terça-feira, 5 de janeiro de 2016

O segredo que garantiu Guerrero na final do Mundial, a recuperação de Pato e Renato Augusto no Corinthians. "Mas isso é pouco. O progresso da medicina no Brasil é travado por burocratas e ignorantes." Desabafo de Luiz Augusto Conrado...

O segredo que garantiu Guerrero na final do Mundial, a recuperação de Pato e Renato Augusto no Corinthians. "Mas isso é pouco. O progresso da medicina no Brasil é travado por burocratas e ignorantes." Desabafo de Luiz Augusto Conrado...




A medicina esportiva no Brasil é uma das mais modernas do mundo. Jogadores consagrados e no auge, fizeram questão de vir para cá, quando tinham seus problemas físicos mais graves. Principalmente na recuperação. Como Ronaldo, Kaká, Romário, Luís Fabiano. O Núcleo de Reabilitação Esportiva Fisioterápica e Fisiológica, o Reffis, do São Paulo foi referência por décadas, na América Latina. E continua sendo. Mas a presença de Ronaldo Fenômeno mudou a vida do Corinthians. Acompanhado do seu fisioterapeuta particular, Bruno Mazziotti, o jogador insistiu com Andrés Sanchez. O clube já teria o novo estádio. Deveria fazer o mais moderno centro médico, de fisioterapia, fisiologia e de biomecânica no futebol brasileiro. Ir além do São Paulo. A ideia seduziu Sanchez. O mecanismo foi inteligente. Os patrocínios da Hypermarcas (das marcas Bozzano, Assim e Avanço), do Banco Panamericano (do Grupo Silvio Santos) e com a telefônica TIM geraram ao Corinthians cerca de R$ 50 milhões em 2010. R$ 18 milhões foram para a empresa R9, de Ronaldo. Do restante, R$ 32 milhões, o Corinthians colocou ao menos R$ 15 milhões no Centro de Treinamento. Só naquele ano. O custo total do CT chegou a impressionantes R$ 30 milhões. Três campos oficiais, hotel, restaurante, piscina aquecida... O destaque fica para o centro médico. Joaquim Grava, maior especialista no Brasil de joelhos e púbis, cuidou da obra. Um revolucionário laboratório de biomecânica, batizado de Corinthians-R9, ficou a cargo de Mazziotti. Lá se previnem lesões e trata de acelerar recuperações. Deixou o Reffis bem para trás. Três jogadores viraram símbolo do incrível trabalho feito pela equipe médica, física, fisiológica e fisioterápica corintianas. Guerrero, Alexandre Pato e Renato Augusto. O peruano teve recuperação recorde de lesão no joelho direito. Poderia tirá-lo da decisão do Mundial de 2012. O jogador chegou da Europa e se livrou das distensões que o atormentaram. Na Itália, foram 14. No Corinthians, nenhuma.

