quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A reunião que tirou PVC da ESPN. Felipão e Parreira queriam se salvar, ter o apoio para a péssima Seleção na Copa de 2014. Tudo que conseguiram foi levar Paulo Vinicius Coelho para a Fox Sports...

A reunião que tirou PVC da ESPN. Felipão e Parreira queriam se salvar, ter o apoio para a péssima Seleção na Copa de 2014. Tudo que conseguiram foi levar Paulo Vinicius Coelho para a Fox Sports...




A saída de Paulo Vinicius Coelho da ESPN se transformou no assunto da semana. Roubou a atenção dos jornalistas esportivos do país. Trocas de treinadores, vendas de atletas, alta de Pelé do hospital. Tudo ficou secundário. O comentarista virou manchete, objeto de discussões. Foi impossível ontem conversar com um jornalista e não tocar no nome de PVC. Não sou seu amigo. Só o encontro em coberturas importantes. Geralmente em partidas da Seleção Brasileira. Nos cumprimentamos, brincamos sobre o futebol paulista e só. Nesta Copa, porém, por coincidência, acabamos tomando café juntos. E ele me fez uma revelação. Quando tinha seus 18 anos, telefonava para o Jornal da Tarde. Pedia para falar comigo. Queria trabalhar no jornal que era referência na cobertura de futebol no Brasil. Eu recebi algumas ligações durante os 23 anos que trabalhei no JT de estudantes de jornalismo. O pedido foi sempre o mesmo. Queriam colaborar, ter uma chance. Eu nunca tive o perfil de chefe. Já recusei algumas propostas. Sou repórter, gosto de correr atrás da notícia. Ou contextualizá-la, encaixá-la no universo dos bastidores do futebol. Tornar o fato mais compreensível para o leitor. Explicar motivos, interesses e reflexos. Fiquei chocado com a revelação de PVC. Não tinha a menor ideia que ele tinha sido uma das pessoas que telefonaram me procurando. Ele me falou que fui gentil e disse que contratar não era minha função. Dei o nome do meu chefe e desejei boa sorte. Realmente era o que eu fazia com todos que me pediam emprego. Não tinha autonomia. Nem por isso destratava ninguém. Até porque eu também precisei de uma chance no passado. Os anos correram muito rápido. Mas a ascensão de PVC no jornalismo esportivo foi ainda mais veloz. Estudioso, dono de uma memória inacreditável, com excelente visão tática e firme nas suas convicções, com ótimas fontes. Os 14 anos de entradas diárias ao vivo na ESPN espantaram sua timidez. Estava moldado um dos mais importantes comentaristas do país. Amigos em comuns garantem que PVC tem também um grande caráter. Amigo fiel até a morte. Por isso fiquei surpreso quando soube que deixaria a sua amada ESPN. Ele já havia sido sondado para trabalhar em emissoras abertas. As que detém o direito de transmitir futebol no Brasil: Globo e Bandeirantes. As conversas não foram em frente. Ele estava muito feliz onde trabalhava. Pelo menos era o que ouvia e percebia. Principalmente durante a Copa. Até um dia. 30 de junho. Foi quando Carlos Parreira teve uma "brilhante" ideia. Repetiria o que fez no Mundial em 2006. Ele e o então assessor de imprensa da Seleção, Rodrigo Paiva, convenceriam Felipão. Era chegada a hora de uma reunião entre a Comissão Técnica da Seleção e os principais veículos esportivos do País. A Seleção estava sendo massacrada por jornalistas brasileiros. O time havia conseguido eliminar o Chile nas quartas-de-final. Na chorosa decisão por pênaltis, no Mineirão. O argentino Jorge Sampaoli havia dado uma lição tática em Felipão. Seu time acertou um chute no travessão aos 14 minutos do segundo tempo da prorrogação. O Brasil esteve a um triz de ser eliminado nas quartas-de-final.

A partida foi em um sábado. Foi um massacre de justas cobranças. A falta de variação tática, a ridícula preparação psicológica, a dependência de Neymar, a fragilidade da marcação. Felipão e seus jogadores perceberam que as críticas estavam influenciando até o comportamento dos torcedores. A paciência estava acabando. A decepção era perceptível. A promessa de título ficava cada vez mais difícil de acreditar. A imprensa percebia o abismo entre o time de Scolari e Alemanha, Holanda e Argentina. Parreira e Rodrigo convenceram Felipão. Iriam fazer uma reunião entre os veículos mais influentes do país. Na visão dos três, mostrando as dificuldades da Seleção, ganhariam o apoio de um seleto grupo. E eles influenciariam os demais. Decidiram por seis nomes. Apostavam que os demais 694 jornalistas que estavam diariamente na Granja Comary iriam a reboque. Como se não tivessem opinião, neurônios e não percebessem o que estava acontecendo. Apenas copiavam o que os "papas da comunicação" diziam. De maneira tosca, os seis homens de confiança de Felipão e penetração nacional foram convocados. Seu assessor de imprensa pessoal, que trabalhava com o crachá da Sportv, empresa da Globo, os levou ao local de reunião. Jornalistas foram arrastados pelo braço aos gritos de "vem, vem, vem" do assessor de Scolari. Postura amadora que só chamou a atenção dos centenas que estavam na concentração brasileira. Logo a grande maioria da imprensa na Comary ficou sabendo. Fernandinho Fernandes da TV Bandeirantes, Oswaldo Paschoal da Fox e Rádio Globo, Juca Kfouri do UOL, Folha, ESPN e CBN, Luis Antonio Prósperi, do jornal Estado de São Paulo, Carlos Eduardo Mansur do Globo e PVC da ESPN e Folha. O grupo ficou conversando em pé, atrás de onde aconteciam as entrevistas coletivas. Protegidos por seguranças e cortinas. Do outro lado, nós. Os jornalistas excluídos só esperando. Uma ópera bufa arquitetada por Parreira e pela assessoria da CBF.

