quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

As primeiras vitórias de Corinthians, Palmeiras e São Paulo em 2016. Mostraram suas armas para a Libertadores. Ficou claro: terão de trabalhar muito para ter o direito de sonhar com o título...

As primeiras vitórias de Corinthians, Palmeiras e São Paulo em 2016. Mostraram suas armas para a Libertadores. Ficou claro: terão de trabalhar muito para ter o direito de sonhar com o título...




"Milagre ninguém faz. Vou pegar uma manifestação de vocês (jornalistas) em que foram felizes. O time que bateu o campeão foi o que perdeu para o Guarani (do Paraguai, na Libertadores), porque amadureceu, perdeu, rodou. Não necessariamente tem de perder, mas é inevitável acontecer em uma reestruturação. O grande Milan de Carlo Ancelotti passou dois anos sem ganhar nada para remontar a equipe. Futebol precisa de tempo, não há magia. É reestruturar, ganhar e perder para aprender." "A equipe vai se tornar segura. Em algumas jogadas a equipe defendeu bem, com comprometimento de todos. Nas próximas semanas vamos trabalhar para que o time tenha mais poder ofensivo e que tenha mais possibilidades de ganhar. O mais importante é que ganhamos." "Pouco se fala disso, mas futebol se ganha com o banco. Hoje o jogo é muito corrido e tem que trocar três. Achei que o banco funcionou muito bem hoje. É importante começar com vitória e ir construindo o nosso caminho aos poucos." Declarações de Tite, Edegardo Bauza e Marcelo Oliveira. Corinthians, São Paulo e Palmeiras mostraram ontem o esboço do que serão neste importante 2016. E nas suas declarações, após três vitórias, apontam diferentes caminhos. Deixaram escapar que rumo tentarão dar aos seus clubes, ávidos pela conquista da Libertadores. Nos Estados Unidos, o treinador corintiano sentiu na pele o enfraquecimento de sua equipe. As multas baixas permitiram a debandada de Jadson, Renato Augusto, Ralf, Vagner Love. Ainda em território norte-americano, teve de liberar o seu grande líder defensivo, Gil. Sabe que Elias e Cássio podem tomar o mesmo rumo. Se Tite tem uma característica na vida é ser coerente. Na derrota de domingo, contra o Atlético Mineiro, e na vitória, diante do Shakhtar, a mesma postura que fez seu clube hexacampeão brasileiro. O 4-1-4-1. Lógico que o resultado não foi o mesmo. O setor mais prejudicado foi o meio de campo. Os neurônios capazes de articular as jogadas ofensivas foram arrancados. O time sentiu demais as ausências de Renato Augusto e Jadson. O toque de bola consistente, paciente, inteligente desapareceu. Como era previsto. Danilo e Rodriguinho não têm, nem de longe, a mesma eficiência, a técnica e a inteligência da dupla que foi embora. Nem o recém-chegado Marlone.

Será um trabalho artesanal. Que exigirá muita dedicação e paciência de todos. Contra os mineiros e ucranianos, a equipe tentou compensar o cruel desmanche, atuando de forma compacta. Buscando a recomposição. Apostando em contragolpes. Ficou evidenciada a precipitação, os lançamentos forçados, correria pura, em vez de velocidade. Perdeu com justiça para o Atlético mais firme de Aguirre. E venceu no sufoco, o Shakhtar graças a dois presentes, do goleiro Pyatov e do lateral Ismaily. O 3 a 2 alivia o ambiente. A volta dos Estados Unidos será mais leve. Tite sabe que a última impressão é que fica. Mas não poderá se dobrar diante da expectativa dos torcedores, da imprensa. O Corinthians de 2016 foi obrigado a ser bem diferente do de 2015. O principal desafio do treinador será convencer seus atletas a não cair na tentação de imitar a excelente equipe do ano passado. Mesmo com as cobranças inerentes de quem há menos de um mês tinha o melhor time da América do Sul. Pronto, entrosado e favorito para vencer a Libertadores. Mais do que tudo, o Corinthians apostará na humildade. Não terá vergonha de se defender. Porque sem o talento e visão dos dois melhores jogadores do país em 2015, Renato Augusto e Jadson, a equipe é bem diferente. "Milagre ninguém faz", resumiu com precisão, Tite. O Corinthians o obrigou a ser um melhor treinador que jamais foi. O trabalho excepcional de 2012, com as conquistas da Libertadores e do Mundial, foi superado com o do ano passado. Com a reconstrução do time, depois de mais um desmanche, em pleno Brasileiro. Os acertos nas decisões acabaram culminando em uma equipe compacta, muito forte na defesa e inteligente, rápida demais na transição para o ataque. Proporcionando a Renato Augusto e Jadson mostrarem o auge de suas carreiras.

