sábado, 23 de janeiro de 2016

Cusparadas, sonegação, ameaças, ligação íntima com dirigente corrupto. Detalhes constrangedores. Como o melhor técnico da América do Sul, deixou, escorraçado, o Chile. Jorge Sampaoli...

Cusparadas, sonegação, ameaças, ligação íntima com dirigente corrupto. Detalhes constrangedores. Como o melhor técnico da América do Sul, deixou, escorraçado, o Chile. Jorge Sampaoli...




Cusparadas, palavrões, ameaças de agressão. Comprovação de envio de dinheiro a paraísos fiscais para fugir dos impostos. Desmoralização escancarada pela imprensa. Articulada para jogar a população de um país contra um treinador. Foi desta maneira que terminou a mais bela história do futebol chileno. Os detalhes sórdidos não param de vir à tona. Confirmados pela própria Federação Chilena, para acabar de vez com a imagem de Jorge Sampaoli. Treinador argentino que, há sete meses, quase foi canonizado em Santiago. Ele foi o grande responsável pela conquista inédita da Copa América. Havia muito mais do que astúcia, inteligência tática e emocional. O homem que quebrou um tabu no ano passado tinha algo muito pesado a esconder. O que tornou pequeno algo sensacional. Disputar o prêmio de melhor treinador do mundo, na Fifa, mesmo trabalhando longe da Europa. Ser o terceiro, atrás de Luis Enrique e Guardiola deveria merecer aplausos, admiração. Apesar de representar o Chile, só recebeu desprezo. Por quê? O motivo está intimamente ligado ao esquema de corrupção na Fifa. Jorge Sampaoli chegou ao comando da Seleção Chilena pelas mãos de Sergio Jadue. O presidente da Federação era considerado um prodígio. Tinha apenas 31 anos quando se elegeu, em 2011. Foi apresentado como a pessoa que revolucionaria o futebol chileno. Assumiu garantindo que faria do seu país uma potência mundial. E a meta principal seria vencer a Copa América de 2015. Logo entrou em choque com Marcelo Bielsa, que se demitiu. Tentou outro argentino, Claudio Borghi. O resultado foi ruim. Cedeu à opinião pública que exigia Jorge Sampaoli, dono de um excelente trabalho na Universidad de Chile. Tanto que despertou a atenção de vários clubes. Como o Cruzeiro, o Internacional. Só que Jadue percebeu que não poderia perder o treinador ideal para seu sonho: fazer o Chile vencer, pela primeira vez na sua história, a Copa América.

Embora o mais jovem presidente da América do Sul, o dirigente sabia como as "coisas aconteciam". Ligado umbilicalmente à Conmebol, se tornou vice-presidente e diretor de competições. Ambicioso, tinha certeza que, no futuro, comandaria a entidade. Por coincidência, claro, foi ficando cada vez mais rico à frente da Federação Chilena. A ligação íntima com as empresas que transmitiriam a Copa América seria sua desgraça. Mas enquanto tinha prestígio e estava longe do FBI, ofereceu um contrato indecente para Sampaoli. E o argentino aceitou. Sampaoli e dois auxiliares diretos receberam um total de US$ 6 milhões (cerca de R$ 24 milhões) em contas pertencentes a empresas que abriram nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal. Para evitar a tributação de 40% deste valor, oficialmente ficou estabelecido que o pagamento acontecera em troca da cessão dos direitos de imagem dos membros da comissão técnica. Um esquema vergonhoso. O salário do argentino era de R$ 1,2 milhão. O jogador que mais recebe no futebol chileno é Suazo, ídolo maior do Colo Colo: R$ 240 mil. Tudo foi tornado público no Chile graças a dois fatores. O primeiro foi a investigação do FBI e do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. O trabalho derrubou a corrupta cúpula da Fifa. E também mostrou a farra na América do Sul. Jadue passou de prodígio a um malandro qualquer. Ele cometeu o mesmo crime que José Maria Marin. Recebeu pelo menos 1,5 milhão de dólares, cerca de R$ 6 milhões da Datisa. A empresa ganhou o direito de transmissão da Copa América distribuindo propinas a presidentes de Federações de Futebol e a membros da Conmebol. O chileno foi mais esperto que Marin. Se antecipou. Tratou de sair do Chile e foi até os Estados Unidos. Cercado de advogados, conseguiu um acordo. Pagou 1 milhão de dólares, cerca de R$ 4 milhões. E ainda se dispôs a contar tudo que sabia. Sua delação voluntária comprometeu principalmente o ex-presidente da Conmebol, o paraguaio Juan Ángel Napout.