E Renato Augusto também era perseguido por lesões musculares na Alemanha. Sofreu operação gravíssima no joelho e seu retorno aos gramados foi antecipado e com sucesso. O sucesso vai além da competência dos profissionais corintianos. Está na ousadia. Grava e Mazziotti abriram o clube para a modernidade. Em troco de publicidade, sem pagar um tostão, o clube se abriu ao que há de mais moderno no mercado. Principalmente no laboratório de biomecânica. Entre várias inovações que chegaram, como um software capaz de medir as ondas mentais dos jogadores, para mostrar se estão focados ou não nos treinos e jogos, Joaquim Grava duvidou de duas. E elas se mostraram fundamentais. A primeira era uma roupa confeccionada com cerâmica que estimularia a recuperação muscular. E a segunda, uma caneta de laser convergente. Seria capaz de acelerar etapas de inflamação, tem efeitos de analgesia, etapas da cicatrização. Indicada a distensões, estiramentos, lesões musculares. "Em vez de um mês de recuperação, basta uma semana", garantiu Luiz Augusto Conrado a Grava. "Assim como joelheiras, coxais e tornozeleiras feitos com nanopartículas de cerâmica, retêm as ondas infravermelhas fabricadas pelo próprio corpo. Isso é um acelerador da recuperação dos músculos." O médico não levou muito em conta. "O Mazziotti também estava desconfiado. Mas o Luciano Rosa (analista biomecânico) insistiu. Ele tem uma clínica em São José dos Campos. E usava tanto o laser como a roupa. O resultado com o Pato, com o Renato Augusto foi excelente. O Guerrero só pode jogar a final do Mundial porque o laser o colocou em campo. Desde então, não sai mais do Corinthians", diz, orgulhoso, Conrado. "Olha, Cosme você me conhece há mais de 20 anos. Tenho um nome a zelar como médico. Desconfiei mesmo porque muita gente nos procura no Corinthians. Prometem milagres. E a enorme maioria do que mostram é tudo bobagem. O laser convergente e a roupa com cerâmica funcionam de verdade. Foram complementos importantíssimos na recuperação dos nossos atletas. Ajudaram o Renato Augusto no pós-operatório. O que fizeram pelo Pato foi sensacional. Não curam lesões, não são milagrosos. Mas previnem e, principalmente, recuperam. Quase ninguém sabe destes produtos". "O que acontece com o Conrado é um problema só. Ele nasceu no Brasil. Se tivesse nascido nos Estados Unidos estaria bilionário. Aqui, a burocracia da Anvisa é criminosa. Desestimula a pesquisa na área médica. Poucas pessoas têm ideia de como poderíamos estar fazendo o bem para milhões de pessoas". "Eu senti na pele esse problema. Eu criei um parafuso para a operação dos ligamentos cruzados anteriores do joelho. Mesmo com os resultados comprovados, a Anvisa me bloqueou por anos. Criou a maior dificuldade. Fui tratado com desprezo pelos burocratas. Tive de ir para a Suíça, em Estocolmo. Lá consegui patentear o parafuso. Gastei muito dinheiro. Só assim consegui regularizá-lo no Brasil". "A burocracia deste país nos massacra em todos os campos. Até na medicina esportiva. Dou o meu aval ao trabalho do Conrado. Seus produtos funcionam porque vi na prática. Ninguém o conhece porque não tem dinheiro. Não tem um grande laboratório por trás para fazer propaganda. A burocracia deste país é uma vergonha."

Conrado, quanto o Corinthians paga para usar os seus produtos? Nada. É um acordo. Troquei pela publicidade. Mas não tenho dinheiro para mídia. Sou um pesquisador e não um milionário. Não posso obrigar os jogadores, os médicos, os preparadores físicos, os fisiologistas, os fisioterapeutas a falarem para os jornalistas dos meus produtos. Eles são muito competentes. E o mérito fica pelo trabalho de cada um, que é excelente. Quem vai se lembrar dos produtos? Ninguém. Você quando é acadêmico e não vendedor, marqueteiro, tem enormes problemas. Eu sou sozinho. O que aconteceu no São Paulo é um exemplo. O que aconteceu lá? Eu levei o laser e as roupas com cerâmica. Expliquei como funcionam. Os produtos estão regularizados. Mostrei toda a pesquisa. Os resultados que consegui junto com a Universidade do Vale do Paraíba. Moro aqui em São José dos Campos. Fui recebido com toda desconfiança. E os produtos estão lá e tenho certeza que não estão sendo usados. Não quiseram nem testar. Fiquei profundamente decepcionado. O clube tem a fama de ser moderno, inovador. Mas se mostrou fechado. Entendo a desconfiança. Mas não a negativa até em sequer testar o que foi oferecido. Um clube tão importante fica nas mãos de uma pessoa que controla a fisioterapia. Lamento de verdade.

Você quer usar o futebol para divulgar seus produtos. Seu trabalho como engenheiro biomédico. Foi uma aposta ousada. E dependeu de uma sorte incrível no Corinthians. Eu procurava divulgar o meu trabalho apenas em palestras acadêmicas. O resultado era pequeno. Decidi pelo futebol. E tive sorte. O Rosa ficou impressionado com os resultados, com a melhora das pessoas na sua clínica. Depois, a visão do Bruno Mazziotti. E depois, de uma hérnia de disco do Joaquim Grava. Ele quase não estava conseguindo mais operar. Sentia dores terríveis na coluna. Soube e mandei uma cinta para que passasse a usar. Foi o grande teste. A peça reteve seu infravermelho e praticamente acabou com os sintomas. A dor passou. E ele voltou a operar normalmente. Se ele não tivesse a tal hérnia, talvez ninguém me deixasse entrar no Corinthians. Você soube do que aconteceu com o Pato, com o Renato Augusto? Sim. E fiquei muito feliz. Sabia que iria dar resultado. O que acontece com o laser convencional é que acaba usado por pouco tempo, digamos segundos, minutos. O resultado é excelente. Mas as 23 horas e poucas que o corpo fica sem o infravermelho, o processo anti-inflamatório e cicatrizante estaciona. Com as peças com nanopartículas de cerâmica, tudo continua. E a recuperação é acelerada. Eu quero falar sobre o Guerrero. Ele teve uma lesão grave contra o São Paulo. (Estiramento no ligamento colateral medial do joelho direito). Não jogaria o Mundial. O Rosa e o Mazziotti insistiram com o meu laser, que é 30 vezes mais intenso, e com a joelheira com cerâmica. Foram fatores importantíssimos para a recuperação do atacante.

