sábado, 9 de janeiro de 2016

A bilionária Turner, com seu Esporte Interativo, pressiona. E Globo tem de recuar. Para não perder o Campeonato Brasileiro, acabará com a 'espanholização'. Chega de Corinthians e Flamengo todos os domingos na tevê...

A bilionária Turner, com seu Esporte Interativo, pressiona. E Globo tem de recuar. Para não perder o Campeonato Brasileiro, acabará com a 'espanholização'. Chega de Corinthians e Flamengo todos os domingos na tevê...




Nada como o tempo para tudo ficar mais transparente. A aposentadoria do homem forte do futebol na Globo, Marcelo Campos Pinto, anunciada em um comunicado em novembro do ano passado, causou comoção. Ainda mais porque o próprio Roberto Irineu Marinho, presidente e dono da emissora, assinava a saída. O anúncio do desligamento foi significativo. Em meio às denúncias de corrupção que desmantelou a enorme quadrilha que comandava a Fifa. Marcelo participou das negociações de transmissão de torneios envolvendo a Seleção Brasileiro e os principais clubes brasileiros. Viajava de jatinho particular pela África do Sul, com Ricardo Teixeira, em 2010. Participou de vários encontros e comemorações com José Maria Marin. Foi condecorado por Marco Polo del Nero. Nada foi provado contra ele. Mas a imagem da Globo ficou maculada com sua proximidade com esses dirigentes. A cúpula da emissora também havia decidido mudar a sua postura de conchavos, alianças. Foi Marcelo Campos Pinto e Ricardo Teixeira que articularam com Andrés Sanchez e Kléber Leite a implosão do Clube dos 13. Em 2011, a emissora estava para perder o monopólio sobre o futebol. Presente da Ditadura Militar. Andrés, representando o Corinthians, acabou com a negociação de transmissão em bloco. Arrastou o Flamengo. E os dois clubes passaram a ganhar muito mais que as demais equipes no Brasileiro. Ter mais jogos transmitidos, o que garantiu maior exposição, patrocinadores dispostos a pagar mais Desde 2011, os dois desfrutam dessa regalia. Vale sempre mostrar o disparate que Marcelo Campos Pinto criou. O colega Mauro César Pereira, da ESPN Brasil, detalha. A porcentagem de quanto cada equipe receberá da Globo neste Brasileiro. E no de 2017 e 2018. Flamengo e Corinthians, 13,5%. São Paulo - 8,7% Palmeiras - 7,9%.Santos - 6,3%. Atlético-MG, Cruzeiro, Grêmio, Internacional, Botafogo e Fluminense - 4,7% cada. Atlético-PR, Coritiba, Sport e Vitória - 2,8% cada. América-MG, Ponte Preta, Chapecoense, Figueirense e Santa Cruz - 2,0% cada. Os valores já foram publicados centenas de vezes. Mas não custa relembrar. Flamengo e Corinthians, R$ 170 milhões. São Paulo - R$ 110 milhões. Palmeiras - R$ 100 milhões. Santos - R$ 80 milhões. Atlético-MG, Cruzeiro, Grêmio, Internacional, Botafogo e Fluminense - R$ 60 milhões. Atlético-PR, Coritiba, Sport e Vitória - R$ 35 milhões.América-MG, Ponte Preta, Chapecoense, Figueirense e Santa Cruz - R$ 25 milhões. Lembra Mauro a diferença entre o que os clubes recebem na Europa. Inglaterra - 2,2 vezes, Itália - 6,6 vezes, França - 6,4 vezes, Brasil - 6,8 vezes, Espanha - 10,4 vezes. Está claro que o modelo brasileiro se encaminhava para a tão falada espanholização. Por conta desse favorecimento de Marcelo a Andrés com seu Corinthians e ao Flamengo, os presidentes dos outros clubes, finalmente, se revoltaram. E passaram a exigir uma equiparação de tratamento. O fim de privilégio. E dinheiro próximo dos clubes mais populares do Brasil. Veio a rejeição a figura de Marcelo Campos Pinto. Ele passou a ser considerado aliado de corintianos e flamenguistas. Além disso, seu jeito político, gentil demais, não era mais compatível com a selvageria do mercado atual.

A Globo passou a ter concorrência de verdade. Chegaram ao Brasil dois bilionários rivais. O primeiro foi a Fox. A empresa trocou a Libertadores pelo disfarçado boicote que sofreu para entrar na Net e na Sky. O outro nome que faz os executivos globais tremerem atende por Turner. Esqueça o nome fantasia Esporte Interativo. São os bilhões da Turner que estão por trás desse canal esportivo que comprou a Champions League. A Turner teve imensa dificuldade para entrar nas maiores operadoras do país. Torcedores perderam as primeiras rodadas da Champions. Fox Sports, ESPN e Sportv chegaram a sonhar em fim de contrato do Esporte Interativo com a UEFA. E o principal torneio de clubes europeus passar a ser dividido entre os concorrentes. Só que a Turner usou de sua truculência, do seu poder. E, já que a Net e a Sky, não ofereciam espaço para o EI, a saída foi mostrar as partidas nos canais Space e TNT. Cumpriu assim, à força, o compromisso com a UEFA de comprar e mostrar os jogos, com exclusividade para o Brasil, na tevê fechada. A força da Turner estava exposta. O Esporte Interativo ficou com a Champions por US$ 130 milhões, R$ 523 milhões. Por três anos, só ela mostrará o melhor campeonato do mundo. E vale lembrar que além das bilionárias Fox e Globo, venceu a disputa com a Disney, dona da ESPN. Ficou claro para os Marinho que a mera diplomacia, o charme, as alianças de Marcelo Campos Pinto não funcionavam mais. Daí a aposentadoria. Pedro Garcia assumiu seu posto. E João Pedro Paes se tornou o novo diretor de eventos esportivos. Marcos Mora deixou a emissora, também aposentado, após 43 anos de Globo. Garcia e João Pedro são conhecidos na Globo por sua discrição, frieza e firmeza nas negociações com a CBF e com os clubes. E os dois perceberam que estão no meio de vários furacões. Precisaram ser domados à força. O primeiro foi a Primeira Liga. Criada pelos clubes, revoltados, em ter de disputar os insignificantes estaduais. Sonhavam com jogos mais importantes entre Flamengo e Fluminense do Rio e os grandes do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais. Queriam total independência da CBF e da Globo. Organizariam o torneio. Teriam seus árbitros e tribunal próprio. Fariam um leilão livre pela transmissão dos jogos. E colocariam seus times principais. E jogadores sub 23 nos estaduais. Esse era o acordo.