Sergio Jadue acabou obrigado a renunciar à Federação Chilena. No seu lugar assumiu Arturo Salah, no dia 4 de janeiro. Ex-jogador, técnico, empresário e dirigente vivido, o presidente de 66 anos percebeu o que acontecia. Jorge Sampaoli tinha inúmeras propostas. São Paulo, Flamengo, Internacional, Atlético Mineiro foram equipes brasileiras interessadas. Mas o coração do treinador se acelerava pela Europa. Chelsea, Porto e Roma mandaram recados ao argentino. Sem a cumplicidade de Jadue, Sampaoli queria ir embora de qualquer maneira. Mas tinha contrato até 2018, depois da Copa da Rússia com o Chile. Tentou acordo com a Federação Chilena. Só que Salah percebeu que acabaria posando de vilão. Seria o homem que perderia o técnico campeão da Copa América de 2015. Seria um desastre para a sua administração. Pediu, implorou para o argentino continuar. Só que ele foi radical, não ficaria. Estava entusiasmado. Não só por concorrer à eleição de melhor treinador do mundo na Fifa. Mas por fechar contrato com Jorge Mendes. O empresário de Cristiano Ronaldo e, maior do planeta, queria trabalhar com ele. E oferecia a Europa. Clubes, seleções, o céu era o limite.

Sampaoli decidiu radicalizar. Discutiu com Salah e avisou que não ficaria de jeito algum. Logo após essa discussão, os detalhes do contrato do treinador com a Federação Chilena vazaram para a imprensa. O salário milionário e, principalmente, os detalhes de como burlava o fisco chileno, revoltaram a população. Para não ser preso, Sampaoli teve de depor no SII (Serviço Interno de Impostos, órgão que controla o pagamento de tributos no Chile.) E a imprensa garante que pagou multa para não ser preso. Passou a ser xingado, ameaçado e seu carro a receber cusparadas na rua. A multa com a Federação Chilena era de 6,3 milhões de dólares, cerca de R$ 25 milhões. Salah avisou que se o treinador quisesse ir embora, que pagasse. "Nesse ambiente já não quero trabalhar nem viver no país. Nunca imaginei que em tão pouco tempo se destruiria a imagem de um ídolo que tanto deu ao futebol chileno. Sinceramente, pensei que Salah me entenderia e me deixaria em liberdade. Ele mesmo viveu esta experiência e teve que deixar seu projeto. Por isso, causou-me estranheza a postura dele de me manter como refém, contra minha vontade", desabafou Sampaoli, na Suíça. Depois de muita discussão pública, houve um acordo. Sampaoli abriu mão de um mês de salário, férias e premiação pela conquista da Copa América. O total foi de 1,2 milhão de dólares, cerca de R$ 4,9 milhões. Abandonou o Chile. Caiu nos braços de Jorge Mendes. O empresário português quer Sampaoli descansando até o meio do ano, quando deverá assumir uma equipe europeia. Chelsea é o clube mais provável. Mas há a certeza que novos interessados surgirão até lá.

Já Salah sente que não será fácil substituir Sampaoli. Marcelo Bielsa, Eduardo Berizzo e Manuel Pellegrini recusaram o Chile. Há muita pressa. O país enfrentará a Argentina e a Venezuela pelas Eliminatórias. Os jogos serão nos dias 24 e 29 de março. Os chilenos estão em quinto lugar. Depois da conquista da Copa América seria um caos não chegar à Rússia. Ainda levará muito tempo para o fantasma de Sampaoli ser exorcizado...



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 23 Jan 2016 07:42:57

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