quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Vitor, goleiro do Londrina. Ozil. Benezema. Seleções Muçulmanas na Copa do Mundo. O terrível conflito entre futebol e religião. Incompatíveis? Depende da fé de cada um...

Vitor, goleiro do Londrina. Ozil. Benezema. Seleções Muçulmanas na Copa do Mundo. O terrível conflito entre futebol e religião. Incompatíveis? Depende da fé de cada um...




Como você conheceu o adventismo? Foi por meio da família da minha esposa, que é adventista. Quando comecei a namorá-la, minha sogra tinha o costume de fazer cultos na casa dela. Como passei a frequentar esse ambiente, comecei a ter um contato maior com os pastores, com a própria igreja e seus ensinamentos. Em que momento decidiu aceitar as doutrinas bíblicas pregadas pelos adventistas e ser batizado? Comecei a estudar a Bíblia com os adventistas há mais de dez anos. Ao examinar as Escrituras, a questão do sábado era o que mais dificultava a aceitação. Isso ia de encontro às minhas conveniências. Mas estudei bastante, pesquisei e tive experiências pessoais com Deus. E, assim, acabei sendo convencido pelo Espírito Santo. Desde 2013 até hoje a guarda do sábado me comove. No fim do ano passado, reconhecendo todas as bênçãos recebidas de Deus, decidi firmar um compromisso definitivo com Ele. Optei por obedecê-Lo e pedi o batismo. Como foi o processo de guardar o sábado e deixar os interesses pessoais de lado? Essa era uma ideia que eu vinha amadurecendo há mais de um ano. Chegava a falar para meus colegas de trabalho sobre a questão do sábado, mas eu mesmo não vivenciava essa realidade. No entanto, me sentia incomodado. Até que não consegui mais ignorar a observância de um dia tão especial. Entendi que a verdade que eu tinha descoberto por meio da Palavra de Deus deveria ser cumprida independentemente das consequências dessa decisão. Desde quando você joga profissionalmente? Desde 2003. Já passei pelo Vitória (BA) [clube que o revelou], pelo Ponte Preta (SP), pelo Joinville (SC), pelo Portuguesa (SP), pelo Atlético (GO), pelo Bragantino (SP), pelo ABC (RN), pelo Arapongas (PR) e pelo São José (RS). Mas comecei a jogar com 13 anos de idade. Então, a rotina de treinamento existe há 17 anos. Durante esse tempo, tive muitas conquistas. No ano passado, por exemplo, fui considerado o melhor goleiro da Série C e ajudei o Londrina Esporte Clube a passar para a Série B, além de ter participado da conquista do título paranaense em 2014. E quanto ao seu futuro no esporte, depois de ter rejeitado o convite para jogar no Chapecoense e de saber que seu contrato no Londrina não será renovado? Pretendo continuar jogando se não houver nada que entre em conflito com minhas crenças. Se minhas convicções forem respeitadas, não vejo motivo algum em deixar o futebol profissional. Enquanto existir um clube que abra as portas para mim e aceite minha fé, vou continuar trabalhando e crescendo no esporte. Tenho os pés no chão. Sei que é difícil a situação de um jogador de futebol que não trabalha aos sábados. Caso as portas se fechem, procurarei outras atividades para desempenhar. Que avaliação você faz sobre o modo pelo qual a mídia tem abordado sua decisão? Pelo que tenho acompanhado, além das mensagens que chegam diretamente a mim, as pessoas têm se manifestado favoravelmente, apoiando, confortando e parabenizando o que consideram uma atitude corajosa. No clube, alguns ficaram curiosos, mas, no geral, meus colegas têm demonstrado respeito. Na minha opinião, a repercussão tem sido boa, apesar de algumas manifestações preconceituosas e intolerantes. Entretanto, sou otimista e sei que o alcance da verdade supera qualquer manifestação contrária a isso.

Como sua família está considerando essa postura? Minha família está apoiando, o que é o mais importante. Espero que o torcedor respeite essa decisão. No mundo em que vivemos, a maioria se preocupa com dinheiro, com bens materiais, em trabalhar sem parar. Mas, do que vale isso tudo? O mais importante é o respeito, o amor, ser uma boa pessoa com seus familiares, com quem está perto de você. Vale a pena colocar Deus em primeiro lugar? Totalmente! Até porque a crença em Deus é muito maior do que em qualquer ser humano. Creio que as promessas que leio na Bíblia e as experiências do povo de Deus com Ele não se limitam apenas a uma época. O mesmo Deus que fazia aqueles milagres é o mesmo Deus de hoje. Não vejo a fé como um impedimento. Esta foi a entrevista exclusiva de Vitor à revista Adventista. Ele foi peça fundamental no Londrina. Jogador importantíssimo na subida da Série C para a B. Acabou escolhido como o melhor goleiro da Terceira Divisão do país. Negociava sua ida para a Chapecoense. Mas o clube de Santa Catarina desistiu de sua contratação. Assim como também o Londrina não o quer mais. Seu contrato não será renovado em maio. Ele tem 29 anos e vive o auge de sua carreira. O motivo foi revelado no início do ano. Vitor decidiu se converter no final do ano passado. Se tornou adventista. E entre vários preceitos, há o sábado. Na verdade, de acordo com a sua religião, do por do sol de sexta feira até o pôr do sol do sábado, os fieis devem reservar o dia a Deus. Não devem trabalhar.