O que deveria ser segredo, durou dez minutos. As queixas e os pedidos de Felipão, Parreira e Murtosa para que fossem melhor compreendidos estavam dez minutos depois em sites. Inclusive a sutil acusação que a Fifa não queria o Brasil hexa. Revelaram que Neymar e Thiago Silva estavam abalados emocionalmente. E que, se pudessem, não teriam levado um jogador que estava no grupo. Os jornalistas deram palpites sobre o que a Seleção deveria melhorar taticamente. E da postura dos atletas diante do país. A reunião foi um tiro de espingarda na cabeça de Felipão e Parreira. Os dois descobriram que os 694 jornalistas excluídos ficaram ainda mais ácidos, mais exigentes em relação ao time. E que nada do que os sexteto falou em favor da Seleção teve importância. Pelo contrário. Ficaram marcados injustamente como "amigos de Felipão". Injustamente porque foram convocados. E todo jornalista que recebesse o mesmo convite aceitaria. Como recusar conversar abertamente com o treinador do Brasil durante uma Copa? O mais incomodado desse encontro foi PVC. Muito gentil, ele foi cercado por jornalistas que não participaram do encontro. Tentou de todas as maneiras explicar o porquê de ter aceito conversar com Felipão, já que ele era um dos críticos mais ferrenhos da Seleção. A ESPN como um todo alertava como o Brasil estava mal. Era o veículo que mais questionava o trabalho de Felipão. De repente, PVC virou, sem perceber, o escudo de Felipão na emissora. Continuou crítico, mas procurava explicar o outro lado que conheceu de forma privilegiada. Os embates entre ele e seus companheiros, ao vivo, ficaram vários tons acima do normal. Juca, mais vivido, não comprou essa briga. Até que vieram os fracassos diante da Alemanha, os 7 a 1 e derrota por 3 a 0 contra a Holanda. Encontrei PVC depois dos 7 a 1 que o Brasil tomou no Mineirão. O cumprimentei e lamentei o resultado. Parecia que o havia provocado. Ele passou dez minutos justificando o que havia acontecido. Criticava a postura brasileira, mas estava abalado. Agia como se o mundo o considerasse também membro da Comissão Técnica. O tranquilizei, brinquei. E recebi de volta um abraço de agradecimento. E, agitado, falou com outros jornalistas sobre a goleada. Hoje percebo o quanto ele estava desgastado emocionalmente. O quanto fez mal para PVC ter participado daquela reunião.

Tudo ficou pior quando, no dia 10 de julho, após os massacres da Alemanha e da Holanda, ele assume a informação que a tendência da CBF era manter Felipão e Parreira. Deu a notícia direto da Granja Comary, com o microfone da ESPN. O que provocou mais debates acalorados na emissora. Apesar de ser mero mensageiro, para muitos, era como se PVC defendesse a manutenção. Apesar de a "tendência não se confirmar", houve mais desgaste do comentarista. Sei que a proposta financeira da Fox Sports é ótima. Como também foram da Globo e Bandeirantes. Dinheiro não é o caso. Acredito que também não foi a questão da ESPN perder a Champions League para o Esporte Interativo. Nem a mudança de filosofia do canal, com mais debates e menos programas elaborados, gravados. Como o Loucos Por Futebol, que ele adorava fazer. Percebi que PVC mudou profundamente após a Copa. Depois daquela bendita reunião. Embora sei que adore seus companheiros de 14 anos de emissora, nunca mais o senti à vontade nos debates. Acompanho muito de perto a ESPN há anos. Sei que não houve um boicote ou algo parecido. Sua independência jornalística nunca foi questionada. O respeito dos colegas não se alterou. A reação partia dele. Depois do Mundial nunca mais foi o mesmo. O desconforto, a acidez com que defendia seus pontos de vista aumentaram. A ponto de espantar quem é fã dos muitos debates que emissora faz. Os sorrisos de PVC se tornaram raros. Parreira, Rodrigo Paiva, Scolari, Murtosa tinham uma meta. Se salvar, buscar apoio na reunião com seus jornalistas de confiança. Não poderiam imaginar que tudo o que conseguiriam de prático seria um divórcio inimaginável. Fazer PVC trocar a ESPN pela Fox Sports. É como se Ademir da Guia, no auge, fosse para o Corinthians. O mais irônico nessa situação: só houve uma pessoa na ESPN que não perdoou a participação de PVC na reunião com Felipão. O próprio Paulo Vinicius Coelho. Era ele mesmo que se questionava. Se não se deixou iludir, dar crédito, mesmo que por poucas horas, à falida Seleção de Parreira e Scolari. Mais ninguém. Ele continua cultuado na emissora que frequentou por 14 anos. Fica a lição. Não existe almoço de graça para jornalista. Muito menos convite de técnico de Seleção para conversar durante uma Copa do Mundo. PVC aprendeu da pior maneira. A ESPN perdeu seu melhor representante. Não ontem. Ele deixou a emissora na tarde do dia 30 de junho. Quando foi arrastado para a conversa que mudaria sua brilhante carreira. Volte a ser feliz, PVC...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 10 Dec 2014 11:32:32

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