quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Leco confessa. Organizadas do São Paulo quiseram matar Richarlyson. Pagando Carnaval e dando ingressos, revela a chantagem que se submete. "Presidentes dos clubes grandes são reféns das próprias organizadas", define Ministério Público...

Leco confessa. Organizadas do São Paulo quiseram matar Richarlyson. Pagando Carnaval e dando ingressos, revela a chantagem que se submete. "Presidentes dos clubes grandes são reféns das próprias organizadas", define Ministério Público...




Como é sua relação com as organizadas? Não tenho nenhuma intimidade [com as organizadas], mas também não tenho hostilidade. Não tem como não conviver com elas. Você já as recebeu desde que assumiu o cargo? Querida, eu tenho mais de 30 anos de São Paulo. Eu sei como é torcida. A Independente, e a Dragões também. Eu tive duas ou três situações, que me fizeram ser respeitado por eles. Há muitos e muitos anos, eles queriam matar um jogador que eles diziam que era gay, aquela coisa do machismo [em referência a Richarlyson]. Na torcida tem um monte de gays, como em todos os lugares. Eu era vice-presidente de futebol, e eles foram lá falar comigo. Estavam ameaçando invadir, recebi uns 12, das duas torcidas. Conversamos e foi tudo bem. Defendi o jogador. Ele era correto, bom jogador, um profissional impecável. As coisas aqui fora, dele, eu não quero saber. Eu não tenho controle sobre isso. E eles ficaram impressionados pelo fato de terem sido recebidos. Quando assumi [a presidência], ainda que temporariamente, no período de 13 a 27 de outubro, logo no primeiro sábado eles marcaram uma manifestação no CT. E todo mundo estava vendo uma ameaça, porque eles iam fazer e acontecer. E se eles querem eles fazem mesmo, a gente sabe como é. Eu autorizei, e vocês sabem que não é fácil isso, porque tem resistências aqui dentro. Tem pessoas conservadoras, homofóbicas, preconceituosas. Eles foram e foi uma puta festa. E aí, dois torcedores falavam assim: "Dr. Leco é mano, é na moral! Ele recebe a gente e conversa com a gente, ele nunca deixou de conversar com a gente". O que você ouviu de reivindicações agora? As mesmas de sempre: ingresso e ajudar no Carnaval. E o São Paulo ajuda? É claro! Isso é histórico de dar uma verba para ele no Carnaval. E como funciona com ingressos? Você tem que dar ingresso para eles e eles vão no jogo. Não é que vai dar viagem, ônibus. Dá o ingresso para eles e eles vão. Isso é uma prática. Isso é pequeno dentro de todo esse universo. Eles prestigiam, eles ajudam. O jogador faz gol e faz o sinal da Independente [maior torcida do clube]. Não faz para ser agradável, faz porque tem medo de tomar dura. O que a gente dá é muito pequeno no contexto, porque eles podem fazer muito estrago. Vocês viram o que eles fizeram ontem [no domingo (17) a torcida do São Paulo entrou em confronto com a Polícia Militar, durante jogo da Copa São Paulo, em Mogi das Cruzes]?

