terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Bolsa de estudo. Promoção e muito prestígio na Gaviões. Os prêmios para Helder Alves Martins, o menor que assumiu ter matado Kelvin Spada em 2013. O processo foi arquivado, não existe mais. Brasil é o país da impunidade...

Bolsa de estudo. Promoção e muito prestígio na Gaviões. Os prêmios para Helder Alves Martins, o menor que assumiu ter matado Kelvin Spada em 2013. O processo foi arquivado, não existe mais. Brasil é o país da impunidade...




Revoltante é a palavra que mais se aproxima do resumo da situação. No dia 20 de fevereiro de 2013, o menino boliviano Kevin Spada ganhou a permissão do pai para realizar o "sonho de sua vida", como dizia. Iria assistir à partida do time do seu coração, o San José em Oruro. Contra o então campeão mundial, o Corinthians. Diante de sua empolgação juvenil, o pai Limbert o liberou. Acreditou que estava fazendo a felicidade de Kevin. Jamais imaginaria que um sinalizador esfacelaria o cérebro de seu filho. Cairia morto diante diante dos amigos que o acompanhavam na partida. Os detalhes terríveis não saem da lembrança da família do garoto. O foguete, usado para iluminar pontos no alto-mar tem a potência dez vezes maior que os sinalizadores comuns. Atingia inacreditáveis 300 quilômetros por hora. Chegaria a 600 metros. Mas disparado das organizadas do Corinthians, atingiu Kevin ainda quando ganhava velocidade, força. A violência do impacto no rosto do menino foi impressionante. Perfurou seu olho direito e implodiu seu cérebro. A princípio, a polícia boliviana, pensou que havia sido um tiro de fuzil, tal o estado que ficou Kevin. O que aconteceu em seguida mostrou porque somos dignos representantes do Terceiro Mundo. Visto por europeus e norte-americanos como um continente atrasado, sem lei, onde vigora a impunidade. Primeiro incompetentes policiais bolivianos não revistaram os torcedores que foram ao estádio de Oruro. As organizadas corintianas entraram com sinalizadores sem o menor problema.

Depois, com o garoto de 14 anos morto, havia a necessidade de punição. A polícia prendeu escolheu ao acaso 12 membros das organizadas. Sem prova alguma que sequer um deles tivesse realmente participado do assassinato. A lógica dos defensores da lei foi criminosa. Apenas um torcedor disparou de forma irresponsável o sinalizador. Outros 11, no mínimo, seriam inocentes. Mas no cárcere, acabariam confessando. Incompetentes, as autoridades bolivianas estavam mais para sequestradoras do que para policiais. Por mais raiva que as organizadas corintianas pudessem despertar naquele episódio, foi uma violência o que aconteceu. Dos detidos, nove pertenciam à Gaviões da Fiel, maior torcida organizada do Corinthians, e três à Pavilhão Nove. As uniformizadas mostraram um poder de organização assustador. Logo três advogados, inclusive um especializado em direito internacional, assumiriam o caso. Vereadores, deputados estaduais, federais, senadores, ministros e até o ex-presidente Lula se juntaram para libertar os corintianos. Na cadeia, havia orelhão e os 12 acusados se divertiam jogando futebol.