É uma questão que provoca divergências teológicas há séculos. Envolve o Quarto Mandamento. Na visão dos adventistas ele é bem claro. "Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou." Isso é absolutamente impossível no futebol profissional. Para os católicos, o Quarto Mandamento é "Honrar Pai e Mãe". E o Terceiro é "Guardar os Domingos", dia reservado para as missas. O que não impede a prática do futebol. Ou o trabalho. Desde que se tornou adventista, Vitor se recusa a treinar nos sábados. Já perdeu a posição de titular. Embora tenha melhor potencial, virou terceiro goleiro. "Saí do São José com R$ 500 no bolso. Aí fiquei quatro meses sem clube e não tinha poupança, não tinha nada. Nesse momento vi a providência de Deus, quem estava ao meu lado, e vi a ação de Deus. Criamos uma marca de bolsas e carteiras, mesmo sem dinheiro conseguimos os produtos com o fornecedor. Foi um grande milagre, porque conseguimos uma renda até superior do que tinha no futebol. Nesse período eu cheguei a desistir de jogar futebol, tinha entregado a toalha. Mas, como eu ainda tinha o sonho, tentei mais uma vez", disse, explicando sua conversão às tevês e rádios do Paraná, deixando claro que vai abandonar a carreira. A comoção é generalizada. Mas os dois lados estão corretos. Não há como privilegiar Vitor. Ele não pode deixar de treinar ou jogar aos sábados. Não há como implementar o rodízio de goleiros em um clube porque o melhor deles é adventista. Ele segue sua fé. A questão é polêmica. E envolve outra religião. Os muçulmanos enfrentam o Ramadã. É o nono mês no calendário islâmico. Onde o fiel renova sua fé. Começa no dia 28 de junho. Entre a alvorada e o amanhecer, o jejum é obrigatório. Nada de comida ou bebida. E há a obrigação de rezar cinco vezes ao dia. Durante a Copa do Mundo é desesperador para as seleções muçulmanas. Jogadores importantes também tiveram de se adaptar à exigência do jejum e das rezas. "Trabalho e vou continuar trabalhando. Assim, não farei o Ramadã. Como trabalho é impossível para mim este ano", avisou a estrela alemã Ozil, em 2014.

A Seleção da Argélia contratou o médico Hakim Shalabi, considerado uma das referências da Fifa sobre o jejum entre jogadores de futebol. "É um período no qual o risco de lesões aumenta, especialmente a nível lombar, das articulações e dos músculos", afirma. De acordo com Chalabi, a desidratação é um problema ainda maior que a falta de alimentação. "O nível de nutrição deve mudar. É necessário modificar também a qualidade dos alimentos para adaptá-los ao exercício. Os jogadores devem hidratar-se melhor. Além disso, aconselhamos que o descanso seja mais prolongado à tarde, com o objetivo de recuperar parte do tempo de sono." Além dos argelinos, Camarões, Bósnia, Irã, Costa do Marfim e Nigéria disputaram o Mundial. Nestas seleções prevaleceram os muçulmanos. E o Ramadã foi respeitado. Na Copa do Brasil, o sol se punha por volta das 17h30. Os muçulmanos que disputaram a Olimpíada da Inglaterra tinham de esperar até as 20h30 para voltar a se alimentar. "Nunca comprei e jamais comprarei jogadores que tenham este tipo de "problema"(ser muçulmano)", assume o presidente do Lazio, Claudio Lotito. "Um mês inteiro sem poder comer e beber durante mais de 10 horas diárias não combina muito bem com as partidas do domingo." O que fica dessa questão envolvendo religião e esporte? A decisão é de cada atleta.

O calendário do esporte mundial não irá se modificar.

Respeitará a religião, os costumes da maioria.

Vitor não é nenhum injustiçado, condenado.

Apenas está seguindo os preceitos do que acredita.

E eles são inviáveis para a carreira de jogador profissional.

Pelo menos no Brasil.

Não há como um atleta abrir mão de trabalhar aos sábados.

Com a palavra Vinícius, zagueiro do Vitória. E da Seleção Brasileira sub-20.

"O quarto mandamento é guardar o sábado. A base que eu tenho agora é a da religião, para eu ficar bem espiritualmente preciso disso. É o momento só de refletir, de orar a Deus. Por enquanto está difícil conciliar isso, eu não consigo. Eu fico chateado, pecado é pecado de qualquer jeito, sei que estou pecando por não estar guardando o sábado. Mas continuarei a jogar."

Adventista, atuou nas noites de sextas e aos sábados em 2015, na Série B.

A decisão é de cada um.

E deve ser respeitada...



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 21 Jan 2016 14:11:03

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