Parece uma relação de chantagem. Não é? É dificílima, mas não chega a ser chantagem. Não nos submetemos a nada. Mas tem de fazer algumas concessões. Não tem como cortar. [A assessoria do São Paulo disse que o clube dá 1.500 ingressos às organizadas para cada jogo no Morumbi e 500 quando a partida é fora, além de R$ 150 mil, que são divididos pelas torcidas para financiar seus desfiles de Carnaval]. Esses são trechos estarrecedores da ótima entrevista feita pela Folha de São Paulo com o presidente do São Paulo, Carlos Augusto Barros e Silva. Leco acaba com a hipocrisia. Mostra sórdida relação entre o São Paulo e suas organizadas. Uma relação da mais pura chantagem. Só que não é apenas no Morumbi que isso acontece. É em todos os clubes deste país. De Norte a Sul. O presidente deixa claro que havia criminosos dispostos a matar Richarlyson. Por supostamente ser gay. É algo gravíssimo. Estivéssemos em um país com autoridades competentes, a esta hora, Leco estaria depondo. Falando quem eram essas pessoas dispostas a cometer um assassinato. Leco tenta negar que a relação seja uma chantagem. Diz que não se submete a nada. Mas em seguida deixa escapar que "faz algumas concessões". 1.500 ingressos por jogo e mais R$ 150 mil para o Carnaval. Diz que é "histórico" dar uma verba para eles. Em 2013, o falecido presidente Juvenal Juvêncio foi provocado por sócios ligados à oposição em um churrasco no São Paulo. Ele estava cercado de membros das organizadas. Ele os mandou para cima destas pessoas. Os tratava como se fosse sua guarda particular, sua milícia. Eles obedeceram os seus gritos de "pega", "pega". Colocaram para correr os opositores. A cena foi registrada pela TV Bandeirantes. Ou seja, ficou claro que é uma "mão lavando a outra".
E também está registrada a cena do ex-presidente Carlos Miguel Aidar garantindo ônibus para as organizadas. Em frente a jornalistas, garantiu o transporte para o Itaquerão. Dinheiro saído do São Paulo Futebol Clube. "Negão, vou falar rápido com você... Vamos dar os ônibus para vocês. Quero que vocês providenciem os ônibus, que eu estou acertando com a secretaria de segurança. Aí, assim que tiver o custo disso me avisa. São 50 ônibus. Está bom, né? Sai lá do Paissandu, está certo? Tá, me liga então. Um abraço." Negão é o apelido do então presidente da Independente, Ricardo Alves de Maia. Aidar foi flagrado no desfile de Carnaval da Dragões arrumando a fantasia de um folião. A intimidade era total. O Corinthians assume profunda relação com suas organizadas. Chegou dar toda a renda de um clássico contra o Flamengo para o desfile de Carnaval da Gaviões. A Torcida Jovem tem todo o apoio da direção do Santos. Paulo Nobre brigou publicamente com a Mancha Verde. Mas, estranhamente, o lugar para os torcedores está sempre reservado na moderna arena do clube. E nunca faltaram ingressos à organizada.
O promotor do Ministério Público, Paulo Castilho, definiu a situação. "Os clubes são reféns de suas organizadas. E têm motivo. Elas agem como facções criminosas." Sim, as comparou com o PCC ou o Comando Vermelho. Só que ninguém toma atitude alguma. Não há interesse. As organizadas contam com milhares de membros. E, na esmagadora maioria, com mais de 16 anos. Eles votam. Fazem seus vereadores, deputados estaduais, deputados federais. Até senadores. Quando não, presidentes.

Ninguém assumiria o banimento, a extinção verdadeira, por exemplo, da Gaviões da Fiel.

Mexeria com o Corinthians e seus milhões de torcedores.

O máximo que a hipocrisia permite é a punição de camisetas.

Sim, os membros de organizadas são proibidos de entrar no estádio.

Mas o veto vale apenas para aqueles vestindo a camiseta da torcida.

Bastou colocar outra camiseta e o acesso é garantido.

Por pressão de políticos descarados, não é aprovada a identificação.

Pela biometria, tão difundida em bancos, os torcedores seriam identificados assim que entrassem nos estádios. Os pertencentes a uma organizada punida, ficaria de fora. Dinheiro há para implementar esse método nas modernas arenas. Só que toda tentativa do Ministério Público é boicotada pelas autoridades.

Em 2013, o Ministério Público de São Paulo, cidade mais desenvolvida da América Latina, tomou uma iniciativa. Parecia simples. Iria fazer um pacto com as direções de Palmeiras, Corinthians, São Paulo e Santos. Elas se comprometeriam a não ajudar as organizadas. Não dar um centavo. Não permitir sequer a venda de ingressos para o mesmo setor.

Assustados, os presidentes recuaram.

Não quiseram assinar o pacto.

Confirmaram o quanto são reféns destes torcedores.

E assim segue o futebol brasileiro.

Continue dando ingressos e dinheiro do São Paulo às organizadas.

Pelo menos não mataram o Richarlyson.

Não é Leco?




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 20 Jan 2016 13:13:16

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