A CBF titubeava. Acossado pelo FBI e Departamento de Justiça, Marco Polo não dava atenção. Pensava na própria sobrevivência. Foi por pressão da Globo que tudo foi revertido. A emissora cobrou os principais clubes pelo apoio financeiro que sempre deu, com seus eternos adiantamentos de cotas. Ficou claro que haveria guerra se os Estaduais fossem sabotados e o torneio fosse parar em outra emissora. Os clubes recuaram de forma vergonhosa. Deram o controle do torneio à CBF. E venderam a transmissão do torneio por um preço irrelevante à Globo, R$ 5 milhões. A emissora alegou "programação cheia" para pagar tão pouco. As equipes decidiram que vão colocar seus jogadores principais nos Estaduais. E deverão usar os sub-23 na Primeira Liga. O que fere de morte o torneio que iria revolucionar o futebol no país. Com o fim da "revolução", o ex-presidente do Atlético Mineiro e executivo principal da Primeira Liga, Alexandre Kalil, pediu demissão. Não aceitou os clubes repassarem o controle da Liga à CBF e à Globo. A Globo deu outra demonstração de sua nova política agressiva. Fez o Flamengo declarara publicamente que colocará seus titulares no Campeonato Carioca, algo que o presidente Bandeira de Mello não queria. Ele havia feito um pacto com o presidente do Fluminense, Peter Siemsen, de sabotar o torneio por causa do presidente da Federação Carioca, Rubens Lopes e seu protecionismo ao Vasco. Só que cobrado de maneira rígida pela Globo, podendo a emissora acionar até judicialmente o clube, houve o recuo. E em comunicado oficial.

Dois furacões domados. Agora há o nascimento de um terceiro. E mais sério. Outra vez o dinheiro da Turner, via Esporte Interativo. R$ 600 milhões, contrato de 2019 a 2024, distribuição seguindo o modelo da Liga Inglesa. Fim dos jogos às 22 horas. E fim de privilégio de Corinthians e Flamengo no número de jogos mostrados. O grupo bilionário norte-americano que os jogos do Brasileiro na tevê fechada. A Globo nunca pagou muito pelos jogos mostrados a cabo. Cerca de 3% do que gasta na aberta. O privilégio sempre foi dos seus canais Sportv e o pay-per-view Premiere. Houve uma reunião nesta semana no Rio. Representantes do Flamengo, São Paulo, Grêmio, Internacional, Santos, Fluminense, Coritiba, Atlético Paranaense e Bahia ouviram as propostas na quarta-feira. Desde o fim do Clube dos 13, cada equipe pode negociar separadamente. O que poderia causar um caos. Com times pagos pela Globo enfrentando clubes "da Turner". Os confrontos não seriam mostrados na tevê fechada. Mas a Globo não ficou de braços cruzados. Reagiu. Entrou em contato com os presidentes dos clubes e com a CBF. A pressão é enorme pelo recuo. Corinthians, Palmeiras, Vasco e Botafogo já estão apalavrados com a Globo para depois de 2018. O Flamengo dá mostras de ser o próximo a fazer valer sua proximidade de décadas com a emissora.

Só que a nova cúpula que comanda o futebol na Globo percebeu. Os clubes estão revoltados com os privilégios financeiros e em número de transmissão para Corinthians e Flamengo. E estudam uma reformulação no atual disparate. E também será aumentado o pagamento de jogos pela tevê fechada. Antes da reunião com a Turner, em outubro, a Globo havia oferecido um bônus de R$ 20 milhões para a renovação antecipada. A negociação foi levada à frente por Marcelo Campos Pinto. Acabou em fracasso. O ex-executivo global era visto pelos clubes como aliado do Flamengo e Corinthians. No fim, sua estratégia para acabar com o Clube dos 13 se virou contra ele. A verdade é uma só. Com a saída de Campos Pinto, acaba a perspectiva de espanholização. Corinthians e Flamengo não serão mais Real Madrid de Barcelona tropicais. O privilégio de receber e aparecer mais acabará em 2018. A Globo pode até continuar com seu monopólio. Mas as gigantes Turner e Fox estão nos seus calcanhares. Por isso terá de pagar cada vez mais. E ser mais democrática nas transmissões.

Chega de Flamengo e Corinthians todos os domingos na tevê aberta.

Quem vence é o futebol deste país...



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 09 Jan 2016 11:49:53

Nenhum comentário:

Postar um comentário