sexta-feira, 27 de março de 2015

O europeu Brasil de Dunga fez a mais nobre vítima, na reconstrução de sua imagem. Vitória por 3 a 1 diante da França, em Paris. Foi o sétimo jogo e sétima vitória da nova Seleção...

O europeu Brasil de Dunga fez a mais nobre vítima, na reconstrução de sua imagem. Vitória por 3 a 1 diante da França, em Paris. Foi o sétimo jogo e sétima vitória da nova Seleção...




Foi uma vitória marcante. Importante demais para a retomada de Dunga à frente da Seleção. Vencer de virada a França, time campeão mundial, jogando em Paris, diante de mais de 80 mil torcedores contrários. Mas atuando exatamente como uma equipe europeia, nada brilhante, mas eficiente, o Brasil chegou à sua sétima vitória em sete partidas. O placar de 3 a 1 foi justo. Mostrou a superioridade não só individual, mas tática. Em apenas nove meses depois do desastre dos 7 a 1, Dunga conseguiu mexer onde deveria. Acabou com a postura tática imóvel, ultrapassada de Felipão e Parreira. O 4-2-3-1 fixo, como se fosse pebolim, virou coisa do passado. O treinador brasileiro aposta na compactação, na intensidade, na ocupação dos espaços. Atua no 4-4-1-1 quando é atacada. Não tem vergonha de se defender. Quando ataca, sempre em velocidade, com duas opções de passe nas pontas e outra entre os zagueiros. Além da chegada "de surpresa", do volante. O esquema vira um belíssimo 4-2-4. O segredo está na jovialidade, versatilidade e velocidade do time. Lógico que Neymar ainda é importantíssimo, fundamental. Mas não há absurda dependência nos tempos de Felipão e Parreira. O Brasil de Dunga opta pelo conjunto. Foi providencial. Por que a adversária não esbanjava talentos. Perdeu Ribery que, aos 31 anos, decidiu apenas apostar sua carreira no Bayern. O técnico Didier Deschamps tem um jovem e obediente grupo nas mãos. Equipe competitiva, cuja grande estrela é o artilheiro do Real Madrid, Benzema. Ele tem a missão de preparar o time para a Eurocopa de 2016, que seu país sediará. Ele tem pouco mais de um ano e três meses para encontrar uma formação forte, competitiva, corajosa. Que tenha potencial para brigar pelo título. E partiu para decidir o jogo, marcando sob pressão a Seleção Brasileira. Sem David Luiz contundido, Thiago Silva formou a dupla de zaga com Miranda. Luiz Gustavo era o volante marcador, destruidor na frente dos dois. Os nada brilhantes, mas fortes marcadores Danilo e Filipe Luís cuidavam das laterais. Mas o segredo brasileiro estava nas aulas que Dunga teve com Ancelotti: a recomposição. Nada de ficar acompanhando o adversário, atacar à vontade como fizeram os alemães, naqueles 7 a 1. Elias, Oscar, Willian têm fôlego e visão tanto para buscar o gol adversário como para travar as diagonais e fechar as intermediárias. O treinador foi muito feliz na escolha de Elias e não de Fernandinho. Os contragolpes ficavam mais fluidos. Nada de Neymar na ponta esquerda. Isso já era ultrapassado em 2002, com o reserva Denílson. O jogador mais talentoso desta geração tem total liberdade para correr onde bem quiser. Sua preferência, ao longo dos anos, tem sido sempre a esquerda, para poder tanto cortar para o meio ou para abrir pela lateral. Só que se deslocando, atrai marcadores e abre as defesas adversárias. Roberto Firmino aprendeu no futebol alemão a valorizar cada centímetro, onde possa fazer uma tabela ou chutar forte a gol, como gosta de fazer. O Brasil que ganhou da França foi uma equipe moderna, eficiente. Mas longe de dar show de futebol, como tantos os europeus, principalmente os franceses adoravam. Atuando em casa, Deschamps colocou seu time para marcar forte a saída do time sul-americano. E apelava para uma jogada simples, só que bem treinada é letal. O treinador tem na memória a final da Copa de 1998, quando dois gols de escanteio abriram o caminho para a conquista do primeiro mundial francês. A conquista foi no mesmo State de France.

Benzema aos sete minutos obrigou Jefferson a uma defesa estupenda, em uma cabeçada na pequena área. O Brasil demorou para perceber que os franceses deixavam seus quatro jogadores mais altos na entrada da área. E quando a bola chegava, eles corriam, pegavam impulso e enfrentavam os marcadores parados. Uma reedição de 17 anos atrás, quando Zidane deitou e rolou, marcando dois gols. Desta vez, quem fez foi Varane, que não teve o menor trabalho em marcar 1 a 0, aos 20 minutos. O gol animou os franceses. O técnico francês precisa do apoio popular até a Eurocopa. Os franceses marcavam forte em duas linhas de quatro. A escolha era evitar o toque de bola brasileiro. Foram os vinte minutos de maior dificuldade do time brasileiro. Neymar, Oscar e Willian tentavam trocar de posição, tabelar. Fazia falta maior ofensividade dos laterais de Dunga. Mas aos poucos, a fórceps, o Brasil foi obrigando a França a retrair.

Foi quando, aos 40 minutos, Oscar e Firmino mostraram o que aprenderam no futebol inglês e alemão. Uma troca de passes consciente, veloz e vertical. Surpreendeu a bem postada defesa francesa. Oscar se esticou todo para dar um bico na bola, completando ótimo toque de Firmino. Mandanda saiu desesperado, mas não conseguiu evitar o gol. 1 a 1. O gol foi um banho de água fria nos franceses. No segundo tempo, a França voltou mais aberta, queria vencer. Dunga se antecipou. Sabia que o meio de campo adversário estaria mais aberto. E o Brasil marcou mais forte na sua intermediária apostando nos contragolpes velozes, no maior talento com a bola nos pés. Quem observasse de longe a distribuição dos times, parecia duas seleções europeias. E foi assim que Neymar marcou seu 43° gol com a camisa brasileira, se igualando a Rivellino e Jairzinho, com apenas 23 anos. Gol de manual de futebol moderno. O Brasil encontrou o meio de campo francês aberto. Elias, volante com potencial de meia, serviu Willian. Preciso, ele serviu Neymar com açúcar e afeto. O camisa 10 chutou com raiva, de esquerda. Bola violentíssima para as redes: 2 a 1, aos 11 minutos.

Se empatando, os franceses estavam atuando abertos, perdendo foram desesperados para o ataque. Tentaram adiantar a marcação, travar a saída de bola brasileira. Mas tudo o que conseguiram foram dar mais espaço. E tomaram mais um grande sufoco e mais um gol. Foi a retribuição de Dunga. Em um escanteio, Luiz Gustavo subiu livre e cabeceou longe de Mandanda. 3 a 1, aos 23 minutos. Com a vantagem de dois gols, o Brasil começou a trocar seus jogadores e não o esquema. A França não teve como reagir. Foi uma vitória marcante da Seleção. Prêmio para Dunga, o capitão que saiu tão frustrado do mesmo estádio 17 anos atrás. Não teve o peso da conquista de uma Copa do Mundo. Mas que a vitória foi promissora, não há a menor dúvida. Aos poucos, o Brasil tenta reconstruir sua imagem, esfacelada depois dos 7 a 1 da Alemanha. O que ainda levará anos. Mas neste recomeço, a Argentina, Áustria, Japão, Turquia, Colômbia e Equador já ficaram pelo caminho. Hoje foram os franceses que sentiram que algo está mudando...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 26 Mar 2015 20:12:40

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