Bombas de efeito moral, balas de borracha zunindo. Entre os dois, uma guerra de rojões. Cerca de 250 soldados formando uma barreira humana entre torcedores ensandecidos das organizadas de Corinthians e São Paulo. As ruas da pacata Limeira viraram campo de guerra. A população desesperada, trancava portas e janelas. Esse foi o cenário absurdo de ontem à noite após uma semifinal da Copa São Paulo. A principal competição da garotos do futebol brasileiros. Meninos que devem ser o futuro do futebol deste país. A vitória do Corinthians por 3 a 0, garantindo a decisão contra o Botafogo de Ribeirão Preto, é o de menos. O incrível fica por conta da selvageria das organizadas. Alguns vândalos infiltrados se aproveitam de qualquer desculpa para expor sua estupidez. Há relatos que mesmo muito antes da briga em Limeira, o metrô paulista foi palco de alguns espancamentos. Covardes como sempre. Um corintiano apanhou de cerca de 30 palmeirenses na linha vermelha, que leva até a Barra Funda. A surra aconteceu pelo simples fato de o garoto estar vestido com a camisa do Corinthians. Os palmeirenses iriam para a Arena Barueri. Viram, por acaso, o corintiano. Quando a polícia chegou, o torcedor já estava desacordado. Nem virou manchetes dos portais, jornais, rádios e televisões. Pelo simples fato de ser normal. É tudo tão banal que um espancamento não vira notícia se o infeliz massacrado não morrer ou correr risco de morte. Quanto à Limeira, tudo era mais do que esperado. A cúpula da Federação Paulista de Futebol ficou muito assustada quando São Paulo e Corinthians chegaram a uma das semifinais da Copa São Paulo. Até uma criança de cinco anos saberia indicar o melhor lugar para o confronto acontecer. O local mais seguro, onde a polícia teria toda a condição de repetir o trabalho que já faz há anos. O Pacaembu, estádio central, com todas as vias de acesso controladas. Mas não. Virou tradição só usar o estádio municipal na grande final. Durante toda as outras fases, o torneio é disputado em cidades interioranas. Até para agradar as prefeituras e clubes que têm direito a voto de presidente da FPF. Nada é por acaso. Tudo fica mais revoltante quando os detalhes são analisados. O estádio de Limeira, Major Levy Sobrinho, estava interditado pela própria FPF. Desde 29 de dezembro de 2014. O motivo? Falta de segurança. O estádio onde a Internacional de Limeira disputará a Terceira Divisão do Campeonato Paulista parou no tempo. Ultrapassado, envelhecido em péssimo estágio de conservação. A Polícia Militar não o considerava seguro aos torcedores. Misteriosamente, houve o fim da interdição do estádio na véspera do jogo de ontem.
Diante dos inúmeros boatos que as organizadas rivais combinaram brigas em Limeira, a segurança foi reforçada. 250 policiais para cuidar de milhares de torcedores de lado a lado. O medo era que houvesse confrontos nas estradas. A tensão dominou a pequena cidade. Donos de restaurantes e lanchonetes foram aconselhados a fechar mais cedo seus estabelecimentos. Os saques de torcedores organizados são costumeiros em partidas fora das grandes capitais. A estratégia da polícia durante o jogo era simples. A torcida do São Paulo seria retida no estádio. A do Corinthians sairia primeiro. Dentro de uma hora ou até mais, os são paulinos poderiam ir embora, evitando assim o conflito. A organização da Copa São Paulo tinha certeza que, cobrando ingressos, inibiria aqueles torcedores só interessados em brigar. Mais de dez mil pessoas foram ao acanhado estádio. O plano se mostrou ineficaz de acordo com o transcorrer do jogo. O Corinthians se impôs de maneira muito fácil diante do São Paulo. No primeiro tempo já vencia por 2 a 0. Assim que Gabriel Vasconcelos marcou 3 a 0, os são paulinos começaram a deixar o estádio. Parte das organizadas corintianas foram atrás pelas ruas de Limeira. Começou uma guerra de rojões. Os dois lados foram reforçados com o final da partida. Policiais garantem que o confronto parecia ter sido armado. A estratégia para evitar o conflito foi um fracasso. Os policiais trataram de soltar bombas de efeito moral, tiros de bala de borracha, gás pimenta e lacrimogêneo. E à força, se colocaram entre as duas torcidas. Os torcedores xingavam e atiravam fogos de artifício nos soldados. As ruas acanhadas e mal iluminadas favoreciam o confronto. O caos anunciado chegou. O Corinthians chegou à sua 16ª final. É octacampeão. O Palmeiras manteve o tabu de nunca ter conquistado sequer um título. Os empresários fizeram a festa com o número ridículo de equipes: 104. O que saiu do script foi Limeira virar a faixa de Gaza por horas. A primeira competição de 2015 em São Paulo foi um vexame. Torneio de garotos marcado pela incompetência, irresponsabilidade da FPF. Escolher Limeira para o clássico tão marcado pela rivalidade é de uma falta de visão inacreditável. "Foi uma falha abrir os portões após o jogo. Talvez por falta de experiência. Poderiam ter segurado uma torcida e liberado outra. Se tivessem feito isso, nada teria acontecido. Ainda bem que não houve consequências graves", disse o comandante de arbitragem e de segurança da FPF, o coronel Marcos Marinho. Tradução: não houve mortos ou feridos graves. A cúpula da FPF estava apavorada. Acreditava em outro clássico na final da Copa São Paulo. Mas o Palmeiras colaborou. Perdeu para o Botafogo de Ribeirão Preto. Este será o adversário do Corinthians. O confronto inesperado deixa mais tranquilo Marco Polo del Nero. Ele poderá levar José Maria Marin para a decisão, no domingo pela manhã. Lá vão fazer de conta que nada demais aconteceu. E festejar para as câmeras o prestígio da Copinha. Só quem esteve nas ruas infernais ou trancados nas suas casas poderiam discordar. Mas essas pessoas não têm direito sequer a serem ouvidas. Então o que vale é a versão oficial. Todos temos a obrigação de comemorar o sucesso da Copa São Paulo. E fingir acreditar que as bombas, as balas de borracha, o gás pimenta e o lacrimogêneo foram meras ilusões de ótica. Feliz ano novo...
Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 23 Jan 2015 03:05:49
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