Nem alta tecnologia existente conseguiu definir quem disparou o sinalizador. Quando houve essa certeza, por incrível coincidência, a Gaviões da Fiel apresentou aquele que seria o assassino acidental. Foi apresentado no Fantástico. Na época, H.A.M. de 17 anos. Por força do acaso, menor, ele não poderia ser extraditado à Bolívia. Lá a maioridade começa a valer aos 16 anos. Correria o risco de pegar até 30 anos pelo crime que jurou ter cometido. No Brasil, o máximo que sofreria seria ter de passar até três anos na Fundação Casa. Mas como tinha residência fixa e morava com os país não ficaria internado. Talvez tivesse de dormir na instituição por um ano ou alguns meses. Depende de como o processo fosse julgado. A família de Kevin e a opinião pública boliviana e grande parte da brasileira se revoltaram. Era tudo muito conveniente. As organizadas apresentaram um menor como autor do crime. Sem prova alguma. A não ser seu depoimento dúbio. Não havia provas materiais. Nenhuma testemunha, mesmo ele tendo participado da caravana. E ficado ao lado de centenas de corintianos no estádio. Por ser menor, sua pena no Brasil seria branda demais para um crime tão hediondo. O experiente repórter criminal da TV Globo, Valmir Salaro, escalado para entrevistar H.A.M., não deu sequência ao caso. De maneira muito estranha, deu tudo por encerrado. Os advogados da Gaviões da Fiel proibiram o menor de dar entrevista. Mas seu nome não foi esquecido. Logo vazou que a maior torcida corintiana havia prometido uma bolsa de estudo ao menino de 17 anos. Um prêmio por ter se delatado. E ele mereceu. Diante da confissão e da pressão internacional, a tosca polícia boliviana teve de libertar os 12 membros das organizadas. Eles foram recebidos como heróis na volta a São Paulo. Logo alguns deles se envolveriam em brigas, crimes, roubos. O que já foi muito divulgado. O caso foi arquivado no Brasil. Não existe mais. A confissão de H.A.M. de nada valeu. "O processo foi arquivado há cerca de 15 dias, por falta de indícios de materialidade. Acabou, zerou tudo", comemorava o advogado Davi Gebara Neto, muito bem pago pelas organizadas. O Corinthians pagou R$ 113 mil à família do menino. O presidente da CBF, José Maria Marin, prometeu que a arrecadação do amistoso entre Bolívia e Brasil seria dos parentes de Kevin.

O jogo rendeu cerca de R$ 1 milhão. A Federação Boliviana repassou apenas R$ 42 mil, alegou que teve gastos na organização da partida. "Prevaleceu a injustiça, a humilhação, a impunidade. Perdi meu filho e ninguém foi punido de verdade. É uma lástima. Me causa muita revolta", desabafou. Mas e H.A.M.? O tempo passou e ele não é mais menor. Seu nome pode ser divulgado. Ele se chama Helder Alves Martins. O fim do sigilo se deve a Marcelo Duarte. No seu blog, mais detalhes que deixarão ainda mais depressiva a família de Kevin Spada. Não passou de boato a história que ele teria sido afastado da Gaviões. Os sócios não queriam conviver com ele pela morte de Kevin. Pelo contrário. Helder foi promovido. É responsável pelo setor de bandeiras na torcida. E mais. Acabou premiado. Ele que sempre estudo em colégios públicos, teve o privilégio de terminar o Ensino Médio no colégio particular, o Drummond no Tatuapé. A mensalidade de R$ 510,00 não foi cobrada. Ele ganhou a bolsa da Gaviões. Ela foi repassada à organizada pela escola. Helder estudou com outros cinco jogadores do Corinthians. Havia a promessa da organizada pagar a faculdade. E seria assim. Começou a estudar gratuitamente Automação Industrial, na própria Drummond. Abandonou no primeiro semestre, por achar as contas difíceis. Ele assume: detesta estudar. Está desempregado. Mora no Parque do Gato, conjunto habitacional de baixa renda. Aos 19 anos, sua maior preocupação é seguir o Corinthians. Cuidando do setor das bandeiras da Gaviões. Afirma que está quase todos os dias na quadra da organizada. Diz que adora caravana. Afirmou na matéria que conheceu quase todo o Brasil com a Gaviões. E também a Argentina. Mesmo querendo se mostrar um turista, não citou em momento algum a Bolívia. Como se estivesse esquecido de esteve lá. Muito estranho. O que fica latente é o exemplo. A punição de criminosos existe para mostrar às demais pessoas o que não fazer. Um menino de 14 anos morreu pelo pecado de ter ido assistir a uma partida de futebol. Ninguém foi punido. O criminoso confesso ganhou bolsa de estudo e foi promovido na torcida organizada que faz parte. O caso Kelvin Spada premia a impunidade da pior espécie. E as mortes continuam parceiras do futebol. 2015 começa com a notícia que um torcedor de 23 anos foi morto. Corintiano e membro da Gaviões, Felipe Augusto Oliveira, teria sido capturado após uma festa, sábado no Anhembi, por membros de organizadas palmeirenses no sábado à noite. E espancado até a morte. Seria uma vingança pela morte de André Alves Lezo, de 21 anos, e Guilherme Vinícius Jovanelli Moreira, assassinados por corintianos, em março de 2012. Já há a promessa de vingança por Felipe. É uma insanidade. Estimulada pela omissão das autoridades. O Brasil é o país da impunidade. Para revolta da família de Kevin Spada e de tantas outras que perderam seus filhos estupidamente...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 27 Jan 2015 10:23:37

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