Por isso, corintianos terão de ter paciência. Os primeiros passos do novo time estão sendo dados na velha fórmula. Na mesma estratégia. Na mesma maneira de pensar o jogo. Trocando neste primeiro instante o talento pela dedicação. Esperto, Tite sabe que tudo pode dar certo outra vez. Ou não. Daí a citação de Carlo Ancelotti. O grande Milan levou dois anos sem ganhar nada. Quem viu as partidas contra o Atlético e o Shakhtar ficou convencido. Reconstruir não é fácil. E o corintiano precisará ser um grande parceiro nas arquibancadas. Incentivar e, antes de tudo, ser tolerante. Um novo time está apenas renascendo. Com todas as falhas, bem diferente da equipe que estava pronta e ganhou, batendo recordes, o Brasileiro. Já Edegardo Bauza tem experiência, duas Libertadores e toda a paciência dos são paulinos. Há um consenso que o clube precisa acabar com uma praga que o atormenta há anos. Sua irregularidade. Elenco formado por jogadores talentosos, mas mimados demais, que se contentam com pouco. Não deixam no gramado todo seu esforço, dedicação, raça. Por isso as decepções a cada ano. O tempo passou e só os são paulinos não viram. As últimas grandes conquistas, a Libertadores e o Mundial, completaram 11 anos. O sexto Brasileiro fez oito anos. Desde então nada significativo, capaz de dar orgulho. Por isso, Bauza tem carta branca da diretoria, da torcida e da imprensa. A cobrança será maior, a compreensão também. É um argentino recém-chegado. E que já entendeu a que veio. Repetir o que fez na LDU e no San Lorenzo, seus trabalhos mais marcantes, vitoriosos. Usar a mesma fórmula, responsável por duas Libertadores.

Na suada vitória contra o Cerro Porteño, no Paraguai, o São Paulo mostrou que está perdendo a vergonha de marcar. De brigar por centímetros. Está entendendo que, sem alma, não há dividida ganha. Lutar pela bola. Esse é um conceito básico para que o time possa se defender. Fazer o básico. Proteger seu gol com duas linhas quatro, sem a bola. Evitar contragolpes do adversário, correndo, marcando, fechando os espaços, trombando se necessário, não é vergonha. Mas obrigação no futebol moderno. O jogo será mais feio, sim. Mas competitivo. Bauza ganhou títulos importantíssimos com elencos nada brilhantes. Mas comprometidos. Com jogadores capazes de colocar a cabeça na chuteira adversária. O que faltou no DNA do grupos que frequentaram o Morumbi nos últimos anos.

Mas também com estratégia. Não foi por acaso que o argentino tratou de colocar três zagueiros durante o jogo de ontem. Com volantes presos à frente da área, como se fosse handebol e não futebol. Será assim que Lugano entrará no time. Em uma defesa bem montada, firme. Passou do 4-4-2 para o 3-5-2 e 3-6-1, sem traumas. Queria ganhar e venceu. Fora de casa, contra uma equipe popular, tradicional, empurrada por sua torcida. Também será assim que o São Paulo deverá disputar a Libertadores. Assumindo suas limitações. Fazendo delas a desculpa ideal, para primeiro se defender e bem, como não faz há anos. E depois explorar velocidade nos contragolpes. Bolas paradas. Mais paciência para atacar. E muita entrega. Acabou o sono de Ganso, Michel Bastos, Wesley. Bauza não veio a passeio. O desafio de Marcelo Oliveira e seu Palmeiras é outro. Peças têm até de sobra. Ele precisa transformar descobrir um time confiável, consistente. Acabou a desculpa tão usada no ano passado. Que chegou no meio da temporada. E que não teve tempo de montar o Palmeiras como gosta. A vitória na Copa do Brasil não encobriu, para o torcedor mais observador, toda a inconsistência palmeirense. Depois da pré-temporada e da chegada de mais um ônibus de jogadores, contratados por Alexandre Mattos, Oliveira foi ao Uruguai para o torneio de Verão. Ideal para mostrar sua filosofia em 2016 e fazer testes, mostrar formações possíveis com o farto elenco que possui. Só que o treinador se mostra um digno representante da tradicional família mineira. Ele acredita piamente no esquema que o consagrou na carreira. Que o fez se destacar no Coritiba, deu dois Brasileiros no Cruzeiro. E que o fez campeão, no sufoco, com o Palmeiras. Marcelo Oliveira não abre mão do seu 4-3-2-1. Mesmo diante de um Libertad enfraquecido e que não teve forças para chegar à Libertadores, o Palmeiras se complicou taticamente. Diante de uma equipe que marca com oito, nove homens atrás da linha da bola, o time teve imensa dificuldades para se articular. Nas várias contratações que o time fez, faltou uma peça fundamental. Um meia ofensivo, inteligente, com talento suficiente para deixá-lo imprevisível. Segue sendo um desperdício Dudu tão preso no meio. Ele é um jogador de velocidade pelos lados do campo. O Palmeiras segue uma equipe fácil de marcar com a bola dominada. E perigosa, vibrante nos contragolpes. E que usa muito, mas muito bem, as bolas paradas pelo alto. Ou seja, bem parecida com a de 2015. Marcelo Oliveira apelou para o banco para vencer a modorrenta partida de ontem. Moisés entrou muito bem. Segundo volante com capacidade ofensiva. Erik, veloz, intuitivo como mostrava no Goiás. A vitória nasceu graças aos dois, nos últimos nove minutos de jogo. Não ao esquema palmeirense. Não há desculpas para Marcelo Oliveira não ter outra maneira de jogar. Jogadores ele tem sobrando. Falta um camisa 10, clássico, diferenciado? Falta. Mas é impossível aceitar que o time volte com o mesmo defeito crônico de 2015. O Palmeiras é uma equipe muito fácil de ser marcada. A não ser nos contragolpes. Isso é muito pouco para quem não só sonha, mas se cobra pela conquista da Libertadores, depois de 17 anos. Corinthians, São Paulo e Palmeiras mostraram suas armas em 2016. Venceram ontem. Mas deixaram a mesma impressão. Há muito o que ser trabalhado...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 21 Jan 2016 07:21:01

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