Há outros usos para os produtos? O Fedato (Antonio Carlos Fedato Filho, fisioterapeuta) está fazendo uma pesquisa sobre o ácido lático antes e depois dos jogos. E a roupa com cerâmica pode ser usada antes e depois dos jogos. Ele está analisando a produção da enzima CK, que é produzida quando o corpo passa por um grande stress físico, uma partida por exemplo. A busca é reduzir o tempo de recuperação. Para que atletas não fiquem fora de jogos importantes seguidos. Você procurou outros clubes? O Botafogo e o Fluminense. Também comecei contatos com o Cruzeiro e o Fluminense. Mas há professores que trabalham com os atletas olímpicos que se interessaram. Tomara que possa ajudar o Brasil nesta Olimpíada. É um trabalho árduo, difícil. Sem um laboratório importante por trás, tudo fica quase impossível. Dá vontade de desistir, não vou negar. A frustração muitas vezes é enorme. Não ter dinheiro e ser empreendedor no Brasil é terrível. E olha tudo que faço é acompanhado pela Universidade do Vale do Paraíba. Não sou um aventureiro. Sou um pesquisador sério. Dei entrevistas nas rádios, televisões, todo mundo gosta do que vê. Mas em seguida tudo é esquecido. Por isso procurei o futebol. Inovar na medicina no Brasil é algo terrível. Sou desestimulado cada dia. Como centenas de cientistas são. A burocracia daqui é absurda.
Explique, por favor. Olha, se a pessoa tem uma ideia e consegue prová-la, através de pesquisas científicas, sofre demais no Brasil. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) tem um protocolo absurdo, exagerado. Trava os pequenos pesquisadores. Ainda há o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia). Mais burocrático ainda. E o Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial), que também cria dificuldades enormes. Você precisa ter muito dinheiro para colocar sua ideia em prática. Há um protocolo para jogar o lixo no lixo. Se leva em média entre oito e dez anos para uma ideia se materializar por causa dessa burocracia. Sei que não é futebol, mas as pessoas precisam saber desse absurdo. Isso trava inovações na saúde, como por exemplo, a pílula que pode ajudar no tratamento do câncer, criado na USP? E que está proibida? Sim, ótimo exemplo. A substância que utiliza (fosfoetanolamina sintética) mostrou sua eficácia. Mas a burocracia brasileira impede que chegue à população. Como também foi um parto a liberação do princípio ativo THC da maconha para evitar convulsões. O uso de ozônio pode ajudar muitas pessoas. Mas segue proibido. Fora a burocracia na liberação da vacina contra a dengue. É uma estupidez lastimável. Eu também tenho outros projetos importantes. Como a utilização de células-troncos. É possível processar a gordura abdominal e chegar a uma substância que auxilia o organismo em várias doenças. Mas a nossa legislação é absurda. Eu posso doar meu sangue a você. Mas não posso usar as minhas próprias células-tronco.

Também não há a máfia dos grandes laboratórios? Eles não ganham bilhões com essas doenças você citou.

Lógico que sim. Há muito dinheiro em jogo. Não há escrúpulo, nem humanidade. Mas infelizmente tenho de dizer que a burocracia deste país consegue ser ainda pior que a máfia dos laboratórios. O que estou fazendo com o futebol é algo importante. Mas poderia ir muito além. Beneficiar a população. Eu e vários pesquisadores, cientistas, engenheiros biomédicos. Mas não podemos. Vou dar um exemplo prático. Soube que uma senhora iria sofrer uma amputação. Corri para o hospital. Tinha a certeza que meu aparelho de laser poderia evitar a amputação. O diretor do hospital me proibiu de usar o aparelho nela, porque não estava registrado, não fazia parte do hospital. Acabou amputada, sem precisar. Estamos amarrados pela burocracia. E quem perde é o cidadão comum que sofre e morre, sem necessidade. O progresso da medicina no Brasil é travado por burocratas e ignorantes.



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 05 Jan 2016 15:11:41

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