quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A incompetência dos dirigentes do Fluminense. Foram 15 anos de fartura com a Unimed. Mais de R$ 300 milhões circularam pelo clube. Não foi construído um CT. A Comlurb que fique a postos...

A incompetência dos dirigentes do Fluminense. Foram 15 anos de fartura com a Unimed. Mais de R$ 300 milhões circularam pelo clube. Não foi construído um CT. A Comlurb que fique a postos...




Dizem que nos últimos segundos de vida, as cenas mais marcantes de sua vida passam em um flash diante dos olhos. Se eu parasse de trabalhar com futebol, depois de 29 anos, vários momentos fariam fila na minha memória. Um deles aconteceu no dia 5 de dezembro de 2010, no Engenhão. Inesquecível. O Fluminense havia acabado de ganhar o título brasileiro. Eu estava cobrindo a final. O acesso aos jornalistas ao gramado era permitido. E vi o corriqueiro. Volta olímpica, muito choro de alegria. Jogadores erguendo o treinador, Muricy Ramalho. Mas algo para mim foi chocante. Vários conselheiros e torcedores levantaram um senhor de cabelos brancos. Orgulhoso, como sorria fosse o herói da conquista tricolor. E era. Tinha uma faixa cruzando seu peito sobre a camisa tricolor. Nela estava estampado: "campeão brasileiro de 2010". Não se furtava a acenar para as arquibancadas, onde fãs o aplaudiam. Muricy Ramalho, sempre ranzinza, não fugiu do beijo estalado na bochecha deste senhor. Os jogadores faziam fila para abraçá-lo. Fred e Conca dançavam com ele. E logo surgiu o coro de "Celsão, Celsão, Celsão". Um repórter carioca me apontou as arquibancadas e vi uma bandeira estampando seu rosto na torcida do Fluminense. Jamais vi nada parecido. Um patrocinador ser tão comemorado, tão respeitado, tão idolatrado. Nem Kia Joorabchian nos seus banquetes romanos no Corinthians. Também não era para menos. Por 15 anos, Celso de Barros conseguiu fazer com que a empresa bancasse o futebol do Fluminense. Foi o mecenas perfeito. A desculpa dada em 1988 era que o plano médico tinha apenas 200 mil clientes e buscava o esporte como veículo de divulgação. Foi assim que Barros convenceu o plano de saúde a bancar o clube de seu coração. Muito mal financeiramente, o Fluminense lhe estendeu um tapete vermelho. E Celso não se fez de rogado. Tratou de injetar dinheiro no futebol. O modelo de gestão foi absolutamente primitivo. Muito dinheiro na equipe principal. Agindo como torcedor, o presidente da Unimed buscou no mercado os atletas que desejava ver atuando no seu time. Ele contrataria os atletas que quisesse e se responsabilizaria pelo pagamento de salários. Eventuais vendas destinariam pequenas porcentagem ao clube.

Ele sempre teve uma atração por jogadores do meio para a frente, como qualquer frequentador de arquibancadas. Dodô, Roger, Carlos Alberto, Sheik, Thiago Neves, Edmundo, Ramon, Conca, Deco, Romário e o seu favorito, Fred foram contratados. Times fortes foram montados. Eles resgataram a autoestima do torcedor que passou por enorme humilhação. Em 1999, o clube da elite do futebol carioca disputou a Terceira Divisão do Brasil. Logo no primeiro ano da patrocinadora, o título da Série C, que ninguém gosta de lembrar. A partir daí, a ascensão. Vieram três Campeonatos Cariocas, 2002, 2005 e 2012. A Copa do Brasil em 2007. E dois Campeonatos Brasileiros da Série A, 2010 e 2012. Em 2008, a tragédia maior. Perdeu a Libertadores nas cobranças de pênaltis para a LDU do Equador. O grande erro de gestão foi das diretorias que passaram pelo Fluminense nos últimos 15 anos. Os presidentes se comportavam como se a Unimed fosse ficar até o final dos tempos bancando grandes times. Em 2010, foi criada Unimed-Rio Participações e Investimentos. Apenas para cuidar dos jogadores que era dona na prática. Os investimentos em contratações e salários oscilaram nestes 15 anos. Foram de R$ 10 milhões até R$ 60 milhões. Mas o clube se aproveitar de tanto dinheiro circulando. Não se modernizou. É inacreditável, mas o Fluminense não conseguiu construir até hoje um Centro de Treinamento para seus profissionais. Erro inadmissível. O time treina no velho estádio das Laranjeiras. Em 2011, Muricy Ramalho não escondeu porque saiu do clube. Falta de estrutura. "O campo é ruim. Não tem equipamentos, não há como cuidar do jogador que se machuca no clube. No vestiário tem até ratos. Já ouvi vários correndo pelo telhado. Isso é absurdo." Os dirigentes ficaram revoltados com a "falta de respeito" com o que o treinador disse em março. Ele chegou a ser considerada persona non grata nas Laranjeiras. Mas veio abril. Não se passaram 30 dias da desagradável revelação e não é que um rato despenca diante dos jornalistas, nas Laranjeiras? Sem graça, funcionários do Fluminense mataram o roedor. Tudo foi fotografado, um escândalo nacional. O Departamento de Controle de Ratos da Comlurb foram chamados para tentar extinguir definitivamente os ratos.

