domingo, 29 de março de 2015

Rogério Ceni, um senhor de 42 anos, marca seu 126º gol. Abre o caminho da vitória contra o Linense. E dá a Muricy tudo o que ele precisava antes do San Lorenzo pela Libertadores: paz de espírito...

Rogério Ceni, um senhor de 42 anos, marca seu 126º gol. Abre o caminho da vitória contra o Linense. E dá a Muricy tudo o que ele precisava antes do San Lorenzo pela Libertadores: paz de espírito...




Os 5.555 torcedores que foram ao Morumbi usavam a acústica do estádio vazio, onde já ficaram amontoados 150 mil na década de 70. Seus gritos de protesto e palavrões contra o time eram ouvidos pelos jogadores. "Se quarta-feira não ganhar, o pau vai quebrar, seus filhos da..." Esse era o refrão contra o São Paulo. A referência era em relação ao duelo decisivo na Libertadores, contra o San Lorenzo, na Argentina. O time reserva jogava muito mal e empatava em 0 a 0 com o Linense. Jogo pelo insignificante Campeonato Paulista na sua arrastada fase de classificação. O primeiro tempo já havia ido embora. 0 a 0 sem a equipe de Muricy ter criado uma chance clara de gol. O time interiorano era melhor, apesar da exagerada expulsão de Narciso, seu treinador. Mesmo com atletas mais fracos, bastou colocar todos atrás da linha de bola e desesperava o São Paulo. Não havia coragem, atitude, firmeza para encarar com personalidade o Linense. Os atletas preferiam e ficavam trocando passes que não levavam a nada. A torcida recebia a mensagem acovardada que vinha do gramado. E retribuíac com mais palavrões e ameaças. Acabou a proteção a Muricy. Pelo contrário, o treinador tinha de ouvir as piores ofensas. Os pedidos para que se aposentasse. Era uma tortura dos dois lados. Ver o São Paulo jogar e escutar os palavrões vindos das arquibancadas.

Tudo se arrastava, o tempo parecia que parava, interminável. Jogo lastimável, como são a esmagadora maioria dos estaduais de todo o país. No intervalo, Muricy trocou o outra vez improdutivo Alexandre Pato por Alan Kardec. E adiantou a marcação para a saída de bola do time de Lins. A partida seguia irritante. Até que o veterano Álvaro de 37 anos, que jogava há 15 anos São Paulo, furou de forma bizarra uma bola na entrada da área. Ela caiu nos pés de Alan Kardec. Precipitado como um garoto, Álvaro fez falta desnecessária. Eram sete minutos do segundo tempo. Rogério Ceni abandonou sua meta. Ele devia muito a Muricy. Foi o treinador que confiou no 35º adiamento do fim de sua carreira. Silvio Caldas ficaria com inveja. Não poderia ver o técnico sendo massacrado pelos próprios torcedores do São Paulo. Tinha de ajudar o homem que o incentivou a cobrar faltas e pênaltis, desprezando os "jogadores da linha". Ainda mais agora, que cresce no Morumbi, a vontade de contratar um treinador com passagem no Exterior. O nome de Leonardo é repetido com frequência. Não bastasse a instável campanha na Libertadores, Rogério Ceni havia sabotado o time contra o Palmeiras. Ao tentar recolocar uma bola em jogo, acertou o peito de Robinho. E tomou o primeiro gol no clássico de quarta-feira que implodiu o time. A derrota obrigou Muricy a entregar o cargo aos dirigentes. Carlos Miguel Aidar e Ataíde Gil Guerreiro não aceitaram sua demissão. Assim como Rogério Ceni, que participou do encontro, representando os jogadores. Ele tenta minimizar sua participação, mas ela teve um peso decisivo. Ceni sabia que seria caótico se o time não vencesse hoje, derrotasse a fraca equipe de Lins. As manchetes e as notícias seriam negativas até o jogo de quarta-feira, no Nuevo Gasometro. Ele tinha de aproveitar o presente oferecido pelo ex-companheiro Álvaro. Para provar como tudo está mudado no São Paulo, o garoto Boschilla se preparou também para cobrar. Não apenas tentar atrapalhar os reflexos de Anderson, por ser canhoto. Mas bastou uma olhada do homem de 42 anos no garoto de 19 anos, que bem poderia ser seu filho. O meia congelou. E o pé direito do goleiro atingiu a bola. Ela saiu alta perfeita. Por cima da barreira, Anderson ainda raspou seus dedos nela, enquanto se esticava. Mas ela foi morrer no fundo das redes. Era o 126º gol de Rogério Ceni. Nenhum goleiro na história do futebol marcou tantas vezes. Na comemoração nem olhou para os torcedores que agora aplaudiam, comemoravam. Ele apenas virou o indicador em direção a Muricy Ramalho. O técnico agradecia aliviado o gol. Sabia que tudo ficaria mais fácil. Foi o que aconteceu. O Linense teve de se abrir, tentando o empate. E virou presa fácil. A retranca havia sido estourada. Alan Kardec ainda marcou duas vezes. Não comemorou nenhuma vez com os torcedores. Como retribuição aos gols, os membros das organizadas xingavam de todos os palavrões possíveis, Luís Fabiano. Mesmo jogando mal, a vitória classificou o São Paulo para os mata-matas do Paulista. Mas sua importância foi muito além. Deu o que Muricy e os jogadores mais desejavam. Paz para trabalhar na Libertadore. Até quarta-feira, a pressão será muito menor. Graças a um senhor quarentão chamado Rogério Ceni...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 29 Mar 2015 18:09:32

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