quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Como a falta de união e coragem dos dirigentes sabotou a Primeira Liga. Sem esforço, CBF, Federação Carioca e Globo calaram o 'grito de independência'. Os clubes foram amadores diante dos donos do futebol neste país...

Como a falta de união e coragem dos dirigentes sabotou a Primeira Liga. Sem esforço, CBF, Federação Carioca e Globo calaram o 'grito de independência'. Os clubes foram amadores diante dos donos do futebol neste país...




Game of Thrones é a série mais vista da história da HBO. E a mais arrebatadora em 43 anos de existência do canal. Cálculos apontam que nos Estados Unidos são cerca de 18,4 milhões acompanhando a saga por temporada. Isso legalmente. Fora milhões que "baixam" episódios na Internet. O fenômeno que já dura cinco temporadas foi inspirado na série de livros as Crônicas de Gelo e Fogo, de George Raymond Richard Martin. O autor reuniu as intrigas da Guerra das Rosas. Disputa que levou 30 anos pelo trono da Inglaterra. Envolveu os reinados de Henrique VI, Eduardo IV e Ricardo III. Os clãs York e Lancaster se enfrentaram entre 1455 e 1485. Em um cenário fantasioso, George R.R. Martin conseguiu reunir o que a raça humana tem de pior. A obsessão pelo poder a qualquer custo. Traições, vingança, crueldade, trapaças, mentiras, emboscadas são regados a muito ódio. E reviravoltas. Heróis assumem atos de vilões sem a menor dor na consciência. Não há piedade nem clemência nos corações dos vilões. O recurso inteligente do enredo são as várias tramas acontecendo ao mesmo tempo. Vários clãs se consideram com o direito divino ao domínio dos Sete Reinos. Cada episódio custa o equivalente a um filme. Editado em ritmo alucinante, faz de cada telespectador um sádico cúmplice. Testemunha de quão vil pode ser o homem quando quer reinar. Toda a beleza de castelos na Espanha, Malta, Sérvia e geleiras na Islândia serve como pano de fundo para batalhas sangrentas. Articuladas, sem a menor ética. Não há um lado puro. Dois personagens eram nobres. Um foi decapitado na primeira temporada. E outro foi morto de forma impressionante. Seus inimigos, que deveriam ser seus aliados, fizeram fila para ter o prazer de enfiar a espada no seu corpo. Assim termina a quinta temporada. Os personagens dignos confiança, coerentes, foram mortos.

A vilania, a maldade impera. Game of Thrones serve como referência ao que acontece neste dia 27 de janeiro de 2016. Traição, reviravolta, bravatas, medo, desonra, mentiras, ambição e luta sórdida pelo poder fazem parte da vida real. Do futebol brasileiro. Quando a noite cair, começará neste país a Primeira Liga. Torneio entre clubes de Rio, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Ele deveria ser o embrião do grito de independência da CBF, das Federações e da TV Globo. Alguns presidentes de clubes se cansaram da exploração da entidade que, na prática, deveria apenas organizar campeonatos. Registrar jogadores, definir fórmulas de campeonatos e cuidar da Seleção Brasileira. Mais nada. Das inúteis federações, que só servem para garantir a permanência dos presidentes da CBF. E que sugam os clubes grandes com seus Estaduais, esvaziados, sem sentido. A ruptura também deveria ser da emissora que ganhou o monopólio das transmissões de futebol da Ditadura Militar seria colocada no seu lugar. Ainda mais com a concorrência real de duas potências bilionárias norte-americanas, a Fox e a Turner. Brotou o sonho de uma liga independente.

Empolgados, muitos acreditavam na fragilidade dos presidentes da CBF, cercados pela sombra da corrupção. Pelas denúncias do FBI e do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Ricardo Teixeira é apontado como o organizador do recebimento de propinas na América do Sul. O ex-governador de São Paulo e, também ex-presidente da CBF, está com uma tornozeleira eletrônica, detido no seu luxuoso apartamento em Nova York. Será julgado pelo recebimento comprovado de propinas. Marco Polo del Nero também é acusado pelo FBI. Não pode viajar para fora do país. Se licenciou da CBF. Colocou no seu lugar, um coronel do Pará. Antonio Nunes. A Globo tem enfrentado a decadência da audiência do futebol na tevê aberta. Mais de 22% nos últimos dez anos. A recessão e a corrupção na CBF já afastaram patrocinadores importantes do futebol da emissora. Como a Coca Cola, Volks e o Magazine Luíza. Acreditando que a CBF e a Globo estivessem abaladas, os dirigentes começaram a agir. O primeiro passo foi ousado. Decidiram acabar com torneios centenários. Mas que se tornaram obsoletos, desnecessários, insignificantes. E principalmente deficitários. Os Estaduais. O Campeonato Carioca começou em 1906. O Mineiro e o Paranaense em 1915. O Gaúcho é o mais novo, teve a sua primeira edição em 1919. Mas não se enfrenta a tradição de maneira tão fácil. Não se não houver união entre os clubes. Se os grandes de São Paulo tivessem se unido ao movimento, por exemplo. Mas a rebeldia foi domada com dinheiro. R$ 48 milhões para ser exato. Serão R$ 16 milhões por ano para Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo. De 2016 a 2018, pagos pela Globo. A emissora exigiu os times principais no torneio estadual. E como o poderio econômico, os dirigentes sabem que suas equipes têm sempre muita chance de disputar a Libertadores. Por isso, mais um torneio no início do ano, seria danoso. Na verdade, a Globo comprou o apoio dos paulistas. Foi um golpe terrível na Primeira Liga.

