segunda-feira, 23 de março de 2015

A pressão para vencer um clássico e garantir o Palmeiras na Libertadores. Esses os motivos para Oswaldo não escalar Gabriel Jesus. As histéricas fãs dos Beatles servem para desviar o foco...

A pressão para vencer um clássico e garantir o Palmeiras na Libertadores. Esses os motivos para Oswaldo não escalar Gabriel Jesus. As histéricas fãs dos Beatles servem para desviar o foco...




Há o lado engraçado, folclórico. Enquanto o Palmeiras vencia mais um jogo no insignificante Campeonato Paulista, contra o São Bernardo, Oswaldo de Oliveira ouvia o pedido que o acompanha desde que 2015 começou. "Coloca o Gabriel, coloca o Gabriel." Tem sido assim em todas as partidas. O treinador outra vez via a parte ofensiva não estava criativa como deveria. Mas segurou o garoto no banco. No acanhado estádio do ABC, os gritos não podiam deixar de ser ouvidos. E eles aumentaram quando, aos 25 minutos, técnico cedeu e tirou o improdutivo Cristaldo e colocou o menino em campo. Nos vinte minutos que esteve em campo, o jogador de 17 anos, tabelou, correu, deu um chapéu, tomou um chute nas costas. Fez muito mais que do que os 70 minutos que o argentino esteve em campo. Diante do óbvio, o técnico, esperto, escolheu a saída menos comprometedora. Desviar o foco. Apelou para sua cultura pop. "É normal pedirem o Gabriel ou qualquer outro jogador. Mas aquela voz estava se repetindo e me lembrou o filme dos Beatles, "Os Reis do iê iê iê". Falei: "Pô, esse cara vai ter um ataque daqui a pouco. Me deu curiosidade de ver. Quando olhei para cima e vi um careca, sem camisa, fortão, falei: "Meu irmão, toma vergonha na a cara, rapaz! Vai arrumar o que fazer". Quase não botei o Gabriel por causa dele. Esse cara ia ter um ataque e ia morrer." Como não seria diferente, a inusitada declaração de ontem chamou a atenção. Virou manchete. Estará nos noticiários esportivos na tevê, misturando as impressionantes imagens de idolatria aos Beatles. Muita gente irá rir e esquecer. Exatamente como o homem de 64 anos quer. Mas é o que não pode acontecer. Porque depois desse lembrança das beatlemaníacas que o "careca fortão, sem camisa" provocou, o técnico deu a declaração que merece ser analisada com cuidado. "Isso (cobrança ao técnico) prejudica o menino, a gente tem que ter calma. O Gabriel é um jogador normal, regular. Vocês (jornalistas) têm de ter um pouquinho de cuidado também, porque insistem demais com essa coisa de Gabriel. Calma! Deixa o cara crescer, senão prejudica o menino. Vai virar Beatlemania."

Na ansiedade de parar os pedidos do torcedor e da imprensa para que escale o garoto, Oswaldo se perde. Os setoristas, jornalistas que cobrem todos os dias o Palmeiras, e os próprios companheiros de clube, se referem ao meia atacante como um jogador diferenciado, especial. Talentoso, rápido, com muita personalidade. Eles não se conformam com o pouco tempo que o treinador tem dado para o menino em campo. A verdade é uma só. Oswaldo de Oliveira sabe que vive um momento decisivo na sua carreira. Ele precisa se firmar, voltar a ganhar títulos relevantes no Palmeiras. Sabe que está no meio de uma revolução que pode fazer o clube ter excelentes times nos próximos anos. O dinheiro da nova arena disparou onda de otimismo a ponto de os recentes 100 mil sócios-torcedores e a camisa de mais de R$ 50 milhões não satisfazer Paulo Nobre. O dirigente quer mais dinheiro de patrocínio, como a chegada do Banco do Brasil, batizando parte do estádio, cujo nome já pertence à seguradora Allianz. E pelo menos o dobro de sócios-torcedores até o final do ano. É muita expectativa. Para que tudo der certo, a classificação para a Libertadores de 2016 é obrigatória. Só que a cobrança por resultados já chegou. O Palmeiras não vence um clássico há mais de um ano, em fevereiro de 2014. E não derrota uma equipe da Série A, há cinco meses. Neste Paulista perdeu para o Corinthians e Santos. Há um movimento de cobrança entre os conselheiros e dirigentes em relação a Oswaldo. "Não vou entrar nisso, não vou fazer parte dos melhores momentos da entrevista. Não está faltando nada. Vamos trabalhar para vencer, para chegar equilibrado na fase final", disse o técnico após seu time perder para o Santos. Vivido, ele sabe que não é o momento para arriscar. Precisa mostrar serviço no insignificante Paulista e na Copa do Brasil. Sua índole sempre foi de dividir o comando dos times que treina com jogadores vividos, experientes, rodados. Aprendeu a agir assim no Corinthians, campeão do mundo em 2000. Rincón, Ricardinho, Vampeta assumiam a função de técnico em campo. O que não dava certo, eles alteravam. Muitas vezes até sem consultar "Oswaldinho", como eles o chamavam na época. Gabriel Jesus tem mais talento que Cristaldo, Leandro Banana e Rafael Marques. Juntos. Mostrou isso nos jogos nas categorias de base e nos treinamentos. É preciso saber se não se trata apenas de um "leão de treinos" ou jogador sem estrutura psicológica para se impor entre os profissionais. Não se tratar de nova versão de Lulinha, Jean Chera, Kerlon e tantos outros.

Por isso, o garoto precisa jogar pelo Palmeiras. Até porque seus empresários, Fábio Caran e Cristiano Simões, conversam com intermediários de clubes europeus. A possibilidade de saída na janela do meio do ano é real. E o clube pode negociá-lo sem saber o seu verdadeiro potencial. Há muita reclamação da maneira que foi feita a renovação de contrato. Para garantir que o atleta ficasse até 2019, Paulo Nobre cedeu. O Palmeiras tinha 75% dos direitos do atacante. Cedeu uma porcentagem enorme para o jogador: 45% Desde janeiro, o clube tem apenas 30%. Os agentes, 70%. Um exagero. Tudo para o presidente fixar sua multa em R$ 30 milhões. Mas Oswaldo está pensando nele. Precisa de resultados. E sua carreira mostra que só coloca garotos quando não há outra saída. Como no Botafogo, com o clube massacrado de tantas dívidas. Por isso, o treinador se protege. Apela para os Beatles. Vivido, tira o foco. Taxa de fanáticos os torcedores e apressados os jornalistas que querem Gabriel Jesus em campo. E monta seu time experiente com as limitações de Cristaldo, Leandro Banana e Rafael Marques. Não falta ousadia a Oswaldinho. Na verdade, seu instinto de sobrevivência é muito maior. Ele tem de se segurar no Palmeiras. Ainda mais com a perspectiva de uma equipe muito mais poderosa em 2016, com dinheiro para mais contratações importantes. Daí a aposta em jogadores vividos. A necessidade de vencer um clássico, disputar até o final o Campeonato Paulo e assegurar o mais rápido possível a classificação para a Libertadores. É tudo isso que está por trás na rejeição de Oswaldo a Gabriel Jesus. As histéricas fãs de John, Paul, George e Ringo são lembradas para servir de meras desculpas. São resgatadas da memória do técnico sessentão apenas para tirar o foco do seu real problema...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 23 Mar 2015 11:16:27

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