que aprendi foram no Sul. E a gente não pode ser boçal, tem de evoluir, aceitar a modernidade. E de vez em quando extravasar. Vida de técnico não é fácil para o coração. Tem de colocar para fora. Já estou com 5.2, quilometragem alta tenho de extravasar", justificava. "Até porque é surpreendente uma vitória dessa maneira para um time que só joga atrás." E Mano precisa mesmo aliviar o coração. Não esperava encontrar no Corinthians um ambiente tão hostil. Ao voltar ao Parque São Jorge depois de fracassar na Seleção e Flamengo, acreditava estar "voltando" para casa. Seria um lugar que teria o aconchego de Andrés Sanchez e seu pupilo Mario Gobbi. Não imaginava que os dois estavam para romper, virar inimigos políticos. O plano era simples. Ouviu dos dirigentes que teria de reformular a equipe campeã do mundo e da Libertadores, deixada por Tite. Ela estaria envelhecida e mimada. O recado foi para não se preocupar com títulos. A pressão seria menor porque o foco da mídia em 2014 estaria na Copa do Mundo. Obrigação apenas com a Libertadores de 2015, competição mais rentável, ainda mais jogando no Itaquerão.

Mas o rompimento de Andrés e Gobbi sabotou o seu escudo. Políticos corintianos que detestam a sua postura, como Roberto de Andrade, se sentiram livres para dizer que não gostariam de trabalhar com o treinador. Mano é considerada uma pessoa muito arrogante no Parque São Jorge. Não permite aproximação dos jogadores, conselheiros, funcionários, torcedores. A postura foi um choque depois da saída do carinhoso Tite. Logo ele e seu empresário Carlos Leite se viram muito criticados. Principalmente pela ala com maior chance de vitória na eleição de fevereiro de 2015: a de Roberto de Andrade, indicado por Andrés Sanchez. Depois com o rompimento com seu mentor e ex-presidente, Gobbi está cada vez mais isolado politicamente. Candidatos até evitam seu apoio político. Mano se viu protegido por um presidente fraco e em final de mandato. Enquanto isso, Mano reformulava o time de Tite. Alessandro parou. Paulo André, Guilherme, Edenílson, Douglas, Romarinho, Alexandre Pato, Cléber foram embora. A mando de Gobbi passou a dar chances para atletas da base. Era sempre tranquilizado pelo dirigente. Teria apoio para seguir trabalhando em 2015. Mano rapidamente percebeu o quanto era vazio o discurso. Por mais que até queira, o presidente não tem força para garantir o que fala. Mano passou a se defender, lembrando que não teve R$ 60 milhões para reforços como Tite teve em 2013. Só se esqueceu de citar que esse dinheiro todo veio porque o ex-técnico corintiano venceu a Libertadores e o Mundial em 2012. Grande esteio de Andrés é a torcida. As organizadas o acompanham cegamente para onde for. Ao se afastar do clube não preservou o ex-pupilo. Fez críticas ao seu trabalho. Elas foram entendidas como recado para as organizadas. As decepcionantes partidas do time foram a desculpa. E os ataques a Mano e a Gobbi se intensificaram.

Depois da boa vitória corintiana ontem, Mano reverteu a situação. Se aproveitou para dizer que a pressão que está sofrendo acontece só com a aproximação das eleições. Se esqueceu do irregular futebol corintiano, despencando no Brasileiro. "Algumas coisas sabemos que tem interesse peculiar, está ficando assim pela maneira como se disputam eleições atualmente, a parte política. Vamos ter que conviver com isso." A rejeição a Mano Menezes por parte de Roberto de Andrade é escancarada no Parque São Jorge. O dirigente deverá lançar a sua candidatura oficialmente nas próximas semanas. Ma ele já foi perguntado várias e várias vezes por conselheiros sobre a volta de Tite. A reação é sempre a mesma. Sorri e disfarça. "Vamos ganhar as eleições, primeiro." Mas não é segredo o apreço de Andrade ao técnico. Ele é muito grato ao treinador. Sabe que se não fossem as conquistas da Libertadores e do Mundial, a situação econômica corintiana estaria caótica. Além disso, a sua ligação nunca negada a Andrés o prejudicou demais em relação à Seleção.

Para fortalecer sua vontade de trazer Tite de volta, há a frieza de Mano. Foi Andrade quem acertou detalhes da volta ao Parque São Jorge. Mas o técnico nunca fez questão de se entrosar com ele. Preferia falar com Gobbi, que era responsável pelo futebol nos tempos de Andrés. Quando Roberto começou a se desentender com o atual presidente, Mano teria tomado partido. Ficado com quem manda mais. Daí nasceu a rejeição de Andrade à continuidade de Mano. O técnico sabe que se Roberto vencer a eleição, o que tem muita chance de ocorrer, ele não continuará no Corinthians em 2015. Mas o vaidoso técnico quer atender ao único pedido de Gobbi. Colocar de qualquer maneira o time na próxima Libertadores. Tanto faz o caminho. Conquistando a Copa do Brasil ou terminando o Brasileiro nas primeiras colocações. A vibração de ontem do Corinthians contra o Atlético Mineiro não foi por acaso. Mano sabia o quanto precisava da vitória. As derrotas contra Figueirense e Atlético Parananense tiraram o time do G4 no Brasileiro. A marcação sob pressão no Itaquerão foi fortíssima. Refletia a raiva do técnico pelos protestos dos torcedores organizados, que estão do lado de Roberto de Andrade, de Andrés. Por isso a dança irônica assim que Luciano marcou 2 a 0. Era o desabafo de Mano Menezes. Ele sentia que a possibilidade de o Corinthians chegar à semifinal da Copa do Brasil aumentava muito. E o técnico não deseja apenas entregar o clube classificado para a Libertadores. Seu desejo é não esperar ser dispensado. Mas anunciar seu acerto com outro time em 2015. Carlos Leite é muito inteligente e não está parado. Por tudo isso, a felicidade do John Travolta envelhecido no Itaquerão...

Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 02 Oct 2014 08:21:00
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