Os dirigentes rebeldes cometeram um erro primário. Menosprezaram a força da Federação Carioca. De Rubens Lopes. As direções do Flamengo e Fluminense nunca tiveram tão unidas. Irritadas com a fórmula arcaica do torneio estadual e do favorecimento ao Vasco, do maior aliado de Rubinho, Eurico Miranda, decidiram boicotar o torneio do Rio de Janeiro de 2016. Em 2015 foram além das juras de amor. E procuraram a Liga Sul-Minas. Seria o golpe ideal. Disputaram o torneio interestadual, mais rentável, com o time principal. E colocariam o time sub-23 no Estadual. Só que não se despreza a Federação que sedia a CBF. Rubinho e Eurico se aliaram com Marco Polo del Nero e a Globo para matar a liga no nascedouro. A CBF espalhou dezenas de entraves burocráticos. Ameaçou com represálias junto à Conmebol, à Fifa. Mas o que sabotou de vez a independência da Primeira Liga foi a Globo. Ameaçando processar Flamengo e Fluminense se não colocassem seus times principais no Campeonato Carioca, como reza o contrato assinado por dirigentes dos dois clubes. Bandeira de Mello e Siemsen perceberam que não havia o que fazer. Disputariam o torneio estadual com seus principais atletas. As gargalhadas de Rubinho foram ouvidas na sede da Ferj.

A postura foi vista como uma traição por parte dos demais competidores. Desestimulou por exemplo o Grêmio e o Atlético Mineiro. No início da competição, podem usar seus principais atletas. Mas quando começar a Libertadores, usarão seus reservas e sub-23. Alexandre Kalil, que era o executivo principal da Primeira Liga, renunciou. Ele percebeu que a nova entidade não tinha força para escapar da CBF e da Globo. Ofereceu a transmissão para a Esporte Interativo (Turner), Fox e para a ESPN (Disney). Mas os clubes recuaram. Temeram represália da dona do monopólio de transmissão neste país. É para a Globo que os clubes recorrem para pedir empréstimos, adiantamentos. Há décadas. Fora que a emissora sabe manipular os egos dos dirigentes, com entrevistas oportunas. Se sentindo desmoralizado, traído, Kalil abandonou o barco. Sentindo o recuo dos dirigentes, Rubens Lopes quis mais. Só permitiu que Flamengo e Fluminense disputem a primeira rodada, hoje. Quando o Carioca começar no sábado, os dois não poderão jogar. A CBF foi na mesma linha. Não deu a oficialização ao torneio. Não reconhecerá o campeão. Quem vencer a Primeira Liga estará vencendo amistosos. Terá, na prática, o mesmo peso de um torneio fantasma de várzea. Os dirigentes dos clubes se mostraram amadores diante de tanta articulação e autoritarismo. Não reagiram. Cederam diante da primeira ameaça. Agiram como garotos. A Globo ficou com o direito de mostrar os jogos a um "preço de banana": R$ 5 milhões. Pagou o que quis. Com medo que o estádio Raulino de Oliveira, em Volta Redonda, ficasse vazio, o Fluminense agiu. Bastará um quilo de alimento não perecível como ingresso. A intenção é evitar ainda mais desmoralização ao torneio. Os jogadores brasileiros, com postura tradicionalmente omissa e amedrontada, fizeram o de sempre. Deixaram o Bom Senso divulgar uma nota de apoio à Primeira Liga. E se calaram. Não foi por acaso que, quando os clubes foram maioria e poderiam causar um enorme estrago na administração Del Nero, votaram em bloco junto com as federações. Para a nomeação do coronel Nunes do Pará. Exemplo maior de submissão não existe. Está mais do que morto o impacto, a empolgação e a própria revolução prometida pelos clubes. A Primeira Liga se tornou um torneio fantasma. Por fraqueza, medo de seus próprios dirigentes. Faltaram testosterona e estratégia para enfrentar os donos do futebol neste país.

Pouca gente sabe. Os times estão divididos em três grupos. O A tem Cruzeiro, Fluminense, Atlético Paranaense e Criciúma. O B, Grêmio, Internacional, Coritiba e Avaí. O C, Atlético Mineiro, Flamengo, América Mineiro e Figueirense. Se classificam os primeiros colocados e o melhor segundo colocado para a semifinal. A data prevista para a decisão é dia 31 de março. Mas já há quem defenda semifinais e finais no meio do ano.

Não há a menor certeza que a Primeira Liga seguirá em 2017.


Se for dessa maneira, clandestina, submissa, melhor que não aconteça.

Os dirigentes brasileiros precisam ter coragem.

E encarar a realidade.

Não é de um novo torneio natimorto que os clubes precisam.

Mas de dignidade para formar uma associação.

E tomar o controle do futebol desse pais.

CBF, Federações e uma emissora de tevê estão eternizadas no poder.

E 2016 começa com tudo igual.

Estaduais arrastados, desinteressantes, deficitários.

Atrapalhando principalmente os clubes envolvidos na Libertadores.

Absurdo, estupidez.

Antes de organizar campeonatos, os dirigentes precisam de três coisas.

Estratégia, uma outra tevê especializada em futebol e o mais difícil...

Testosterona.

Comparados a Del Nero, Feldman, Rubinho, Eurico...

Os vilões de Game of Thrones são anjos do Paraíso...



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 27 Jan 2016 12:23:41

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