Os roedores viraram símbolo do atraso do clube. Rico em estrelas e paupérrimo em infraestrutura. Um caso total de incompetência, falta de visão. O ótimo trabalho na base é fruto de esforço humano do que condições em Xerém. O desperdício da parceria com a Unimed lembra o que se passou com o Palmeiras e a Parmalat. Com a diferença que pelo menos houve a construção de um CT digno na Barra Funda. Com direito a campos e fisioterapia. No entanto, a promessa de um hotel para servir de concentração virou vento. O Fluminense ganhou uma área da Prefeitura do Rio para construir o seu Centro de Treinamento em abril de 2013. A previsão é que fique pronto apenas em 2016. Os custos passaram de R$ 13 milhões para inacreditáveis R$ 45 milhões. A Unimed nunca se preocupou com infraestrutura. E nem o clube nestes 15 anos. Expunha suas estrelas ao péssimo gramado das Laranjeiras. E seus vestiários com ratos. Um descaso inaceitável. Não havia reclamação dos atletas porque seus salários e direitos de imagem eram pagos religiosamente. Mas a recessão chegou. O PIB do Brasil em 2014 cresceu 0,1%. A Unimed Rio foi afetada, como todas as empresas do país. Seus 17 milhões de usuários da cooperativa se tornaram mais exigentes. A troca de plano de saúde se tornou mais fácil. Dentro desse cenário não havia mais cabimento para Celso Barros continuar a aplicar dinheiro comprando jogadores para seu clube de coração. Há pelo menos três anos, o cenário se desenhava. Mas os dirigentes do Fluminense continuavam fingindo que nada se alteraria. Negando a realidade, exatamente como os dirigentes palmeirenses nos últimos dias da Parmalat. Celso Barros já teve forte oposição na sua reeleição como presidente da Unimed. Assumiu o cargo com a promessa de colocar fim da parceria com seu amado Fluminense. Aos poucos. Ele tentou de todas as maneiras diminuir o investimento. Mas teve de submeter. E fechar de vez os cofres. Dinheiro da Unimed não entrará mais no Fluminense. O logotipo sairá da camisa tricolor em 2015. Para pagar os direitos de imagem de vários jogadores, principalmente Fred, 20 meses, não há outra saída. A empresa venderá seus atletas.

Só para ter uma ideia concreta de quanto são importantes os direitos de imagem na vida financeira de cada atleta. Fred recebe 23% dos seus R$ 900 mil na carteira de trabalho. 77% são de direito de imagem. A proporção é muito parecida para Conca, Walter, Rafael Sóbis, Bruno, Wagner, Jean e Cícero. Avisada por Celso que a Unimed sairia há meses, a direção do Fluminense conseguiu acertar parceria com o grupo Viton 44, que bancava o Botafogo. O dinheiro será muito menos do que estava acostumado. Apenas R$ 16 milhões até o final de 2015, a metade que o convênio médico pagou em 2014. Embora o presidente Peter Siemsen tente disfarçar, o saldo do fim da parceria está na sala de troféus. Títulos importantíssimos, autoestima resgatada. Mas os mais de R$ 300 milhões que circularam nas Laranjeiras não foram aproveitados para modernizar o clube. Buscar a construção de um novo estádio ou, no mínimo, remodelar as Laranjeiras. Não houve visão ou competência para erguer um Centro de Treinamento para seus jogadores. A Unimed,com suas ambulâncias de dinheiro, passou. O que restou foi só atraso. Um time recheado de estrelas que o clube não tem condições de bancar. E que serão fatalmente vendidos. Sobrou também o acanhado estádio construído em 1919 que sofreu várias reformas improvisadas. A sensação de medo, de seguir o caminho do triste Botafogo domina o clube, que no passado foi o digno representante da elite carioca. Mas o tempo passou e só seus dirigentes não viram. Dizem que Celso Barros chorou muito com o fim forçado da parceria. Mas todos no Rio sabem. A diretoria do Fluminense, sim, ela tem motivos de sobra para derramar lágrimas. A farra acabou. Os funcionários da Comlurb que fiquem atentos. Ainda podem ter muito trabalho nas Laranjeiras, daqui para a frente...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 11 Dec 2014 11:56:08

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